Governos já têm estruturas formadas por onde gravitam interesses políticos e econômicos, o que torna para aliados mais difícil a mudança do que a continuidade. Para mexer nas zonas de conforto já assentadas, é preciso que a mudança seja ditada de dentro para fora.
É o que ocorre com o governo Dilma Rousseff. Para que o arco de alianças políticas e econômicas que herdou do antecessor, tomasse a iniciativa do distanciamento foi preciso que muitos equívocos se somassem ao mesmo tempo.
Dilma errou na condução política da aliança, ao ignorar as pressões na fase dos índices estonteantes de aprovação popular e, mais ainda, quando se viu obrigada a exercer a política cotidiana, perdendo-se no varejo dos interesses menores dos partidos.
Errou ao mexer no que vinha dando certo na economia, exatamente os fundamentos do plano de estabilização vitorioso do governo Fernando Henrique Cardoso, que Lula não revogou, preferindo apropriar-se de seus resultados positivos - e, mesmo, da autoria de mecanismos sociais como o bolsa-família.
No campo político, sua ostensiva indiferença com os atores partidários incluiu o PT, cuja queixa principal hoje é a mesma dos demais aliados, como o PMDB: a presidente não ouve e centraliza a gestão.
Dilma cuidou de preservar os espaços ocupados pelo PT na administração pública, mantendo sua hegemonia sobre o PMDB, mas não governou ouvindo seu partido. E nem qualquer outro, acrescente-se.
Não teve assim, nem o PT e nem o PMDB ao seu lado quando o desgaste de seu governo veio para ficar, mantendo-a num patamar de risco eleitoral que já não permite que desfrute da condição de favorita na eleição de outubro.
Do PT passou a sofrer pressão que resultou na absorção de nomes impostos pelo partido para os cargos mais íntimos do gabinete presidencial e de propostas autoritárias antes não levadas a sério por falta de aval presidencial.
São os casos, entre outros, da adesão ao controle da mídia e do recente decreto que cria os conselhos populares. De outro lado, recebe do PMDB o troco pela priorização do PT na aliança, na forma de liberação das estruturas estaduais para o apoio a seus adversários, do que o Rio é o exemplo mais escancarado.
Não resgatou também a companhia do empresariado, desconfiado e distanciado, nessa ordem de causa e efeito. Nesse contexto, o índice de intenção de voto da presidente chega ao seu patamar mais baixo (33%), parelho ao índice de aprovação de governo (34%).
O senador Aécio Neves ocupa o espaço de candidato da oposição, crescendo no vácuo aberto pela principal adversária. Pior (para o governo): os números dizem respeito a um período de superexposição da presidente em contraste com a busca de visibilidade pelos oponentes.
Ou seja, Dilma chega ao seu patamar mais baixo depois de uma exposição jamais vista de uma presidente em campanha enquanto Aécio Neves e Eduardo Campos permanecem desconhecidos por uma parte do eleitorado.
Mas o desempenho do ex-governador de Pernambuco não consolida a chamada terceira via, enquanto o crescimento de Aécio Neves sugere que a polarização PT/PSDB se repetirá nessa campanha.
A expectativa de Campos com a votação de Marina Silva em 2010, para alavancar a candidatura do PSB não se confirma na prática, o que começa a produzir reflexões no PSB e na Rede.