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Crônicas sobre política municipal. Cultura brasileira local sob olhar provocativo | Colaboradores: Eder Brito, Camila Tuchlinski, Marcos Silveira e Patricia Tavares.

Família, família...

Dia desses encontrei um CD antigo do Titãs com a música que dizia "família, família, janta junto todo dia, nunca perde essa mania". O alimento nem sempre é físico, as refeições nem sempre se dão à mesa. Por vezes famílias fazem outras muitas coisas juntas. A revista Galileo da Editora Globo publicou recentemente um trabalho em forma de infográfico que mostrava verdadeiras linhagens de famílias presentes na política brasileira, com base no Congresso Nacional. São clãs inteiros habitando a política, pedindo votos etc. Até aqui nada de criminoso, apenas de "pouco diversificado". Mas se cruzarmos essas informações com trabalhos importantes, feitos tanto pelo portal Donos da Mídia, quando pela Transparência Brasil, vamos descobrir que algumas dessas famílias, algumas, se mantêm no poder com base na posse, ilegal, mas não regulamentada, de meios de comunicações como concessões de rádio e televisão - nunca esqueça que a Constituição de 1988 proíbe a posse desse negócio por congressistas, mas o país prefere ignorar a lei.

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Por Camila Tuchlinski
Atualização:

 

Pois bem. A prática de famílias no poder é tão antiga que toda cidade tem ou teve suas célebres brigas entres grupos opostos que se revezavam no mando. Quem não se lembra da primeira parte do clássico livro "Incidente em Antares", de Érico Veríssimo?Estados inteiros por vezes ilustram essa tarefa. No Rio Grande do Norte, por exemplo, Alves e Maia eram, e ainda são, grupos tradicionais que mesclam guerra e paz em suas relações políticas. No Piauí chegamos a escrever aqui no blog sobre a família Landim. Exemplos não faltam. Em São Paulo, existe a família Leite, que consegue ter o pai na Câmara Municipal, um filho na Assembleia Legislativa e seu irmão na Câmara dos Deputados com forte votação na zona sul da capital. Mas o exemplo mais claro vem de um fragmento da cidade de São Paulo que recebeu o apelido de uma família graças ao sucesso eleitoral que os seus têm por lá. Trata-se da Tattolândia, ou oficialmente a região de Capela do Socorro - que agrega os bairros de Cidade Dutra, Grajaú e Socorro -, área muito carente e excluída, que ao lado de seus quase 600 mil habitantes têm nos irmãos Tatto seus representantes maiores.

 

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Só para termos uma ideia, dos dez filhos de Inês e Jácomo Tatto, nove eram filiados ao PT em algum instante. Provável que ainda sejam. Veja só. Deputado federal eleito em 2010, Jilmar Tatto hoje é o todo poderoso, e polêmico, secretário dos Transportes de Haddad. Arselino Tatto, em sétimo mandato, e Jair Tatto na primeira experiência, são vereadores na Câmara Municipal da capital. Esse segundo, pelo que consta, pediu voto na zona leste em 2012 e foi fazer companhia pro irmão, apesar de ter ocupado cargos de direção no partido e coordenado a legenda na Tattolândia. Na Assembleia Legislativa, pra completar as esferas de poder, Ênio Tatto está em terceiro mandato e busca a reeleição. E como Jilmar preferiu seguir na secretaria da capital, esse ano quem vai tentar a "vaga da família" na Câmara Federal, numa lógica bem distrital, é o acadêmico Nilto Tatto. Só aqui já foram cinco. E os outros quatro? Leonilde Tatto, por exemplo, administrou Regional (hoje subprefeitura) no governo de Erundina e disputou eleição parlamentar faz alguns anos. Os demais ficam como desafio para o leitor em pesquisas pela web. E assim segue a família, "vive junto todo dia, nunca perde essa mania", como cantaria os Titãs.

 

Detalhe: acho que ando ouvindo muito Titãs. Ou eles andam dizendo muita coisa pra mim. Semana passada ataquei de "você tem fome de quê".

 

Errata: o texto original continha um erro, pois Nilto é candidato a deputado federal e Ênio a estadual, como já modificado.

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