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Crônicas sobre política municipal. Cultura brasileira local sob olhar provocativo | Colaboradores: Eder Brito, Camila Tuchlinski, Marcos Silveira e Patricia Tavares.

Isso sim é Ano Novo

No documentário Porta a Porta, do cineasta Marcelo Brennand, de quem sou fã, um personagem que aparece no final da narrativa diz algo mais ou menos assim: "precisa ter emprego na indústria, e não ficar gastando dinheiro com festa, pois ninguém come de festa". A crítica é aos gastos excessivos do poder público municipal com eventos comemorativos. Claro que nessas ações muita gente ganha, o comércio é movimentado, gera-se emprego etc. Mas parece ainda mais óbvio que sem um mínimo de sustentação econômica certos festejos deveriam efetivamente desaparecer das agendas das prefeituras, e principalmente de seus orçamentos.

Por Humberto Dantas
Atualização:

 

Pois diante da crise, e há quem diga que uma sociedade precisa enfrentar um grande trauma para se reconstruir, o remédio amargo do "fim de festa" parece necessário. Festa ou salário do servidor? Comemoração ou serviços públicos essenciais? Fogos ou direitos? Diante de tais pontos, que podem indicar o início de um novo olhar que também depende MUITO do que o cidadão é capaz de entender por gestão pública e sua relação direta com o voto, prefeitos resolveram agir. Em Guaraí, interior do Tocantins, a gestão anunciou que a festa oficial de Ano Novo será cancelada e o recurso utilizado para a reforma de duas escolas. Ao todo serão R$ 80 mil empregados nas unidades Leôncio de Sousa Miranda e Luís de Camões. O portal UOL indica, no entanto, que as decorações natalinas serão mantidas. O estado é laico, a Igreja poderia bem se encarregar da ação, mas paciência. O espetáculo da virada trocado pela reforma de duas escolas já é algo bem proveitoso. Tão proveitoso quanto o fato de tal obrigação não ser utilizada como matéria eleitoral. Prefeito que cancela festa em nome do futuro das crianças não faz mais que a obrigação. Né?

 

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Em Domingos Martins, Espírito Santo, o corte, por sua vez, foi completo. Nada de Brilho de Natal e tampouco Ano Novo. O orçamento da cultural foi reduzido em quase 20% diante da crise, mas a prefeitura garante que saúde, educação e infraestrutura não serão afetados. O motivo do freio é conhecido de todos os brasileiros: a crise econômica bateu com força. E se doeu, que no futuro continuemos firmes, mesmo sob uma lógica de bonança, no compromisso de economizar. A festa vale? Se a resposta for afirmativa que valha do ponto de vista econômico: nada de dinheiro público. O motivo da cidade capixaba também é alegado em Rifaina, divisa de São Paulo com Minas Gerais. Por lá, a tradicional queima de fogos e os shows artísticos serão cancelados. A beira da praia fluvial não contará com o rio de dinheiro que os governos investem nas comemorações. Diante de tais realidades, fica a impressão, nessas três cidades, que efetivamente 2016 será um ano novo. E que venha repleto da capacidade de os gestores públicos conhecerem os limites e os efetivos deveres das prefeituras com a realidade de seus cidadãos. Afinal de contas, como exageradamente disse o personagem do filme de Marcelo, "ninguém come de festa".

 

Recado final: por que cidades que em 2013 ou 2014 cancelaram as festas de final de ano voltarão a realizar eventos? São as eleições? Ou tem município que enriqueceu e não aprendeu com a época das vacas magras? Espero que minhas desconfianças sejam respondidas com coisas do tipo: a festa será tocada pela iniciativa privada, sem um centavo público...

Aproveitando o assunto: o BLOG do Humberto Dantas para hoje e volta em meados de Janeiro. Boas festas!

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