Petrobrás, ativo eleitoral transferido à oposição

O episódio da compra da refinaria de Pasadena é apenas o mais vistoso a integrar uma série gradual de ações do governo desastrosas para a Petrobrás, transferindo à oposição um ativo eleitoral que, em algum momento, pareceu consolidado para o PT.

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Por João Bosco Rabello
Atualização:

Além da refinaria do Texas há empreendimentos diversos que, na melhor hipótese, configuram um mau negócio. A refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco,  de empreendimento símbolo da política externa bolivariana de Lula, consolidou-se como um calote da Venezuela de U$ 18 bilhões.

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Outra, no Japão, na casa dos U$ 100 milhões, também é de validade comercial suspeita, sem falar em projetos da empresa por estados brasileiros que foram anunciados e dos quais não se tem notícia. O aval da presidente Dilma Rousseff está em todos esses empreendimentos, assim como o de Lula, presidente na ocasião de suas aprovações.

Das páginas de economia a Petrobrás passou para as de polícia, com a denúncia de suborno de funcionários por empresa da Holanda e, agora, com a operação lava-jato, da Polícia Federal, que encontra o ex-diretor Paulo Roberto Costa como elo da empresa com quadrilha de lavagem de dinheiro - ele que estava à frente da operação de Pasadena, e que no comando da área de abastecimento da Petrobrás, frequentou a mesa de reuniões do presidente da República, então, Lula.

A crise de energia, cada vez mais difícil ao governo dissimular, tem origem em gestos populistas que representaram uma intervenção do Planalto na Petrobrás, impondo a governos estaduais prejuízo com a redução da conta de luz, que resulta hoje num rombo de R$ 20 bilhões a ser repassado ao consumidor em forma de aumento de tarifa e de impostos.

Como se vê não é pouco para desfazer a imagem de boa gestora que o marketing oficial tenta colar na presidente Dilma Rousseff, ao arrepio dos fatos. O governo tenta fazer da Petrobrás uma bandeira eleitoral desde o governo Lula, mas chega ao décimo ano com as ações da empresa valendo metade em relação ao início da gestão petista.

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Uma CPI que investigaria operações comerciais conduzidas pela área internacional da Petrobrás, tem potencial para abalar seriamente o governo Dilma e comprometer objetivamente seu projeto de reeleição.

Sem CPI, mas com investigação por uma comissão parlamentar já aprovada, a profundidade da apuração será menor, reduzindo a extensão de sua consequência jurídica, mas mantendo o alto desgaste político.

Base do discurso de ataque ao PSDB em eleições passadas, usada como símbolo da privatização tucana, por sua vez traduzida como desapropriação de patrimônio nacional, a empresa hoje está em processo de sucateamento, o que inverte sua serventia eleitoral.

Para a oposição é preciso sustentar a cruzada pela CPI, ainda que acredite na sua improbabilidade. O recuo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que chegou a manifestar-se contra sua instalação, deve ter por base o convencimento a que foi levado de que ao governo cabe o desgaste de impedir a investigação.

Não é hora de boas maneiras, deve ter sido dito ao ex-presidente pelos seus pares, pois o cenário da Petrobrás indica  mais que uma coleção de erros, um conjunto de ações suspeitas que comprometem sua diretoria e conselheiros, no mínimo no plano da competência.

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Portanto, o governo é que terá de se empenhar para conter politicamente as investigações, cuja legitimidade parece plenamente atestada pelas circunstâncias.

Afinal, foi a própria presidente Dilma quem atribuiu à diretoria da Petrobrás a omissão - deliberada ou não - que a induziu a aprovar no passado o que no presente tornou-se  suspeito.

 

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