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Crônicas sobre política municipal. Cultura brasileira local sob olhar provocativo | Colaboradores: Eder Brito, Camila Tuchlinski, Marcos Silveira e Patricia Tavares.

Roubando merenda no Guarujá

Nesta semana, os vereadores da Câmara Municipal do Guarujá, no litoral de São Paulo, começaram a ouvir testemunhas daquele que ficou conhecido como 'Escândalo da Merenda'. A prefeita Maria Antonieta de Brito, do PMDB, corre o risco de perder o mandato.

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Por Camila Tuchlinski
Atualização:

Há um ano, a ex-presidente do Conselho de Alimentação Escolar (CAE), Elisabeth Barbosa, apontou uma série de irregularidades no contrato de fornecimento de merenda escolar para as unidades de ensino do município, como alimentos de qualidade inferior ou casos de super, mega faturamento de produtos. Um exemplo encontrado pelos vereadores foi um frasco de adoçante líquido (marca Stevita), que em um mercado qualquer custa R$ 2,10, foi comprado pela prefeitura por R$ 24,76! A carne que deveria ser oferecida para as crianças na escola seria contrafilé, mas a encontrada na merenda foi o inferior coxão mole. E uma significativa porcentagem de frutas (entre 30% e 50%) que deveriam seguir para as escolas 'se perdeu' pelo caminho. Não se sabe se as frutas foram desviadas ou simplesmente entregues em menor quantidade das que constam no contrato. No fim do texto, há uma lista da diferença de preços encontrada pelos vereadores para compor a cesta de merenda para os alunos de escolas públicas do Guarujá.

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Na época das denúncias, a Coordenação da Merenda do Município negou tudo que foi apresentado e ainda afirmou que a merenda servida atendia acima do que era exigido pela resolução do Plano Nacional de Alimentação Escolar. Será que trata-se de um 'engano'?

Pergunto isso porque, no começo deste ano, a prefeita Maria Antonieta de Brito contratou 'por engano' o marido para o cargo de ouvidor da Controladoria do Município, com um salário de R$ 6.500! Como ouvidor, seria responsável por receber denúncias de munícipes contra a amada, perdão, a chefe da administração da cidade. Antes de se casarem, há cinco meses, Flávio Lopes da Silva era guarda municipal concursado. Como a notícia pegou muito mal na cidade após a publicação no Diário Oficial, a prefeita decidiu revogar o ato.

Ah, será mesmo que tudo o que foi apurado pelos vereadores no roubo da merenda em Guarujá foi engano? Eis a lista de produtos e a diferença entre os preços. Tire suas conclusões:

LISTA DE PRODUTOS SUPERFATURADOS:

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1) O valor do preço da farinha de trigo especial (marca Rosa Branca): R$ 4,50 (o quilo), sendo que o mesmo produto, no mercado, custa R$ 2,10 (o quilo). Ou seja, é 109% menor.

2) O valor do preço o café moído e torrado (marca Pelé): R$ 18,12 (o quilo), sendo que o mesmo produto, no mercado, custa R$ 9,96 (o quilo). Ou seja, é 81,9% menor.

3) O valor do preço do trigo para kibe (marca PQ): R$ 11,88 (o quilo), sendo que o mesmo produto, no mercado, custa R$ 5,00 (o quilo). Ou seja, é 137,6% menor.

4) O valor do preço do adocante dietético líquido (marca Stevita): R$ 24,76 (frasco de 100 ml), sendo que o mesmo produto, no mercado, custa R$ 2,10 (o frasco de 100 ml). Ou seja, quase 1.000% menor.

5) O valor do preço do orégano (pacote 100g): R$ 6,93 (o quilo), sendo que o mesmo produto, no mercado, custa R$ 2,10 o pacote de 100g). Ou seja, é 230% menor.

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6) O valor do preço do frango em cubos: R$ 16,59 (o quilo), sendo que o mesmo produto, no mercado, custa R$ 6,99 (o quilo). Ou seja, é 137% menor.

7) Sucrilhos (da marca Nutrifoods): R$ 18,00 (o quilo), sendo que o mesmo produto, no mercado, custa R$ 8,60 (o quilo). Ou seja, é 109,3% menor.

8) Cereal infantil (da Multicereais): R$ 11,70 (o quilo), sendo que o mesmo produto, no mercado, custa R$ 4,30 (o quilo). Ou seja, é 109% menor.

9) Biscoito salgado tipo cream cracker (da Duchen): R$ 11,00 (o quilo), sendo que o mesmo produto, no mercado, custa R$ 5,50 (o quilo). Ou seja, é 100% menor.

10) Suco de caju (Serigy): R$ 11,00 (o litro), sendo que o mesmo produto, no mercado, custa R$ 4,58 (o litro). Ou seja, é 140% menor.

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*Todos os preços tomados como base de comparação, pela Câmara, foram adquiridos em mercados da Cidade e as notas fiscais constam no relatório. Todos os dados referem-se ao ano de 2014.

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