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Crônicas sobre política municipal. Cultura brasileira local sob olhar provocativo | Colaboradores: Eder Brito, Camila Tuchlinski, Marcos Silveira e Patricia Tavares.

O "puxadinho" da prefeitura

Faz algumas semanas que posto aqui nesse espaço histórias envolvendo legislativos municipais pelo Brasil. Histórias que parecem mostrar para nós o quanto devemos prestar mais atenção em nossas Câmaras Municipais, sobretudo agora que falta pouco para a eleição de cerca de 57mil vereadores e que o Congresso Nacional tem protagonizado de forma tão marcante o país.

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Por Humberto Dantas
Atualização:

 

No último feriado de 9 de Julho fui para as Serras Catarinenses. Era uma visita que eu desejava realizar faz anos. Primeiro porque amo o frio, mas principalmente porque sabia das belezas locais e dos vinhos que por lá andam produzindo. Toda a expectativa foi absolutamente superada. O local tem um potencial turístico imenso, com forte tendência a entrar para o mapa nacional de grandes polos. Só espero que sejam capazes de planejar melhor que outros locais montanhosos que se tornaram roteiros enfadonhos. Mas deixe isso para lá. Não estou num blog de Turismo, mas sim de Política. E é de São Joaquim, um marco das Serras de Santa Catarina, que trago a história que relatarei. Não como algo digno de orgulho, mas sim como o símbolo de um fenômeno que deve se repetir muito nesse país. Aqui apenas um ícone.

 

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E tudo se dará a partir de uma imagem. Atenção para a fotografia. Veja que no primeiro plano temos a Prefeitura e no fundo a Câmara de Vereadores. No jardim um monumento que simboliza aspectos da cidade. Não me aterei a ele. Mas sim ao fato de que para chegarmos à Câmara temos que utilizar a porta da Prefeitura. Percebe? Aqui está um símbolo da cultura política brasileira, expresso na arquitetura. A sensação de que por vezes os legislativos municipais - o federal tem tentado mudar isso - são verdadeiros apêndices do Executivo se torna real. Trata-se, efetivamente, de um puxadinho. Se John Locke, um dos pais da tripartição dos poderes visse isso, certamente teria que afirmar que os princípios que têm o Legislativo como o mais essencial dos poderes estaria ignorado. Uma pena.

 

 Foto: Estadão

 

Descrente da situação dei a volta no quarteirão e percebi que na lateral do prédio havia uma entrada, bem mais discreta, que poderia simbolizar a autonomia do parlamento. Nada disso. Pelo menos não havia nenhum símbolo ou indicação e o morador consultado assim, na rua, me disse: "não! Aqui é carga e descarga. A Câmara entra lá por cima". Era a entrada da... da... da: prefeitura. Ao menos o que indica o prédio é isso: para se chegar ao Legislativo tenho que atravessar o Executivo. Nem pelo estacionamento é possível encontrar uma porta que vá direto para a casa do povo. Tudo bem que em São Joaquim temos temperaturas assustadoramente baixas e a neve costuma aparecer, mas na política não é sempre que dá pra ficar assim "juntinho". Aqui não há frio que justifique essa aproximação... E se ao ler um texto aparentemente banal você entendeu isso como algo absolutamente natural, bingo! Você foi mordido pelo bicho da "cultura política brasileira" onde o parlamento é mesmo apenas, e tão somente, uma arena de despacho da prefeitura. Por outro lado, se na sua cidade também é assim: bem vindo...

 

Imagem de arquivo pessoal.

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