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Crônicas sobre política municipal. Cultura brasileira local sob olhar provocativo | Colaboradores: Eder Brito, Camila Tuchlinski, Marcos Silveira e Patricia Tavares.

O vice de mil e uma utilidades

A eleição e o cargo de vice sempre me fizeram refletir muito. Por mais que a lei e os especialistas dizem que o vice é escolhido 'pelo povo', assim como o prefeito, governador e presidente, não me conformo com o fato de gostar do candidato e, mesmo sem concordar com o nome do vice, ter de votar na determinada chapa. Talvez um dia esse assunto seja discutido, talvez não. De toda forma, uma ouvinte da Rádio Estadão questionou nessa semana qual o papel do vice. Vamos falar da teoria e da prática, no âmbito municipal.

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Por Camila Tuchlinski
Atualização:

O vice-prefeito é o segundo em exercício no cargo do Executivo local. No Brasil, de acordo com o artigo 29 da Constituição Federal, esse representante é eleito através do voto direto, de quatro em quatro anos, juntamente com o prefeito e de modo vinculado (olha aí!). Ele é o substituto do prefeito não só em caso de morte, mas na ausência, licença ou outro impedimento do líder municipal. O vice pode e deve exercer função dentro da administração. Ele pode representar a cidade em missões especiais também, por exemplo.

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Na prática, a escolha do vice acontece, na maioria das vezes, como moeda de troca, união de forças entre partidos, etc, etc, etc. Na campanha, o candidato a vice pode ser um verdadeiro 'puxador de votos', ainda mais se for conhecido do grande público (vide fenômeno dos políticos que são celebridades).

No exemplo prático de hoje, vamos contar a história de Frank Aguiar, mais conhecido como o 'cãozinho dos teclados'. O cantor piauiense chegou em São Paulo em 1992 em busca de oportunidades no mundo artístico. Se instalou em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. Quinze anos depois, resolveu entrar para a política, tornando-se deputado federal. Mas, segundo a biografia oficial do músico, um 'clamor popular de São Bernardo' fez com que o 'cãozinho' aceitasse o desafio de disputar como vice à prefeitura da cidade. Frank Aguiar abandonou o posto de deputado para ocupar o cargo em São Bernardo. Dois anos depois, em 2014, lançou-se novamente candidato à deputado federal pelo PMDB. 'Agora eu pretendo voltar a Brasília porque já começa a terminar o mandato, não tenho mais direito a reeleição e vejo no Congresso uma grande oportunidade de continuar ajudando a cidade, a região do ABC, o estado que me acolheu', alegou o político. Olha a dança das cadeiras aí, gente!

Derrotado nas urnas, Frank atribuiu o mau desempenho à notícias que foram publicadas contra ele na véspera da eleição. Matérias veiculadas na imprensa apontam que o vice de Luiz Marinho (PT) seria investigado pela Polícia Civil por ter relações com um suspeito de tráfico internacional de drogas. Ele também teria intermediado a aquisição de uma concessionária na Paraíba de uma fabricante de automóveis sediada emSão Bernardo do Campo.

Como vice-prefeito em São Bernardo, pouco se sabe a respeito da atuação de Frank Aguiar. Porém, a agenda de shows pelo País sempre esteve lotada. Inclusive, o vice-prefeito arranjou tempo para gravar um CD novo por ano durante o mandato. Com um salário que recebia da Prefeitura de São Bernardo, R$ 12.086,82, o 'cãozinho dos teclados' é político, cantor e também apresentador de televisão. Todos os domingos, apresenta o programa "Frank Aguiar e Amigos", pela Rede TV. Frank Aguiar: o vice de mil e uma utilidades.

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