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CPI serve ao PT, mas não ofusca mensalão

Ainda que os representantes da oposição assegurem que há tempo suficiente para que a CPI do Cachoeira produza efeitos além da região Centro-Oeste, por ora os trabalhos seguem fielmente o roteiro original concebido pelo PT ao decidir instalá-la.

Por João Bosco Rabello
Atualização:

Dado como temerária como estratégia para ofuscar o mensalão e produzir réus na oposição para equilibrar a munição nos palanques municipais, a estratégia, até aqui, serviu ao propósito do ex-presidente Lula. O prejuízo maior é da oposição, na figura do governador de Goiás, Marconi Perillo. Os demais são réus menores.

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Peixe graúdo da base aliada só tem chance de cair na rede se a comissão avançar na investigação da empreiteira Delta. E isso não dependerá do depoimento de seu ex-presidente, o empresário Fernando Cavendish, mas única e exclusivamente da vontade política de investigar o que já está em mãos da CPI.

Não falta material, pois se trata de uma CPI que, ao contrário das que a antecederam, tem como ponto de partida uma investigação concluída pela Polícia Federal. Sobram explicações para a lentidão no exame desses documentos, entre as quais, a de que é uma CPI com volumes imensos de documentos complexos e que não possui sub-relatores o que limita a análise dos documentos à ação individual de parlamentares sem experiência com esse tipo de processo.

 São apenas justificativas. Na verdade, o que se percebe é a falta de ânimo da oposição de estimular uma investigação mais ampla que acabará por penalizar também seus partidos, se considerado que a Delta tem ramificações em pelo menos 20 estados.

Nesse contexto, apesar do prazo dos trabalhos se estender até novembro, não há sinal objetivo de interesse político em esmiuçar o esquema às vésperas de uma eleição municipal. A permanecer essa apatia, o PT terá cumprido seu objetivo de mostrar que a prática fisiológica e a corrupção são comuns a todos os partidos.

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O que, de resto, é do conhecimento geral.

A estratégia, porém, não se mostrou suficiente para ofuscar o julgamento do mensalão, como almejava o ex-presidente Lula, até porque este tem o efeito colateral de inverter a equação e sepultar o mito de vestal cultivado pacientemente pelo PT quando oposição e colocá-lo na vala comum, como mais uma legenda orientada pelos próprios interesses fisiológicos, envolvida com a corrupção, a exemplo dos demais partidos, alvos de suas críticas e denúncias por décadas.

Uma versão partidária do senador Demóstenes Torres.

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