Candidatos tentam dar mais nitidez às diferenças

Os últimos dias indicaram um novo desenho da pré-campanha presidencial com os candidatos estabelecendo as diferenças com as quais pretendem se distinguir junto ao eleitor. Ainda que não em conteúdo, na forma já é possível perceber uma linha a definir melhor as visões de cada um.

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Por João Bosco Rabello
Atualização:

Antes que a presidente Dilma Rousseff rompesse, por conveniência eleitoral, o longo jejum de conversas com a imprensa, o ex-governador Eduardo Campos começou a marcar território em relação ao senador Aécio Neves, preocupado com o crescimento do rival.

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Campos tenta referenciar o eleitorado desiludido com o PT como um candidato à esquerda de Aécio, em discurso que, aos poucos, consolida o fim de um ciclo de amabilidades, embora na dose necessária para não romper o pacto de conveniência que deve mantê-los aliados da causa comum de derrotar o PT.

O movimento já mostra que a possibilidade de um segundo turno entre ambos, que excluiria a presidente Dilma na primeira fase da disputa, não é mais descartável. Possível, mas não provável, essa perspectiva explica a tentativa de Campos de se afirmar como o herdeiro do eleitorado que apostou um dia no PT.

Serve também para a eventual disputa entre o ex-governador de Pernambuco e a presidente Dilma no segundo turno, em que se apresentaria como a voz dissidente de um governo que se declara à esquerda, mas que teria se desviado do ideário que o sustentou no poder por mais de uma década.

É correto, pois, o roteiro de Campos. Por ele, o PSB deixou a base de apoio do governo do PT por discordar do comportamento fisiológico que subtraiu ao partido o patrimônio político construído sob o compromisso com a ética e fez do social instrumento assistencialista para um projeto hegemônico de poder.

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É igualmente acertada a iniciativa de distinguir-se do candidato do PSDB, pois se a unanimidade, por tese geral aceita, é burra, na política é desastrosa. O debate de ideias é a essência da política e deve orientar seu exercício rotineiro.

É preciso que Campos se diferencie de Aécio no plano das ideias e da concepção de governo, mesmo para dar efetivo sentido prático ao esforço de ambos para retirar do PT o que tem sido uma arma eficiente nas disputas dos últimos anos, que é centrar a campanha na comparação com os governos do PSDB.

Ainda que se tenham passado 11 anos de gestão petista, o partido insiste nessa estratégia que, inexplicavelmente, ainda surte algum efeito. Com a candidatura do PSB, abriu-se a oportunidade de encerrar esse ciclo e mostrar que o exercício político no País pode ser oxigenado.

Aécio, por seu turno, cumpre um roteiro eficiente que priorizou na primeira etapa a costura interna no PSDB e, em seguida, as articulações regionais, que agora combina com a visibilidade pessoal do candidato, operação em que está à frente de seu concorrente.

O discurso reativo de Campos ao crescimento do senador tucano nas pesquisas, maior que o seu, é natural e desenvolvido em tom que concilia a conveniência de afirmar seu perfil político com a de manter a disputa em clima civilizado, preservando o espaço para uma aliança futura - seja num segundo turno ou no governo de um dos dois.

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Esse jogo resgata a política na sua essência, sublinhando o projeto hegemônico do PT, que faz das campanhas praças de guerra, impulsionado pelo espírito eliminativo que orienta as ações de um partido com o ranço próprio dos governos autoritários, onde a cooptação substitui o debate e impõe a linha de pensamento exclusivo.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

A presidente Dilma saiu da toca para reafirmar a convicção na linha de seu governo, que se caracteriza pela centralização executiva e pelo intervencionismo econômico. Uma receita que a levou a se indispor de forma aparentemente irreversível com o mercado e os investidores e à queda nas pesquisas que tem entre suas causas uma gestão varejista.

Tudo somado, a campanha ganha o esboço de um desenho que deverá prevalecer, com maior intensidade, e que não exclui o comportamento de uma militância agressiva que materializa nas ruas a versão da guerra digital patrocinada com recursos públicos por um governo que a alimenta marginalmente.

Dessa espécie de agentes da palavra de ordem do ex-presidente Lula - "ir prá cima" - é exemplo mais recente o "blogueiro" Rodrigo Grassi, ex-funcionário legislativo da deputada petista Érica Kokai (DF), que tirou do sério o senador tucano Aloysio Nunes Ferreira (SP) ao acusá-lo de corrupção no cartel dos trens paulistas.

Grassi já ofendera, sem o mesmo êxito obtido com Ferreira, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, à saída de um restaurante, o que lhe custou o emprego na Câmara, onde sua presença, uma vez demitido, precisa ser explicada, sobretudo pelo ângulo de pretenso jornalista no exercício de sua atividade profissional.

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Na Casa, como se sabe, os veículos de imprensa atuam sob o regime de credenciamento, que impõe rigor no cadastramento de órgãos e profissionais.

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