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Crônicas sobre política municipal. Cultura brasileira local sob olhar provocativo | Colaboradores: Eder Brito, Camila Tuchlinski, Marcos Silveira e Patricia Tavares.

Nossos laços são pra valer

Durante a CPI da Máfia dos Fiscais um vereador foi acusado de controlar a cobrança de propina de empresários na Lapa, zona oeste de São Paulo. Seu nome era José Izar - por sinal, ainda é. Condenado em 2008 foi preso, e logo depois solto a mando do STF. Na campanha de 2012 estava ao lado de Celso Russomano pedindo voto. Durante as investigações da Câmara Municipal em 1999 se livrou da cassação ao lembrar que sua mão era gigante, e tinha nela 35 amigos (vereadores) que também cabiam dentro de seu coração. Era a senha para "eu sei demais, portanto me absolvam". E foi o que ocorreu. Laços assim só podiam tê-lo trazido de volta, dessa vez para a campanha do defensor dos consumidores.

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Por Redação
Atualização:

 

Entre seus colegas não estava a ex-vereadora Myriam Athiê. Eleita em 2000, num movimento de renovação da Câmara, ela já estava envolvida em escândalos em 2004. Assim, quando foi reeleita carregava acusações de beneficiar empresa de ônibus. A justiça a condenou pelo recebimento de R$ 40 mil de propina. Recursos sempre cabem, e ela foi pulando de partido em partido e minguando em votos: PMDB, PPS, PDT e DEM. Por este último teve 3.817 em 2012 e passou longe da suplência. Para completar sua história, em 2008 foi multada pela justiça eleitoral por distribuir panos de prato com seu nome e os dizeres "Nossos Laços São Para Valer". A representação, proposta pelo Ministério Público Eleitoral, foi revertida. Ela não pagou os mais de R$ 21 mil, mas também não foi reeleita. De 28 mil votos em 2004, caiu pra 18 mil.

 

Na mesma linha seguiria a atual vereadora Edir Sales? Eleitoralmente não. Pelo contrário: em 2008 foram 20 mil e uma suplência na Câmara, em 2012 34 mil e a vitória. Irmã do ex-vereador Eurípedes Sales, que como manda uma estranha tradição da capital ocupou, até a aposentadoria compulsória, o cargo de conselheiro do Tribunal de Contas do Município, ela começou sua carreira eleitoral em 1998. Eleita deputada estadual pelo PL acumulou suplências em novos pleitos até 2008, quando ainda mesclava tentativas estaduais e municipais no legislativo. Por sinal, seu sobrinho Ulisses segue o mesmo caminho: o filho de Eurípedes é suplente na Assembleia Legislativa. Mas então o que Edir teria em comum com Athiê? Eleita vereadora em 2012 pelo PSD, com forte votação em Sapopemba, possui o aparente gosto pela distribuição de brindes. Mas pode? Respostas devem ser dadas pela instável justiça eleitoral, que condena e absolve ao sabor de suas interpretações. O fato concreto é que pelos 20 anos da morte de Ayrton Senna o colégio particular João XXIII fez uma exposição em homenagem ao piloto. Aos visitantes sobraram canetas. De quem? De Edir, é claro! O artefato em verde e amarelo pode ser tanto uma lembrança do herói Senna quanto um voto de boa sorte ao país da Copa. Pode ser também uma forma de externar o patriotismo que tanto nos falta. No corpo do mimo está também o símbolo do Face Book e o endereço da vereadora, ao lado de seu nome bem grande. Quem pagou a caneta? Perceba o ponto de interrogação ao término da frase. Isso é só uma pergunta. Afirmação, nesse caso, apenas uma: nossa cultura política não muda nunca. Interessante notar que a política, como conteúdo neutro e suprapartidário, tem mais dificuldade de entrar nas escolas do que os gestos amistosos de nossos representantes. Uma pena.

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