Por ser apenas uma ponta dos muitos novelos que unem as quadrilhas instaladas nos poderes Executivo e Legislativo, é de se esperar que outras operações ampliem o combate à corrupção no organismo governamental. E, ao que se sabe, algumas delas estão em curso.
No momento em que sofre pressão pública pela liberação de emendas o governo consegue, graças à ação policial, desnudar para o contribuinte o uso dessas emendas, indicando que elas fazem a festa de muitos ladrões do erário. O que cria justa expectativa de conseqüências penais para os infratores.
Isto posto, é importante condenar os aplausos aos excessos policiais que surgiram após a operação como uma espécie de clamor por vingança através da execração pública dos presos sob custódia do Estado.
Não é sadia para a democracia a autonomia policial para fazer suas próprias regras, como defendeu um líder da categoria ao justificar a fotografia dos presos na operação como coerentes com a "doutrina policial".
"Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa", é um chavão popular aplicável ao caso. A PF foi exemplar na investigação, na estratégia e no bote aos responsáveis pelos desvios. A sociedade se sentirá ainda mais correspondida em seus anseios por justiça se cumprido o rito da condenação com a conseqüente punição aos culpados.
Ao contrário, a memória dos excessos sacia o sentimento efêmero de vingança que se transformará em frustração sedo episódio não resultar condenações e punições efetivas. Não é preciso ser jurista para saber que a vingança não tem registro em qualquer código jurídico.
Por isso, foi salutar a condenação pública da presidente Dilma Rousseff aos exageros da PF, ao mesmo tempo em que reafirmava sua determinação de ir buscar a corrupção onde ela estiver.
O gene da violência faz parte da estrutura policial. Numa ditadura, gera o que o país viveu - e que a própria presidente sofreu -, nos tempos de repressão: delegacias policiais transformadas em ilhas de tortura.
Em tempos democráticos, desafia as regras legais e contamina ações legítimas e importantes abrindo pretexto a contestações legais e a críticas aonde elas não deveriam encontrar espaço. Concorrendo com o principal e mais estratégico, que é o combate à corrupção.
E, mais grave, estabelecendo um princípio pelo qual a ação legal deve ser acompanhada de uma dose de estímulo ao clamor público por justiçamentos.
O combate à corrupção e a submissão às regras jurídicas não são excludentes e, mais: devem andar juntos.