O governo mais atrapalhou do que ajudou o ministro Antonio Palocci - e, portanto, a si próprio - com as declarações produzidas no Planalto e no Conselho de Ética nas últimas horas.
Tanto o Secretário-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, quanto o presidente do Conselho, Sepúlveda Pertence, se esquivaram do assunto.
O primeiro simplesmente considerou-o "encerrado", assim, por decreto verbal mesmo. O segundo disse que o tema, anterior à posse do ministro, pertence ao passado.
Um adversário talvez não concebesse fórmula melhor de manter o ministro na agenda negativa em que entrou desde a notícia de sua evolução patrimonial.
Que pode perfeitamente ter origem não só legal, como também legítima, mas que precisa ser esclarecida por uma razão simples: Palocci é um homem público.
Sua atividade de consultoria durante o mandato parlamentar tem o limite do tráfico de influência, ou seja, é lícita desde que não tenha se valido de informações privilegiadas de governo.
O que no seu caso torna-se mais importante pela sua ostensiva condição de negociador político informal durante os oito anos de mandato do ex-presidente Lula.
Há uma visível torcida no âmbito político para que o ministro ofereça uma explicação satisfatória para suas contas - o que se materializa na pouca disposição da Oposição de ir além da reação burocrática ao fato.
Nesse sentido, a oposição está sendo mais útil a Palocci que o governo, que preferiu adotar a tese dos conselhos de ética do Congresso, segundo os quais, delitos anteriores ao mandato prescrevem, mesmo que em meses ou dias.