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Crônicas sobre política municipal. Cultura brasileira local sob olhar provocativo | Colaboradores: Eder Brito, Camila Tuchlinski, Marcos Silveira e Patricia Tavares.

No reino das homenagens

Se por um lado crises parecem fadar determinados assuntos às trevas, por outro jogam luz sobre certas realidades. O Maranhão que agoniza com a questão dos presídios se transforma rapidamente em objeto de estudo de analistas e foco central do olhar de tantos cidadãos. Aqui não poderíamos ficar indiferentes. E uma curiosidade nos chama a atenção: por lá parece vigorar um desejo expressivo de prestar homenagens, sobretudo, a políticos vivos. Pelo menos cinco ex-mandatários do Executivo estadual dão nome à parte dos mais de 200 municípios dessa unidade federativa. Nesses casos, em especial, as cidades começam pelo nome de Governador.

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Por Redação
Atualização:

 

A onda começou, aparentemente, em 1959, quando Codó perdeu um pedaço de suas terras para assistir à inauguração de Governador Archer, que mandou no estado entre 1947 e 1951 e foi homenageado vivo. A segunda lembrança, também ofertada em vida, é de 1961. Nascia o município de Governador Eugênio Barros, que governou o estado duas vezes, a mais duradoura entre 1951 e 1956. Passado o ímpeto dos gracejos políticos, aparentemente pela limitação à criação de novas cidades do regime militar, na década de 90 assistimos três novos tributos. Em 1994, a exceção de caráter póstumo com semblante de demanda represada: Governador Newton Bello, falecido em 1976, esteve à frente do Maranhão entre 1961 e 1966, e não "cortou a fita" de "sua cidade". Ainda naquele ano nasceria Governador Edison Lobão, que comandou o estado de 1991 até 1994, é senador, deixou a cadeira parlamentar para seu filho suplente e foi ocupar o Ministério das Minas e Energia, um cargo capaz de ajudar a iluminar a cabeça daqueles que são contrários às orientações constitucionais sobre tais homenagens aos vivos. Por fim, a mais recente contribuição à lista de cidades-dirigentes veio em 1997 com a criação de Governador Luiz Rocha, eleito no alvorecer da democracia em 1982, esteve à frente do estado entre 1983 e 1987, falecendo em 2001.

 

Outros estados carregam lógicas semelhantes. Basta lembrar o quinteto presidencial paulista com Epitácio, Prudente, Alves, Bernardes e Venceslau. Mas o curioso no Maranhão, além da homenagem aos vivos, que pode não ser exclusividade local, é a origem de algumas dessas cidades. Governador Edison Lobão era parte de Imperatriz, Governador Archer foi Dom Pedro I, e Governador Eugênio Barros está na microrregião de Presidente Dutra. Dois nobres e um militar cedendo espaço para os poderosos da política local, sendo que Governador Newton Bello um dia se chamou Chapéu de Couro, em homenagem a um certo Raimundo, que como comerciante na década de 60 deixou o curioso povoado de Marajá para se instalar na cidade a ser criada em 1994 por um plebiscito durante o governo estadual de José Ribamar Fiquene. Fiquene? Sim, mas em se tratando de Maranhão você deve estar se perguntando: mas e o mais famoso José Ribamar, que governou o estado entre 1966 e 1971 como primeiro indicado do regime militar? Calma. Nesse caso o patamar é outro. Em pleno governo de sua filha no estado, a primeira mulher eleita para tal cargo no Brasil em 1994, surgiu uma nova cidade no Maranhão. Em 1997, homenageando o pai e então presidente do Senado, emergiu Presidente Sarney, hoje com 14 mil habitantes que, para sempre, serão chamados pelo gentílico de sarneyenses, associados ao presidente da República entre 1985 e 1990. Que tal deferência nunca lhes pareçam pedrinhas no sapato...

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