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2018 em 2014

Não se pode assegurar como definitiva a circunstância de crise atravessada pelo governo Dilma Rousseff , assim como a continuidade do índice de 30% de aprovação da presidente,  insuficiente  para assegurar-lhe a reeleição. Feita a ressalva, o cenário presente indica que a disputa de 2014 ganhou a característica de eleição aberta, antes prevista para 2018, quando Dilma, concluído seu segundo mandato, não mais poderia concorrer.

Por João Bosco Rabello
Atualização:

Com índices altos de aprovação, a reeleição da presidente era considerada indiscutível. No máximo, admitia-se um eventual candidato no segundo turno, mesmo assim por um acidente de percurso.  O PT trabalhava com a reeleição em primeiro turno e, agora, sequer sabe quem apoiará Dilma, conforme seu presidente, Rui Falcão.

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Foi ainda no período da Dilma popular que o governador Eduardo Campos, de Pernambuco, lançou sua candidatura pelo PSB, aparentemente desafiando a lógica política, projetando a renúncia à condição de aliado, num momento em que tal status conferia vantagens indiscutíveis.

O fez pela determinação estratégica de criar um "recall" para 2018, ou seja, fazer-se conhecido nacionalmente agora. O importante não era vencer - e isso sequer era dado como possível -, mas carimbar o passaporte para a eleição em que novos nomes poderão concorrer, quebrando a polaridade PT-PSDB. Nesse contexto, a dupla condição de aliado e concorrente não incomodava o Planalto e não ameaçava a aliança.

A reforçar a máxima de que a política é como uma nuvem, ora está num lado, ora noutro, o chamado imponderável alterou o curso dos acontecimentos, criando um enredo inesperado a partir do que não parecia provável - o governo flertar com a inflação - ao que se seguiu o tsunami das ruas. Até porque não passava pelo raciocínio político que o futebol não tivesse mais o efeito do ópio e o padrão Fifa da Copa despertasse a população para os péssimos serviços oferecidos pelo governo.

A queda súbita de Dilma nas pesquisas, embalada pela reação errática do governo às cobranças, trouxe 2018 para 2014,  o que pode permanecer ou não, conforme a capacidade de reação do governo, que dependerá, por sua vez, da reversão dos índices negativos da economia, da retomada de um ciclo de investimentos e, sobretudo, de eficiência de gestão.

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Não é pouco, considerando as barreiras colocadas pelo próprio governo, que o economista José Alexandre Scheinkmann, em entrevista à Folha de S.Paulo ontem, resume com propriedade como a combinação de ideologia, intervencionismo e incompetência (aqui se referindo à gestão).

Nesse contexto, o cenário para 2014 reúne, além de Dilma, três candidatos com potencial de vitória, todos beneficiários da fragilidade do governo, agravada pela campanha antecipada pela própria presidente. A eleição está aberta no cenário presente e uma reversão de expectativas, apesar de possível, não parece provável a partir dos movimentos do governo.

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