Criminalidade em Brasília ameaça reeleição de Agnelo

Nos primeiros vinte dias do ano, 1447 crimes foram registrados no Plano Piloto de Brasília, numa estatística que revela a perda do controle do governo do Distrito Federal sobre as forças policiais encarregadas da segurança pública na Capital do país.

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Por João Bosco Rabello
Atualização:

Os números são muito mais alarmantes quando examinados de 2012 para cá, quando entrou em vigor a operação tartaruga coordenada pelas associações policiais.

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Segundo os registros da Secretaria de Segurança Pública, nas últimas 48 horas foram 12 homicídios, que se somam a 73 outros que já tinham levado o pânico à população.

Desses, cinco latrocínios, sem contar invasões de residências, com reféns, num arrastão que não distinguiu cidadãos anônimos de autoridades.

No final de semana, a casa do embaixador Jório Dauster, no Lago Sul, foi invadida e feitos reféns ele e a família. Semanas antes, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, teve a sua roubada por ladrões que acessaram a residência pelo Lago Paranoá.

Antes, ainda, o brigadeiro da Aeronáutica, João Carlos Franco de Souza, fora assassinado na entrada da garagem do prédio onde morava na Asa Sul.

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O ataque a residências e autoridades que a população sabem mais protegidas que o cidadão anônimo, contribui para ampliar o clima de medo e insegurança. Se não escapam à onda de criminalidade nem os que têm, por imposição institucional, a blindagem do Estado, quem estará a salvo?

É o que gera a conclusão de que o governo perdeu o controle sobre as tropas, que insistem na paralisação por melhores salários, em afronta a determinação judicial em sentido contrário.

Existe uma Associação dos Praças Policiais e Bombeiros Militares do DF (Aspra), cujos textos em seu site e declarações formais, desafiam o Ministério Público. "A Aspra não vai marcar nenhuma reunião com a Dra Eunice Carvalhido, para de joelhos pedir perdão à Procuradora geral de Justiça do DF. Até porque o chefe de cada promotor é a Constituição e não Carvalhido", diz uma das mensagens.

Em outro texto, a associação, que comanda a operação tartaruga decretada ilegal pelo MP, contesta a indenização dada a trabalhadores das empresas de ônibus encampadas pelo Estado e sugere que ao invés de punir os policiais em greve, investigue a doação de "dinheiro do erário para empresários milionários da iniciativa privada, no paraíso da impunidade aos mais ricos, que é o Brasil".

Vê-se aí a conotação política do movimento que vem promovendo sucessivas paralisações desde 2012, em operações cujo êxito é medido pelo crescimento do crime. É uma estatística que se alimenta da violência e da morte: tanto quanto maior o índice da criminalidade, melhor para o movimento.

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Os policiais militares exigem isonomia com os civis, porém por mais que pudessem ter razão no mérito, o que ganham não justifica a omissão do dever constitucional de proteger a população.

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Um cabo tem salário de R$ 4,1 mil e o oficial mais graduado, R$ 15 mil.   Continuam entre os mais bem pagos do país, num ranking que lideraram isolados por décadas.

Seus pares na Polícia Civil recebem, no piso, R$ 8 mil, com delegados recebendo em média R$ 20 mil. Diante desses salários, não há argumento que respalde qualquer reivindicação que extrapole a mesa de negociações.

Do ponto de vista do governo, é de se perguntar porque a insatisfação da tropa provoca movimentos de paralisação desde março de 2012, mês em que foram registradas 88 mortes e inseriu Brasília entre os lugares mais violentos do país.

Em outubro do ano passado, a Polícia Militar deflagrou a operação tartaruga outra vez, mas a Secretaria de Segurança só a reconheceu quando o brigadeiro João Carlos de Souza foi assassinado, em 4 de janeiro deste ano.

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O governador Agnelo Queiroz possivelmente tenha errado ao recusar o apoio da Força Nacional, o que neutralizaria o poder de chantagem da polícia militar e traria de volta à vida real uma tropa que pede , nada mais, nada menos, que 66% de aumento - o que nenhum servidor no Brasil, e no mundo, obterá de uma vez.

A recusa também não privilegiou o interesse da população, que se vê desprotegida, mas o da posição no duelo governo versus grevistas. Dobrar os policiais, esgotadas as negociações, é missão do Judiciário, a quem cabe as providências diante da desobediência a determinação judicial. Ao governador cabe garantir a segurança pública.

Possivelmente o erro de Agnelo custe também o pouco de aprovação que ainda lhe restava para tentar a reeleição, agora aparentemente descartada.

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