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Crônicas sobre política municipal. Cultura brasileira local sob olhar provocativo | Colaboradores: Eder Brito, Camila Tuchlinski, Marcos Silveira e Patricia Tavares.

No lugar de Deus

Quando Hugo Chávez se viu diante do câncer que o vitimou tratou logo de indicar seu sucessor. E seu dedo apontou na direção de Nicolás Maduro. Certamente muitos desejavam o posto, mas nesse tipo de cadeira não costuma caber mais de um par de glúteos. Assim, a partir do instante em que se sentou no novo posto o líder político da Venezuela precisava se legitimar perante o eleitorado. E tal gesto não foi feito, aparentemente, com ações políticas razoáveis no campo da administração pública. Maduro optou por afirmar, de maneira um tanto quanto questionável e fantasiosa, que via o ex-presidente Chávez em diversos locais. A imagem, ou o fantasma, estaria lhe assombrando ou protegendo? Provavelmente lhe ofertando guarida, pois Maduro procurou pelo que diz estar vendo. Não foram poucas as vezes, por exemplo, que afiançou ter passado a noite ao lado da tumba de seu líder maior. Ademais, sem demonstrar qualquer temor, o atual presidente venezuelano afirma que a imagem de Chávez apareceu nas montanhas, no túnel de uma obra do Metrô de Caracas e na forma de um passarinho para lhe dar conselhos. Sonhos foram vários, e depois de criar o ministério da Suprema Felicidade Social e de antecipar o Natal por meio de um decreto, parece bastante razoável supor que resta apenas a instauração de uma nova religião. O senhor supremo seria? Chávez, é claro.

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Por Redação
Atualização:

 

Nessa toada chegamos a uma cidade no interior do Paraná. Como assim? Simples, por lá um político morto também parece endeusado - se bem que em ritmo infinitamente menos intenso, apesar de igualmente preocupante. Reeleito em 2012 com aproximadamente 55% dos votos, o ex-prefeito faleceu em 2013 vítima de um câncer. O luto da cidade merece o mais absoluto respeito, mas tudo indica que Juca (PHS), o vice que ficou com a cadeira, deveria ter um pouco menos de apego a certas questões que parecem confundir o público e o privado em sua administração. Na decoração de Natal do ano passado, que ao contrário da Venezuela foi celebrado no dia 25 de dezembro, a grande surpresa. Otélio Baroni, o falecido prefeito, brilhava no centro da estrela decorativa de uma fonte instalada no meio da praça. Isso mesmo. Além de ser do PT, que tem uma grande e luminosa esfera de plasma como símbolo maior, o ex-prefeito ocupava o lugar que por vezes é reservado a Jesus Cristo ainda menino nas decorações natalinas. Diante da imagem, tudo indica que o título de sua coligação carregava algo capaz de apontar o intuito de seu grupo político: Transformação em Dobro. Assim, além de possíveis bens convertidos em políticas públicas, parece que o time buscou alterar a lógica da fé de parcelas dos cidadãos locais. Em Jaguariaíva o endeusamento político homenageou um relevante líder local sob a forma de um enfeite natalino. Se a população levasse a sério o nome do município, que representa o rio da onça brava poderia sobrar muito arranhão. Mas deixemos isso de lado, era Natal. Um Natal culturalmente brasileiro...

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