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Governo do DF continua refém de Durval Barbosa

Algo vai muito mal quando uma instituição militar sustenta publicamente que promoveu um soldado delinqüente obrigada pela Lei.

Por João Bosco Rabello
Atualização:

Foi o que fez a Polícia Militar do Distrito Federal com o soldado João Dias, promovido a cabo, depois de protagonizar escândalos que, por si só, já justificariam sua expulsão da tropa. Mas ele foi além: réu por desvio de dinheiro público, chantageou ministro, governador e secretários de governo, cuja sede física chegou a invadir e depredar, agredindo ainda servidores.

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Já fora preso depois de um "barraco" em bar junto com um doleiro e impôs sua libertação aos policiais. Tem sua participação em um homicídio investigada.

 O soldado Dias tinha mais de uma ONG - e, pelo menos uma delas deve ao erário algo em torno de R$ 3 milhões. Desviados de programas oficiais de inclusão social.

É de se perguntar como um soldado da PM, cuja atividade esportiva conhecida é o caratê, tem uma ONG, consegue que ela receba milhões do governo, não presta contas, escandaliza a instituição e não se enquadra em nenhuma das rigorosas regras disciplinares da corporação militar.

O distinto público, que paga impostos, esperava sua prisão. Não veio, mas passou a esperar a expulsão da Polícia Militar. Não veio, mas jamais se poderia supor que o cinismo chegaria à sua promoção.

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Dias é um espécime mal acabado de uma espécie que floresceu em Brasília nas duas últimas décadas e que tem no delegado Durval Barbosa o símbolo mais expressivo do gênero: o policial que detém segredos das falcatruas dos governantes.

Dias e Durval não são os únicos, como se depreende da declaração do ex-diretor-geral da Polícia Civil, Onofre de Moraes, que previu o fim político do governador Agnelo Queiroz (PT-DF) num camburão da Polícia Federal.

Onofre caiu porque teve seu depoimento gravado por um parceiro de Barbosa, um jornalista conhecido como "Sombra", que tem um back up de todo o acervo de fitas do amigo.

Ambos viabilizaram para José Roberto Arruda o cenário de camburão que Onofre vaticina agora para o sucessor, Agnelo Queiroz. À base de fitas de vídeo e informações exclusivas que comprovaram seu envolvimento com a corrupção na cidade.

O problema é que Durval tem tal acervo porque estava dentro da máfia que continua dando as cartas na Capital da República. E que agora está dando uma pequena mostra de seu potencial para impor ao governador atual o mesmo destino do ex.

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 Como Arruda, o atual governador venceu as eleições com apoio de Durval, a quem prometeu o que não podia - um cargo a alguém que está sob o regime da delação premiada.

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Seria a paga pelo privilégio de assistir à avant-première dos filmes que Durval tinha do festival de propinas no DF. Agnelo calou, deu uma desculpa furada para seu silêncio à época e ficou tudo por isso mesmo.

Agora, sabe-se que acertara com o delegado mafioso um esquema para "detonar" Arruda e se eleger com facilidade. Mas Agnelo também é refém do esquema: sua eleição teve o apoio do mesmo arco de alianças que elegeu Arruda.

 Este, costumava justificar suas relações com a máfia de Durval dizendo que ganhara a eleição "por dentro", ou seja, fazendo acordos com Roriz e a "grande família" que o ex-governador estabeleceu em Brasília.

Agnelo também é refém de Durval.

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