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Crônicas sobre política municipal. Cultura brasileira local sob olhar provocativo | Colaboradores: Eder Brito, Camila Tuchlinski, Marcos Silveira e Patricia Tavares.

O 7x 1 e o Capeta

Semana passada pipocou nas redes sociais a história do vereador campineiro que propôs o projeto de lei para a criação do "Dia do gol da Alemanha". A "homenagem" tem o objetivo de criar algum tipo de reflexão sobre o nosso combalido futebol. Antes, porém, sugiro que Jota Silva (PSB) reflita sobre a real função de um vereador. A imensa maioria deles, espalhada pelo Brasil, tem se notabilizado por criar datas comemorativas, distribuir títulos e honrarias, e batizar logradouros em processos que poderiam ser muito mais simples e participativos. Muito mais proveitoso do que melhorar nosso futebol seria aprimorar nossas práticas políticas. Destaque: para gestos dessa natureza os cidadãos de Campinas despendem R$ 8,5 mil apenas em salários para cada parlamentar. Na Alemanha vereadores de grandes cidades também costumam receber salários, mas nos pequenos municípios - o que não seria o caso de Campinas - existem dezenas de representantes (eu disse dezenas em pequenas cidades) que não são remunerados. O debate sobre remuneração é antigo, e minha preocupação fica muito aquém (ou além) disso. Até acho merecido remunerar, mas compreendo como assustadora a quantidade de regalias, vantagens, equipes, assessores, carros, telefones etc. etc. etc. Jota, que assumiu o posto depois de titulares de sua aliança terem sido empossados deputados eleitos no pleito de 2014, já brindou os cidadãos de sua cidade com pérolas do tipo: 'Semana da Música Sertaneja', 'Dia do Policial' e o 'Dia do Instrutor de Autoescola'. Logo mais vai sair distribuindo pela cidade um calendário com os dias que "ajudou a criar" numa espécie de "Ano JOTA". Pois é, esse é o famoso: Gol da Alemanha!

Por Humberto Dantas
Atualização:

 

E no portal do Estadão, em matéria que ilustra a pérola que colocou o vereador campineiro nas manchetes de um planeta inusitado e bizarro, nosso jornal trouxe mais exemplos do que temos no campo da legislação esdrúxula das cidades brasileiras. Ao todo foram seis exemplos arrolados, mas não preciso ir além do primeiro para chegar onde desejo: no assombroso mundo parlamentar. O vereador de Santa Bárbara d'Oeste-SP, Carlos Fontes (PSD), tem projeto que proíbe o implante de chips em seres humanos. Certamente a inspiração é ficcional. A leitura de livros futuristas na infância deve ter feito mal ao edil. Mas o assunto nada tem de novo. Portais religiosos na internet têm pregado, faz anos, que Dilma Rousseff autorizou a implantação desse tipo de equipamento nas pessoas. E que isso seria o atalho para a catástrofe infernal.

 

Assim, para proteger seus conterrâneos, na justificativa do projeto o vereador faz menção ao fim dos tempos, pois "um grupo de pessoas" buscaria monitorar e rastrear humanos com o objetivo de implantarem uma satânica "Nova Ordem Mundial". Dilma seria a mentora disso? Fico imaginando o susto do vereador com o diabólico "Tudo Sobre Todos", ou mesmo o medo "capetístico" com as redes sociais ou com o poder macabro e luciférico dos rastreadores dos celulares. E Dilma? Ah, a presidente deve ser o capeta em forma de gente. OPS! Concordo que isso vá além da imaginação do vereador. Muita gente tem essa sensação em relação ao governo de Rousseff. Mas o sentimento tem sentido figurado. Sua desaprovação supera 70 pontos percentuais, mas literalmente falando: a presidente é apenas mal avaliada, vista como pouco competente e o país passa por um péssimo momento. Mas o capeta, o diabo ou coisas desse tipo... isso seria demais, né?

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