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Crônicas sobre política municipal. Cultura brasileira local sob olhar provocativo | Colaboradores: Eder Brito, Camila Tuchlinski, Marcos Silveira e Patricia Tavares.

A nova e a velha política em Jacarezinho-PR

O trecho a seguir (entre aspas) é de um artigo de minha companheira de blog, e de Rádio Estadão, Camila Tuchlinski. Trata-se de um texto positivo, um alento à política brasileira. Por duas razões básicas: mostra que a insatisfação popular pode gerar resultados na política, e aponta que os políticos são capazes de cortar na própria carne. A redução de salários dos membros do Executivo e do Legislativo locais ocorreu em Santo Antonio da Platina e Jacarezinho, ambas no Paraná, como mostrou o texto publicado aqui e intitulado: "População reduz salário de vereadores no Paraná". Vamos lá:

Por Humberto Dantas
Atualização:

"Inspirada na mobilização dos moradores de Santo Antônio da Platina, a população de Jacarezinho tomou gosto pelo protesto político. No início de agosto, um projeto de lei para reduzir os salários dos vereadores em 2017 foiaprovado na Câmara da cidade. Dos atuais R$ 6,2 mil, os políticos receberão R$ 4.340,00. Foi por livre eespontânea vontade dos vereadores? A resposta é não! Só 100 pessoas puderam acompanhar a sessão para discutir os salários dentro do plenário, mas tinha tanta gente na rua ao lado de fora da Câmara que não era possível ver o chão. Houve confusão e o presidente da Casa, vereador Valdir Maldonado, teve de deixar o local dentro de um camburão, com a proteção da Polícia Militar. Além da redução de salário, os políticos tiveram de cancelar o plano de aumentar o número de cadeiras de nove para 13 na próxima legislatura."

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A medida simples deveria inspirar mais. Serve de exemplo. Esqueça de resolver o Brasil a partir de Brasília. Junte-se e comece por sua cidade, sobretudo porque ano que vem vamos eleger mais de 5,5 mil prefeitos, seus vices e pouco menos de 60 mil vereadores. Mas nem tudo é notícia boa em Jacarezinho. Leitores atentos do blog contribuíram para notarmos que na cidade paranaense, assim como provavelmente em todo o Brasil, o novo, a boa nova, a novidade, convivem com o velho modo de o Brasil fazer política.

Em agosto desse ano o presidente da Câmara Municipal de Jacarezinho, Valdir Maldonado (PDT), em áudio postado no "Portaljnn" (ouça!), assumiu que utilizou suas diárias para a realização do puro assistencialismo danoso de nossa tradicional política. Cada diária vale R$ 450 - e são utilizadas para viagens de representação, cursos etc. Quando o dinheiro sobra, ou quando não é possível prestar contas sobre o uso do dinheiro PÚBLICO utilizado, o vereador não devolve um centavo sequer e assume que PAGA ações assistencialistas. Detalhe: ele abocanhou recentemente mais de R$ 38 mil, ou seja, mais de 80 diárias. Podemos chamar isso de complemento às perdas salariais? Difícil afirmar com certeza, mas o edil admite que paga comida e contas de pessoas carentes. Diz que não é ilegal, pois a sobra da diária é dele. Compra de voto? Uso de recurso público em benefício próprio? Não! Longe disso, afirma. O presidente diz que é prática comum e assume, no máximo, se tratar de assistencialismo. Inclusive observa que sem isso o vereador não sobreviveria politicamente, o que indica algo MUITO conhecido e ainda mais deprimente: o cidadão ESPERA isso do vereador. O pacto da cumplicidade corrupta é lamentável e minimiza demais a boa imagem deixada pela redução salarial. Assim, a despeito do salário, o passo seguinte é verificar como o político CUIDA do dinheiro público. E lembrar: a educação política nas escolas é urgente! Por fim, o assistencialismo pregado pelo político corrupto e comum nos leva a tentar entender o sentido do sufixo "ismo" na palavra utilizada por ele mesmo: "assistencialismo". Seu uso nos remete a fenômenos distintos: sistema político, religião, esporte, ideologia entre outros. E entre esses outros: DOENÇA, cuja cura está absolutamente associada ao quanto devemos entender o sentido das palavras democracia, república, lisura, austeridade etc. E tem idiota por aí afirmando que a educação política não tem serventia. Não serve para quem se serve da corrupção, ou de práticas culturais que nos aprofundam na doença.

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