E se existe no futebol existe no cotidiano, reforçando meu argumento inicial. E se existe no cotidiano é óbvio que existirá na política. Existe até no jornalismo! E não falo da parcela pequena e enlameada da imprensa gaúcha que protegeu os gremistas racistas. Lembro o caso de Paulo Henrique Amorim, ex-Globo, que foi condenado à prisão (convertida em restrição de direitos, como sempre) e indenização a Heraldo Pereira, da Globo. A justiça, que concorda que ele ofendeu, deixou barato. Disse que chamar alguém de "negro de alma branca" e afirmar que essa pessoa não conseguiu demonstrar nada na vida, crescendo porque é "negro e tem origem humilde" caracterizou ofensa, injúria, e não racismo. Opa! Então há racismo até no Judiciário? Não precisa ter muita dúvida. Basta lembrar o que recentemente um magistrado disse sobre as religiões negras no Brasil. Isso encerra e ilustra de forma deprimente o assunto.
Mas e na política? Recentemente o prefeito de Cáceres, no Mato Grosso, foi chamado de racista pelo vereador Café no Bule. O motivo? Veto à lei de cotas em concursos públicos, algo seguido na capital Cuiabá, em São Paulo e em tantas outras cidades. Isso é racismo? Ao que tudo indica é debate político, pois o veto fala em igualdade, seguindo os parâmetros de uma discussão bastante polarizada. Mas em 2013, um ex-prefeito de Dourados, no Mato Grosso, foi condenado por racismo. Finalmente um exemplo de aplicação da lei! Em entrevista à rádio Grande FM em 2010, Ari Artuzi afirmou que a prefeitura estava fazendo trabalho "de gente branca, trabalho de gente". Lamentável! E pensar que esse mesmo senhor passaria 90 dias atrás das grades por corrupção e renunciaria ao cargo. Anos depois, pouco tempo após a condenação por racismo, morreu aos 50 anos. Não sem antes receber a notícia de que havia sido absolvido de parte das acusações de corrupção. E o racismo? Isso teve que explicar a Deus. E se esse Deus de fato existe, o ex-prefeito notará que no céu ou no inferno, se esses "locais" de fato existem, brancos e negros devem estar presentes, imagino eu, a despeito de suas cores, a despeito das cores de suas almas - outra infeliz idiotice que a justiça preferiu classificar como injúria.