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Crônicas sobre política municipal. Cultura brasileira local sob olhar provocativo | Colaboradores: Eder Brito, Camila Tuchlinski, Marcos Silveira e Patricia Tavares.

Homofobia global x Homofobia municipal

Na última semana, enquanto o mundo inteiro celebrava a aprovação do casamento igualitário nos Estados Unidos, o Brasil passava por um episódio bem menos moderno e humanitário. Com menos holofotes e cores, o vereador de Sorocaba-SP, José Crespo (DEM) utilizava seu perfil oficial no Facebook para chamar de "anormais" todos os homossexuais. O comentário foi uma resposta a uma internauta que integra movimentos de defesa dos direitos LGBTT.

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Por Eder Brito
Atualização:

Crespo fez aquele tipo de comentário típico do preconceituoso velado. Disse que os homossexuais "merecem ser respeitados e gozar de todos os direitos civis, mas são pessoas anormais (divergem dos padrões cristãos de normalidade) e, num país cristão como o Brasil, não devem ditar regras de comportamento social". É o teor invocado por gente que inicia frases como "nada contra, até tenho amigos que são...". Normalmente é bem difícil que terminem bem frases que começam assim ou como as do vereador.

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A polêmica surgiu em meio à votação do Plano Municipal de Educação (PME) de Sorocaba. O prazo final para aprovação dos PME's em todos os municípios brasileiros era o último dia 24 de junho. Muitas cidades enfrentaram embates entre seus respectivos Executivo e Legislativo municipais. Foram (e ainda estão sendo em alguns casos) brigas oriundas principalmente de vereadores cristãos, contrários às partes dos planos que viabilizam o ensino do que se denomina "ideologia de gênero". São conteúdos que abordam, entre outras coisas, a conscientização quanto à diversidade sexual, questão difícil de explicar para bancadas religiosas mais radicais.

Esse texto não é um registro contra o vereador José Crespo, a quem nem entrevistei e nem dei o direito de resposta. Também não é um texto contra os cristãos. A maioria deles não pode ser comparada à minoria que insiste em pregar o ódio e a diferença. Também não é um texto de defesa à internauta, cujo comentário e postura eu desconheço. É muito mais um texto para explicar porque foi tão importante celebrar a aprovação americana.

Não é simplesmente "pagar pau para gringo". Não é ignorar o fato de que nós também já tivemos uma evolução parecida. É apenas um grito de alívio. Alívio porque sabemos que, ao menos por um segundo, podemos comemorar e esquecer que ainda existem muitos vereadores brasileiros que não aprovaram certos parágrafos dos seus planos municipais de educação. É um leve e rápido sorriso em meio a tantos motivos que tivemos para não sorrir quando olhamos para atuação de representantes brasileiros que insistem em criar situações gratuitas de propagação do ódio.

Celebramos também o fato de que o Obama foi para a TV anunciar a boa-nova. É claro que ele quer que isso respingue positivamente na campanha da Hillary. Isto jamais será motivo para anular a celebração. Mas é que por aqui não vimos as grandes candidaturas à presidência saindo de cima do muro em relação a isso durante o ano passado. Teve até "erro de estagiário" corrigido em programa de governo. E enquanto a política nacional fica em cima do muro (salvo raríssimas exceções, infelizmente), o homossexual continua dentro do armário, com ou sem casamento. E quando sai, é agredido (física ou psicologicamente).

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No caso de Sorocaba, penso apenas que a homofobia municipal ainda é pior do que a homofobia global. Assim como a boa política local, ela, infelizmente, também está mais próxima dos cidadãos.

 

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