Articulação nacional pela segurança deveria incluir a educação

É provável que esteja entre as preocupações do governo a questão da violência nas escolas públicas como sério obstáculo às iniciativas de melhoria da qualidade do ensino.

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Por João Bosco Rabello
Atualização:

Mas não se extrai essa conclusão das abordagens de autoridades da área.

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Embora anuncie medidas positivas, como o ensino médio em tempo integral, estendendo- o ao ensino técnico profissionalizante, o ministro da Educação Fernando Haddad, deve uma manifestação mais objetiva em relação ao ensino fundamental do que a registrada pelo repórter Demétrio Weber, de O Globo, em entrevista recente.

"...sobretudo o ensino fundamental reagiu às políticas do ministério da Educação positivamente. Assimilou a cultura da qualidade, do acompanhamento e do cumprimento de metas".

É possível que a declaração esteja num contexto pouco claro para o leitor da entrevista, mas fica a sensação de que a medição de resultados do MEC está fortemente baseada nas estatísticas.

E estatísticas, como sabemos, servem tanto para respaldar ações efetivas de qualidade quanto para produzir ilusão. Principalmente, a de que tudo vai bem.

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O ensino fundamental nas escolas públicas sofre de um mal cujo antídoto deve preceder as demais iniciativas destinadas à melhoria de qualidade e, como diz Haddad, à renovação do ambiente escolar.

Trata-se da violência nas escolas públicas, especialmente as da periferia (mas não só). Para que alguma coisa funcione nesse campo, é preciso abrir a porta da escola, hoje obstruída pelas drogas e pelo tráfico, para a educação.

Aqui sim, as estatísticas constituem uma boa bússola. Para ficar só em Brasília, Capital do país, pesquisas registram que 70% de alunos e professores já testemunharam algum tipo de violência externa à escola ou dela já foram vítimas.

Tanto professores quanto alunos consideram que obviamente esse quadro reduz o aproveitamento escolar e se confessam desestimulados para comparecer à escola

As organizações comprometidas com a redução da violência nas escolas, em sua maioria, associam a possibilidade de êxito dos programas ao fim da ação do tráfico nas regiões onde elas estão localizadas.

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"A droga patrocina a violência nas escolas, impondo medo aos alunos, professores e pais, sendo muito comum notícias de acertos de contas entre traficantes dentro dos corredores das escolas da periferia", atesta Denis Mizne, do Instituto Sou da Paz.

É verdade que o governo federal não está alheio a esse problema, mas os programas em curso com o fim específico de minorar a situação são insuficientes.

Talvez seja necessário menos gabinete e estatísticas em favor de iniciativas sinérgicas entre os ministérios da Educação e Justiça, considerando que o ensino hoje é também uma questão de segurança.

O ministro José Eduardo Cardozo, da Justiça, usou a parceria vitoriosa entre o Estado do Rio de Janeiro e o governo federal, nas operações contra o tráfico nas favelas cariocas, como referência de continuidade entre os governos Lula e Dilma. Assegurou que estenderá a experiência da parceria a outras unidades da federação.

O MEC poderia fazer o mesmo, buscando acordos com governadores e prefeitos, com a intermediação do ministério da Justiça, para um efetivo policiamento das escolas.

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O Brasil tem abandonado gradativamente o fator inibidor como eficiente instrumento de redução da violência, o que é um erro estratégico, a se considerar os índices de criminalidade urbana.

Sob a justificativa de que não é possível à polícia estar em todos os lugares, corre-se o risco de não tê-la em nenhum.

Como já ocorre no trânsito cujo conceito de segurança ficou restrito aos radares eletrônicos - poderosas máquinas arrecadadoras que varreram a educação e a civilidade das ruas.

Grande parcela dos cidadãos, mesmo entre os de maior urbanidade, não percebem a rua como espaço coletivo, mas individual, onde cada um é dono de seu nariz.

Como o tráfico também não respeita o espaço público da escola.A educação já merece uma articulação nacional, também por uma questão de segurança.

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