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Vidas Secas mira em servidores públicos e políticos, afirma delegado

Superintendente da Polícia Federal em Pernambuco, delegado Marcelo Diniz faz paralelo com a operação Lava Jato e diz que investigação vai rastrear dinheiro desviado das obras da transposição do São Francisco

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Foto do author Andreza Matais
Foto do author Fausto Macedo
Por Andreza Matais , Fausto Macedo e Mateus Coutinho
Atualização:

Obras de transposição do Rio São Francisco em Pernambuco. Foto: José Patrício/Estadão

O delegado Marcelo Diniz, superintendente da Polícia Federal em Pernambuco, sede da Operação Vidas Secas deflagrada nesta sexta-feira,11, diz que os próximos passos da investigação que apura as suspeitas de desvios de R$ 200 milhões em obras da transposição do Rio São Francisco pretendem avançar sobre funcionários públicos do Ministério da Integração Nacional, responsável pela obra e até para eventuais políticos.

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"Nós vamos passar para as analises do que está sendo buscado (nesta sexta-feira), todos os mandados de prisão foram cumpridos e queremos saber agora a participação de eventuais servidores públicos e eventuais políticos que estejam envolvidos na trama", disse o delegado em entrevista nesta manhã para explicar a operação.

Diniz fez um paralelo com a investigação Lava Jato e disse que a investigação da Vias Secas está na fase de apurar a atuação dos núcleos econômico, formado pelas empreiteiras e seus representantes, e dos operadores financeiros, formado neste caso pelos doleiros Alberto Youssef e Adir Assad, já condenados na Lava Jato e cujas empresas de fachada são utilizadas para lavagem de dinheiro.

A partir do rastreamento dessas movimentações financeiras suspeitas, a Polícia Federal pretende avançar sobre os núcleos administrativo, formado pelos funcionários públicos que teriam sido corrompidos para permitir os desvios e, eventualmente, o núcleo político, caso se comprove que houve o beneficiamento de políticos e partidos.

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Os doleiros Alberto Youssef (esq) e Adir Assad (dir). Montagem: Estadão e Futura Press Foto: Estadão

"O que podemos dizer até o momento é o seguinte, empresas do grupo de Youssef receberam recursos de empreiteiras que tinham contrato com o Ministério da Integração e receberam recursos em uma conta específica (das obras da transposição)e dessa mesma conta foi mandado dinheiro para empresas fictícias de Youssef. Isso foi dinheiro para o quê? Todo mundo já sabe, simplesmente para repassar esse dinheiro para circunstância A, B ou C", explicou o delegado deixando claro que ainda não há nenhum nome de político ou funcionário público investigado.

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De forma semelhante, a Lava Jato começou apurando a atuação de um grupo de doleiros que lavava dinheiro para grandes empreiteiras, avançou sobre os contratos destas empresas com a Petrobrás e, após várias etapas de investigação, delações premiadas e colaboração jurídica internacional alcançou deputados, senadores e ex-parlamentares que teriam recebido dinheiro do esquema na estatal petrolífera.

"Já temos claramente demonstrado isso (desvio de recursos via empresas de Youssef), agora a outra fase de identificar outros núcleos, principalmente o administrativo e o núcleo político. E tudo indica pelo contexto da participação que existem grandes possibilidades de que tenha havido isso (envolvimento de políticos), agora os nomes nós teremos que ter em um segundo momento", contou Diniz.

Compartilhamento. A investigação deflagrada nesta manhã apura as suspeitas de desvio em um contrato de R$ 680 milhões do Ministério da Integração Nacional com o consórcio formado por OAS, Galvão Engenharia, Barbosa Mello e Coesa. As investigações mostraram que essas empresas receberam verba do ministério para as obras e repassaram cerca de R$ 200 milhões para as empresas de fachada dos doleiros Alberto Youssef e Adir Assad, já condenados na Lava Jato por lavarem dinheiro e operarem o pagamento de propinas no esquema de corrupção na Petrobrás.

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Iniciada no ano passado, a operação partiu de informações do Tribunal de Contas da União (TCU) e Controladoria-Geral da União (CGU). Após um compartilhamento de informações com a Operação Lava-Jato, a PF constatou uma movimentação de dinheiro do Ministério da Integração para contas das empreiteiras e, posteriormente, para empresas de fachada do doleiro Alberto Youssef.

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Ao todo cerca de 150 policiais federais cumpriram nesta manhã 32 mandados, sendo 24 de busca e apreensão, 4 de condução coercitiva e quatro de prisão temporária nos Estados de Pernambuco, Goiás, Mato Grosso, Ceará, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Bahia e em Brasília. Foram presos quatro executivos, entre diretores, conselheiros e representantes das empreiteiras do consórcio, sendo um representando a OAS e a Coesa, um da Barbosa Mello e dois da Galvão Engenharia. Seus nomes não foram revelados.

Obra. A obra de transposição do rio São Francisco é tocada pelo governo federal e foi reiniciada na gestão do ex-presidente Lula. Segundo o Ministério da Integração Nacional, responsável pela execução, a obra engloba a construção de quatro túneis, 14 aquedutos, nove estações de bombeamento e 27 reservatórios. Desde que foi retomada, ela se arrasta há oito anos.

Além da recuperação de 23 açudes existentes na região que receberão as águas do rio São Francisco. O projeto esta orçado em R$ 8,2 bilhões, com base na planilha orçamentária vigente.

O governo diz que a obra beneficiará uma população estimada de 12 milhões de habitantes, em 390 municípios nos Estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte, onde a estiagem ocorre frequentemente. A Região Nordeste possui 28% da população brasileira e apenas 3% da disponibilidade de água. O Rio São Francisco apresenta 70% de toda a oferta regional.

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Em outubro deste ano, conforme o ministério, 81% da execução física da obra estava concluída, sendo o Eixo Norte com 82,2% e o Eixo Leste com 79,2%.

O Tribunal de Contas da União (TCU) apontou entre 2005 e 2013 irregularidades que somam R$ 734 milhões nas obras da transposição. O que inclui, contratos que não foram honrados ou que tem sobrepreço, pagamento duplicado por obras ou pagamento de serviços que não foram executados.

COM A PALAVRA, O MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL: O ministério informou que não comenta investigações em curso

COM A PALAVRA, A ASSESSORIA DA GALVÃO ENGENHARIA:

"O Grupo Galvão informa que ainda não tomou conhecimento dos detalhes da investigação denominada Operação Vidas Secas, que cumpriu mandados de busca e apreensão e prisão na presente data.

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A Galvão Engenharia, desde já, informa que tem o compromisso de colaborar com o poder público para que tudo seja esclarecido da melhor forma possível.

Assessoria de imprensa do Grupo Galvão".

 

COM A PALAVRA, O CRIMINALISTA ANTONIO AUGUSTO FIGUEIREDO BASTO, QUE DEFENDE YOUSSEF

O criminalista afirmou que ainda não teve acesso às investigações do caso e que a defesa de Alberto Youssef só vai comentar depois de estudar o processo.

COM A PALAVRA, O CRIMINALISTA MIGUEL PEREIRA NETO, DEFENSOR DE ADIR ASSAD O advogado Miguel Pereira Neto, que defende Adir Assad, disse que ainda não tomou conhecimento dos detalhes da investigação que deu base à 'Vidas Secas', missão da Polícia Federal. "Depois que tivermos acesso aos autos é que poderemos nos manifestar", anotou Miguel Pereira Neto.

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COM A PALAVRA, A DEFESA DA BARBOSA MELLO:

O advogado Leonardo Bandeira, responsável pela defesa da Barbosa Mello afirmou que nenhum diretor ou executivo da empresa foi preso ou conduzido para depor e que não a empresa nem seus executivos foi alvo de buscas nesta manhã. Segundoo defensor a empresa está tomando conhecimento do caso.

Os demais citados na investigação ainda não se manifestaram sobre a operação.

 

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