PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Crônicas sobre política municipal. Cultura brasileira local sob olhar provocativo | Colaboradores: Eder Brito, Camila Tuchlinski, Marcos Silveira e Patricia Tavares.

Escolas partidas x escolas repartidas

Meus dois sobrinhos estão matriculados na rede pública de ensino em Mauá, na Grande São Paulo. O Nicholas tem 09 anos e estuda numa escola estadual, ensino fundamental, gestão PSDB. A Larissa tem 03 anos e está na educação infantil, rede municipal, gestão PT. As duas escolas estão literalmente uma ao lado da outra, muro com muro. Faltou merenda na Estadual. As diretoras conversaram entre si e resolveram o problema, compartilhando o que tinham.

Por Eder Brito
Atualização:

 

A política mais bonita e verdadeira é essa, a do bem-comum, no diálogo que ocorreu entre as duas diretoras. Elas conseguiram olhar para as necessidades de suas próprias comunidades, ao invés de olharem diretamente para o Palácio dos Bandeirantes ou para Brasília. Isso é bom. Acredito no poder transformador da política local e sei que é nos municípios que as pessoas vivem e é neles que as coisas acontecem (saudades, Franco Montoro!). Obviamente, não estou sugerindo que o problema da merenda seja resolvido dessa maneira em todos os lugares. Só estou dizendo que não existem escolas do PT e escolas do PSDB. O que existem são escolas cheias de crianças e adolescentes, mas às vezes parece que nossos representantes estão discutindo qualquer outra coisa, exceto isso. Para as diretoras das duas escolas, com certeza é mais simples pensar nos beneficiários finais das políticas públicas.

PUBLICIDADE

O problema é que o diálogo e o compartilhamento do estoque, soluções encontradas pelas duas escolas, ficou restrito ao ano de 2015. Em 2016, com medo de ficar definitivamente sem merenda, a escola municipal teve de interromper o trato. Com isso, a escola estadual tem contado com a colaboração de sacolões, "vaquinhas" e outros estabelecimentos comerciais da região. Segundo minha irmã, "de vez em quando tem coisa boa", mas o Nicholas tem chegado com mais fome em casa. Fui obrigado a me perguntar sobre outras crianças que não encontram uma refeição preparada pela mãe quando voltam da escola. Ela não sabia responder, mas, infelizmente, não é difícil imaginar. Perdoem-me os mais céticos quanto ao tom apelativo-pessoal-emocional do raciocínio. Não quero tirar o lugar de quem faz esse tipo de jornalismo, mas aqui a escolha foi estratégica para enfatizar a realidade.

 

Sabemos de vários casos como esse de Mauá. Sabemos que a alimentação escolar é elemento estratégico para a plena implementação das políticas públicas de educação, seja no município, seja no Estado. Bradamos o tempo todo pela qualificação do ensino na escola pública, acreditando que a educação é o vetor que vai ajudar a orientar os rumos políticos e sociais do país no mais longo prazo. Temos comprovado pelo Judiciário um escândalo que envolve o uso indevido de recursos públicos destinados à merenda escolar. Sabemos que esse episódio ajudou a enfraquecer ainda mais a relação entre Municípios e Governo Estadual em São Paulo, mantendo a perigosa e viciante dependência desse vínculo. Então por que ainda existe tanta gente que consegue discordar da necessidade de instalação de uma CPI e se obriga a enxergar de forma negativa a ocupação da Assembleia Legislativa por movimentos estudantis?

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.