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Crônicas sobre política municipal. Cultura brasileira local sob olhar provocativo | Colaboradores: Eder Brito, Camila Tuchlinski, Marcos Silveira e Patricia Tavares.

Listas Amarelas

Não sou um pesquisador do tema Financiamento de Campanhas Eleitorais. Os professores Wagner Pralon (EACH-USP) e Bruno Speck (Unicamp) são. Em 2012, fizeram juntos uma pesquisa que analisa a relação entre recursos efetivamente gastos durante uma campanha e o sucesso eleitoral.  O estudo foi publicado como parte da série Cadernos Adenauer, da Fundação Konrad Adenauer Brasil e pode ser conferido na íntegra nesse link (o capítulo de Pralon e Speck começa na página 109 do PDF).

Por Eder Brito
Atualização:

Obviamente simplifico aqui o esforço da pesquisa, mas a conclusão dos professores mostra, em um dos principais gráficos do trabalho que, quanto maior o tamanho das despesas financeiras (oficialmente declaradas, diga-se de passagem) de uma candidatura, maior o número de votos. É claro que a análise também esbarra em exceções (candidatos com pouco gasto e muitos votos e candidatos que gastam demais e terminam as eleições com pouquíssimos votos), mas, no geral, é possível concluir, olhando para as eleições municipais no Brasil em 2012, que, durante uma campanha, dinheiro importa demais.

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É por isso que, enquanto você lê esse texto, milhares de brasileiros, "pré-candidatos", futuros vereadores e prefeitos de nossos 5570 municípios, estão desesperados, em busca dos recursos que financiarão suas respectivas campanhas no segundo semestre desse ano. Eles não acreditam que é possível garantir a eleição valendo-se apenas de campanhas simples e de suas relações comunitárias mais próximas. Sabem que é preciso investir muito dinheiro em grandes campanhas de marketing e comunicação. O pior: fazem isso em clima de ansiedade, com o desafio de enfrentar uma campanha que durará menos tempo, onde o financiamento empresarial está "prejudicado" pela nova legislação eleitoral e por decisões do Supremo Tribunal Federal.

É também por isso que a tal lista da Odebrecht é importante. Entre várias outras coisas, ela também representa a história recente desse tipo de momento dos partidos políticos na história de nossas cidades. Não há possibilidade de se precipitar, concluindo que os nomes e os respectivos valores descritos na lista necessariamente representam doações feitas de forma "desrespeitosa" em relação à legislação eleitoral vigente. Também não é possível, ainda, concluir o contrário.

É possível e absolutamente recomendável, no entanto, deixar perguntas no ar. Quantos integrantes da lista foram candidatos a prefeituras brasileiras em 2012 e serão novamente em 2016? Quantos se saíram vitoriosos no passado e quantos despontam como favoritos nas pesquisas que tentam prever os resultados do outubro vindouro? Quantos foram eleitos ou tentaram se eleger a Câmara dos Deputados ou ao Senado em 2014? Se eleitos, é possível concluir que houve "vantagem", dada a existência dessa relação com grupos econômicos mais poderosos e a consequente possibilidade de mais gastos de campanha?

Deixo a mais importante por último: por que votamos mais em quem gasta mais? Essa pode ressoar até outubro. E para quem acha injusto já indicar sinal vermelho aos nomes da lista, que ao menos acione o sinal amarelo. Eu acionei.

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