Faz alguns dias presenciei outro panelaço. Mas não tive a mesma sensação. Primeiro porque estava bem preocupado em assistir ao motivo da manifestação na TV. Segundo porque alguns trocaram a colher de pau pela língua ferina, pela ausência de um mínimo de educação: xingamentos em série. A ditadura acabou em 1985, as pessoas perderam o medo de falar, mas pena que falam de forma tão despreocupada com a educação. A presidente estava na TV, em mais um de seus pronunciamentos em cadeia nacional. Descrevia um país menos cor de rosa do que aquele pintado nas eleições, mas disparava contra os pessimistas - ou seriam realistas? "Contra" parte da imprensa Dilma foi clara, passou seu recado. Longo, por vezes repetitivo e um pouco atrapalhado. Mas passou. E parte da sociedade não gostou. Gritou, buzinou, piscou a luz, reclamou. Tá difícil, e ela sabe disso. Seu partido afirmou que a oposição "financiou" o evento. E qual seria o problema? Não foi o PMDB a "financiar" os atos de 1984? Nos anos 90 quantas passeatas reuniram pessoas pedindo o "Fora FHC", o "Fora FMI" e a "Moratória da dívida externa" "financiadas" pelo PT? Oposição é isso. Isso vale. De forma civilizada, por mais que as pautas pareçam radicais: vale.
Mas que não pensem nossos leitores que isso só ocorre em relação a questões federais. Coloque num buscador da web os termos "panelaço" e "prefeito" e verás o resultado. Em 2012, servidores públicos de Manoel Urbano, no Acre, mandaram ver nas panelas em frente à casa do prefeito Sebastião Mendes (PP), que havia sumido. Outro gesto desse tipo foi organizado contra Rodrigo Neves (PT), em Niterói, em setembro de 2013. A pauta era difusa, repleta de temáticas, e o encontro ocorreria na porta da casa do prefeito. O endereço, inclusive, constava em convocação postada no Facebook. Se fez sucesso não sei dizer, mas parece que rolou. E a despeito de tantos outros exemplos de uma prática que parece mais comum do que imaginamos, chamou a atenção o panelaço realizado no final do ano passado contra o prefeito de Tabuleiro do Norte, no Ceará. Por lá o motivo era o não pagamento dos salários dos professores da rede pública. Para se defender o prefeito reclamou, em matéria da TV Jaguar, de inúmeras questões relacionadas ao movimento, com o intuito de desqualifica-lo. Primeiro afirmou que tinha servidor de cidade vizinha, em situação muito mais grave, indo pra Tabuleiro pra tumultuar. Segundo afirmou que a cidade não era Casa de Nóca - entenda algo semelhante à Casa da Mãe Joana, de acordo com a Enciclopédia Nordeste - para que fosse feita a algazarra. Terceiro, para emendar, o mais genial: "o panelaço foi realizado por uma panelinha". Isso mesmo, nada muito diferente do que ministros disseram sobre o evento de março de 2015. Mas o prefeito teve essa sacada, dizendo que um pequeno grupo o hostilizava, e que tudo seria resolvido. Detalhe: interessante que Marcondes Moreira lembrou suas origens, dizendo que também era sindicalista, filiado ao PT. Curioso né? Ele não é o primeiro a governar criticando aquilo que fazia no passado. E nem será o último. Por sinal, o PT está longe de figurar sozinho no quesito incoerência, apesar de sua estrela brilhar intensa nesse ponto.