Campanha da JBS e troca na agricultura irritam ruralistas

Dois episódios voltam a acirrar os ânimos da bancada ruralista no Congresso contra o governo: a nomeação do advogado Rodrigo Figueiredo para a Secretaria de Defesa Agropecuária (DAS), do Ministério da Agricultura, e o uso do financiamento do BNDES ao grupo JBS-Friboi, no valor de R$ 7 bilhões, para uma estratégia, segundo a Confederação Nacional da Agricultura de consolidação do monopólio da empresa no mercado.

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Por João Bosco Rabello
Atualização:

Em ambas, representantes do setor do agronegócio enxergam as digitais do PMDB, em parceria com o governo federal, pressionado pela ocupação de cargos do segundo escalão pelo partido. O Planalto fez chegar ao setor a informação de que a troca era incontornável politicamente, o que reforçou a desconfiança do meio sobre uma possível intervenção do ex-presidente Lula em favor do grupo Friboi, por sua vez apoiado pelo PMDB.

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Rodrigo Figueiredo, apadrinhado pela bancada do PMDB de Mato Grosso do Sul, substituiu Ênio Marques na Secretaria de Defesa Agropecuária (DAS), considerada pelo setor "o coração" do ministério, e nenhuma gestão junto ao governo foi suficiente para evitar a troca. A operação produziu uma crítica contundente da senadora Kátia Abreu (PSD-TO), presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), da tribuna do Senado, na última sexta-feira.

A substituição foi considerada - e admitida pelo Planalto - como política, dado o reconhecimento técnico de Ênio para a função, ao contrário do sucessor, segundo representantes do setor. Integrantes da bancada estão convictos de que a nomeação foi interesse da JBS, que tem um dos sócios, José Batista Junior, candidato ao governo de Goiás. Junior, trocou o PSB pelo PMDB, por pressão do Planalto, depois que o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, lançou sua candidatura à presidência.

O ingresso do empresário na política fez com que a JBS passasse a ser vista como uma financiadora de campanhas, aumentando a influência de Junior no partido ao qual se filou recentemente. Os adversários passaram, então, a considerar os recursos do BNDES, que tiraram o conglomerado de uma difícil situação econômica, como a fonte indireta dos recursos que chegarem aos candidatos do partido.

Especialmente porque o aporte financeiro, na sua origem, foi justificado como uma forma de a JBS assumir a construtora Delta, decretada inidônea após a CPI do Cachoeira e, portanto, sem acesso a licitações públicas. Como sua carteira era basicamente governos, temeu-se pela sua sobrevivência e por sugestão do ex-presidente Lula, a operação foi montada, chegou a ser oficialmente anunciada, mas acabou não acontecendo pela repercussão negativa. Mas o dinheiro entrou.

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Na outra ponta, a CNA identifica na JBS-Friboi um comportamento predatório com o objetivo de monopolizar o mercado. Sustenta que a campanha promocional da marca a distingue como o único frigorífico confiável por ter o selo de inspeção federal quando, na verdade, outros 209 no país o possuem e têm seus produtos nas prateleiras dos supermercados. Além disso, extra-oficialmente, pecuaristas acusam a empresa de comprar pequenos e médios frigoríficos para fechá-los e eliminar a concorrência.

"O frigorífico JBS, em detrimento de centenas de pequenos e médios concorrentes, que passam por dificuldades econômicas, obteve do BNDES mais de R$ 7 bilhões, a juros módicos, que lhe permitem custear tal campanha e trabalhar pelo monopólio do setor",  escreveu a senadora Kátia Abreu em sua coluna semanal no jornal Folha de S.Paulo"..

Os ruralistas voltaram ao mau humor com o governo depois da substituição de Ênio, sobretudo porque identificaram a participação do ex-ministro da Agricultura, Wagner Rossi, na JBS-Friboi, para a qual estaria trabalhando. Fiel ao vice-presidente Michel Temer, ele estaria por trás das movimentações políticas da empresa, influindo de forma indireta no governo que já deixou, sob acusações de corrupção que o tornaram insustentável no cargo.

Teria origem também no PMDB, associado a outros segmentos do agronegócio incomodados com a influência que a senadora passou a ter no governo Dilma, o movimento dissidente com o objetivo de lançar uma candidatura contra sua reeleição na  CNA. A iniciativa é do deputado, Valdir Colato (PMDB-SC), para quem a proximidade com o governo neutralizou a ação crítica da parlamentar em favor do setor.

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