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Vitória de Pirro descobre 'corrupção ao quadrado'

Força tarefa da nova etapa da Operação Lava Jato revela que ex-senador Gim Argello praticou corrupção como vice presidente da CPMI da Petrobrás para encobrir corrupção na estatal e proteger empreiteiras

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Por Alexandre Hisayasu , Fausto Macedo , Julia Affonso e Andreza Matais
Atualização:

Força-tarefa da Lava Jato durante entrevista sobre a 28ª fase da operação. Foto: PF

O procurador da República Athayde Ribeiro Costa, da força-tarefa da Operação Vitória de Pirro - 28.ª etapa da Lava Jato - revelou nesta terça-feira, 12, que o ex-senador Gim Argello (PTB/DF) adotou a 'corrupção ao quadrado' - estratégia de crime que consistiu na prática de corrupção para encobrir outra corrupção.

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Na condição de vice presidente da CPMI da Petrobrás no Congresso o político exigiu propinas para livrar duas grandes empreiteiras, a OAS e a UTC Engenharia, das investigações da Comissão Mista. OAS e UTC integraram o cartel instalado na Petrobrás entre 2004 e 2014 para fraudar licitações bilionárias.

"Estamos diante de um caso de corrupção ao quadrado, corrupção qualificada. O caso revela grave atentado à República. O ex-senador obstruía as investigações das CPIs."

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A investigação, segundo o procurador, mostrou que o então senador cobrou propinas em forma de doações para os partidos da Coligação União e Força nas eleições de 2014. A UTC repassou R$ 5 milhões. A OAS repassou outros R$ 350 mil - valor destinado à Paróquia São Pedro, de Taguatinga, frequentada pelo político.

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Em troca das 'doações', Gim Argello poupou as empreiteiras, livrando-as da convocação perante a CPMI da Petrobrás. As negociações e os pagamentos se deram após a deflagração da fase ostensiva da Operação Lava Jato, em março de 2014.

"Nesse momento não há indicação de que Gim Argello tenha agido em conluio ou sob ordens de quem quer que seja, especialmente dentro dos partidos políticos", afirmou o procurador regional da República Carlos Fernando dos Santos Lima.

O procurador é taxativo. "A corrupção não é partidária, ela é decorrente do nosso sistema político. Há partidos da oposição nessa coligação. Estamos diante de corrupção para financiamento de campanhas políticas. É isso que a Lava Jato pretende revelar mesmo diante das suas limitações naturais."

Para ilustrar a afirmação de que a corrupção não tem partido, o procurador citou o caso do ex-senador Sérgio Guerra (PSDB/PE), morto em 2014, que teria exigido R$ 10 milhões para esvaziar uma das CPIS da Petrobrás.

A Coligação União e Força, destinatária dos R$ 5 milhões que Gim Argello tomou das empreiteiras, era formada por DEM, PR, PMN e PRTB. "Não há indícios de que os partidos tinham conhecimento da origem ilícita desse valor", ressalvou o procurador da República Athayde Ribeiro da Costa.

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Athayde defendeu a preservação de mecanismos legais para combater colarinho branco e corrupção como as técnicas especiais de investigações - colaboração premiada e interceptação telemática. Esses expedientes são alvo de projetos no Congresso. "É importante que não haja retrocesso, que não avancem projetos que buscam inibir a colaboração de pessoas. Restringir o uso de colaboração é lutar por impunidade, tornando-a uma regra. Temos que avançar no combate a esse tipo de projeto de lei que não tem interesses republicanos."

COM A PALAVRA, A DEFESA DE GIM ARGELLO

O criminalista Marcelo Bessa, defensor do ex-senador Gim Argello, disse que não poderia se manifestar porque está estudando as informações que constam dos autos da Operação Vitória de Pirro.

 

COM A PALAVRA, A OAS

A OAS informa que estão sendo prestados todos os esclarecimentos solicitados e dado acesso às informações e documentos requeridos pela Polícia Federal, em sua sede em São Paulo, na manhã desta terça-feira. A empresa reforça que está à inteira disposição das autoridades e vai continuar colaborando no que for necessário para as investigações.

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