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Crônicas sobre política municipal. Cultura brasileira local sob olhar provocativo | Colaboradores: Eder Brito, Camila Tuchlinski, Marcos Silveira e Patricia Tavares.

O que encontramos no banheiro

Participação especial e essencial do jornalista e cientista político Wilian Miron

Por Humberto Dantas
Atualização:

 

É consensual no meio político que a democracia dá trabalho e é custosa. Mas esse custo é absolutamente essencial. Em uma relação esdrúxula, a eleição é cara e está para a nossa democracia, assim como o plano de saúde é caro e está para as demandas da classe média em geral. Ou seja: tem que ter. E por pior que seja, o pior é ficar sem. O problema, no entanto, é que a democracia, assim como os planos de saúde, andam em crise. No segundo caso o que não faltam são denúncias, escândalos e processos. No primeiro, sobra desencantamento com a política e com os representantes por parte dos cidadãos. A saída, vão dizer alguns, está associada à seguinte ideia: mais participação. Canais adicionais de construção conjunta da realidade que transcendam o voto. Isso é a teoria quem diz, faz quase trinta anos.

 

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Na prática temos visto tentativas de consolidação do que se convencionou chamar de democracia participativa. Dentre as ferramentas criadas estão os conselhos gestores de políticas públicas, e dentre eles estariam os conselhos tutelares - há controvérsias, mas vamos adiante. Trata-se de um órgão que zela pelos direitos das crianças e adolescentes, com funções claras e fundamentais. Seus membros, inclusive, são remunerados e têm como função tomar medidas de proteção em relação a esse público. E como vivemos reclamando das eleições, mesmo no instrumento participativo temos motivos de sobra pra continuarmos descontentes.

 

Na cidade de São Paulo, a eleição para a escolha dos 260 conselheiros tutelares que atuariam a partir de 2016 micou. Isso mesmo: deu zebra! O pleito, que ocorreu no simbólico domingo em que comemoramos a proclamação da República, dia 15 de novembro último, está sob suspeição. Alguns candidatos alegam ter encontrado urnas no banheiro. Isso mesmo: parece que jogaram a democracia no lixo. Os equipamentos eletrônicos tiveram problemas, e urnas manuais foram necessárias. Aqui fica a dúvida: seria um teste para a declaração da justiça de que em 2016 votaremos manualmente por falta de dinheiro? Isso é outra história. O fato é que o prefeito da capital se reuniu para debelar a crise eleitoral -nos conselhos tutelares - e o objetivo é realizar novo pleito em fevereiro. Até lá vamos notando a incapacidade de levarmos adiante elementos essenciais de nossa democracia. Resta compreender se onde encontraram as urnas descartadas também acharam restos do que muitos pensam ser a nossa democracia.

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