A começar pelo pacto de responsabilidade fiscal, cujos efeitos para a economia só serão objetivos se o forem igualmente os pontos que determinarão sua abrangência e sinceridade. Dito como foi, tem efeito zero, até porque foi o governo federal que mais flertou com a flexibilização do princípio, assim como o fez com a inflação, além de negligenciar o alerta sobre a necessidade de reduzir a desconfiança do mercado.
O governo parece também alheio à ineficiência da gestão como causa a impulsionar o movimento. É o que sugere a proposta de mais médicos estrangeiros dissociada da melhoria das condições dos hospitais, reclamação maior e recorrente dos médicos brasileiros e dos pacientes. Ou a transformação da corrupção em crime hediondo.
Esta última é mais do mesmo: à falta de punição responde-se com mais legislação. O próprio partido do governo recusa-se a aceitar julgamento do Supremo Tribunal Federal que condenou alguns de seus dirigentes e faz do Congresso Nacional trincheira para desmoralizar a sentença. Adiantaria, nesse caso, aumentar as penas?
Ao caos do transporte responde-se com promessa de mais recursos e desonerações no setor (é bom lembrar que os manifestantes querem a desoneração do passageiro). Mais dinheiro sempre ajuda, mas não chegará ao necessário se não houver um pacto pelo fim das relações promíscuas entre partidos políticos e o setor dos transportes - este, tradicional financiador de campanhas, especialmente pela via do caixa-dois, o que lhe garante a condição de fornecedor blindado a cobranças das administrações que ajudou a eleger.
Por ora, é compreensível que a pauta seja de princípios, mas terá que haver, com alguma rapidez, detalhamento, fases de desenvolvimento e cronologia. Abertos ao acompanhamento.
É hora, afinal, de um padrão privado de gestão, que não se alcança com a base do partido do governo empenhada no populismo da meia entrada cultural, um socialismo com dinheiro privado, enquanto negligencia os serviços devidos ao contribuinte.