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Crônicas sobre política municipal. Cultura brasileira local sob olhar provocativo | Colaboradores: Eder Brito, Camila Tuchlinski, Marcos Silveira e Patricia Tavares.

E teve metrô!

Há uma semana, aconteceu um importante embate entre dois times fora de campo. Na realidade, um dos 'times' resolvia promover uma das maiores greves da categoria em São Paulo. Ah, mas não estamos falando de futebol. O assunto é paralisação de metroviários. A mais longa da história foi registrada em 1986 e durou seis dias, mas não às vésperas de uma Copa do Mundo no Brasil. E com abertura em Itaquera, zona Leste da capital paulista. E cujo principal acesso se dá pelo transporte público sobre trilhos! Bom, guardadas as devidas proporções no tempo e na história, a greve de agora deu dor de cabeça não só para a população em geral como aos políticos.

Por Camila Tuchlinski
Atualização:

O pleito inicial era de mais de 35% de reajuste salarial, além de plano de carreira e outras cositas más. Talvez percebendo o absurdo da proposta, resolveram baixar 'um pouquinho' a reivindicação para 16,5%. Depois, buscaram os 12,2%. O metrô foi enfático e não daria mais de 8,7%. Enquanto a briga da porcentagem dominava os tribunais, inúmeras estações ficaram completamente fechadas, despertando a ira das pessoas. Na Barra Funda, diversos cartazes improvisados com folhas de caderno questionavam a paralisação dos metroviários.

 Foto: Estadão

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Cartaz improvisado com folha de caderno na estação Barra Funda do metrô

(foto: Camila Tuchlinski)

Na última segunda-feira, os funcionários do metrô decidiram desafiar a decisão da Justiça e mantiveram a paralisação. Diante disso, o governo decidiu demitir 55 grevistas. Menos de três dias antes da Copa, a ação dos metroviários deixara os políticos de cabelo em pé. Representantes do governo e do sindicato da categoria resolveram sentar para conversar.

A reunião foi na Superintendência Regional do Trabalho e contou com a participação de diversas entidades sindicais como CUT, UGT e Força Sindical, representada pelo seu presidente, Paulinho da Força. O secretário estadual de Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, também estava presente. Quem também resolveu dar o ar da graça foi o senador do PT Eduardo Suplicy: 'vim por conta própria e pedir para que o problema se resolva para o bem do Brasil'. O encontro demorou tanto que os repórteres quase pediram para que Suplicy cantasse Bob Dylan!

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 Foto: Estadão

Secretário Jurandir Fernandes, dos Transportes Metropolitanos, com representantes de entidades sindicais

(foto: Camila Tuchlinski)

Ao sindicato só interessava uma coisa naquele momento: reverter as demissões dos companheiros. 'O metrô pode até querer dar 10% de aumento. Se não cancelar as demissões, vamos parar na Copa', afirmou um representante da categoria. Em dado momento da reunião, cada parte foi para uma sala separada. O secretário Jurandir Fernandes foi pedir autorização do governador para negociar. O presidente do sindicato, Altino Prazeres, ligou para o pessoal lá na sede dos metroviários. Mas os rumos da reunião seriam traçados após uma declaração de Geraldo Alckmin durante uma agenda em São Paulo: 'População não pode mais ficar subjugada a interesses menores. E isso não será tolerado e nem descumprimento de ordem judicial'.

Cinco minutos depois, a reunião termina. O secretário Jurandir Fernandes tentaria escapar dos repórteres e, só depois de muita insistência, decidiu abrir a janela do carro e declarar: 'É inadmissível a volta dos 42 demitidos. Não há acordo'.

Na coletiva de imprensa, o presidente do sindicato ameaçou: 'Se demitir a maioria dos metroviários, não vai ter metrô do mesmo jeito'. Ao lado de Altino Prazeres, o secretário de Relações do Trabalho, no Ministério do Trabalho, Luiz Antônio Medeiros, Paulinho da Força (PDT), e integrantes da CUT e UGT...todos queriam falar e ensaiaram o coro: 'Nós até queríamos um acordo, mas o governador Alckmin está intransigente'. Quando os jornalistas questionaram se a greve era política, Altino teve o microfone arrancado da mão e só respondeu por causa da insistência dos repórteres. E, mesmo assim, disse um monossilábico 'não'.

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Para o desembargador Rafael Pugliese, relator do caso no TRT-SP, a paralisação dos metroviários teve 'essencial motivação política e desafia a ordem judicial'. Ele lembra que o reajuste salarial da categoria, de 8,7%, é maior do que o dos bancários, comerciários e metalúrgicos. E aposto que maior do que o da maioria de nós, reles mortais.

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Todo mundo pensou que os metroviários iriam continuar parados - mesmo com uma multa de meio milhão de reais por dia, determinada pela Justiça. Aos 45 do segundo tempo, em assembleia na mesma noite do dia 09, a maioria dos metroviários, em votação tumultuada na sede do sindicato, decidiu voltar ao trabalho. De toda forma, Altino Prazeres disse que se o governo não recuasse em relação às demissões, haveria paralisação na abertura dos jogos. Clima de terrorismo dominou as conversas de rua. 'Será que hoje tem metrô', comentavam os amigos tomando café na padaria. 'Será que vou conseguir chegar em casa hoje', pensava o trabalhador, louco pra tomar um banho quente e descansar depois de um dia de labuta.

Já estamos no segundo dia do Mundial. Os trens do metrô circularam normalmente em São Paulo. Se a greve foi política ou não, fica para uma próxima discussão. Só fico pensando no cidadão que perdeu consulta no médico (tão difícil de conseguir), a entrevista de emprego ou o encontro com aquele que seria o amor da sua vida.

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