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Vaccari usou propina para pagar 'serviços simulados' de gráfica do PT, diz delator

Novo relato de Augusto Mendonça, executivo de empreiteira alvo da Lava Jato, no dia 31 de março, teve peso decisivo no decreto de prisão de tesoureiro do partido

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Por Redação
Atualização:

Por Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba, Andreza Matais, Ricardo Chapola e Fausto Macedo

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Em novo depoimento à força tarefa da Operação Lava Jato, prestado no dia 31 de março, o executivo Augusto Mendonça, da Setal Óleo e Gás (SOG) - uma das empreiteiras envolvidas no esquema de corrupção na Petrobrás -, afirmou que o tesoureiro do PT João Vaccari Neto pediu R$ 2,5 milhões, não em forma de doações ao PT, mas em pagamentos à editora Gráfica Atitude, sediada m São Paulo. Segundo Mendonça, o tesoureiro solicitou que tais pagamentos fossem realizados para cobrir propagandas em revista pertencente à editora que mantém vínculos com o PT.

Vaccari foi preso na manhã desta quarta feira, 15, pela Polícia Federal, em São Paulo. Ele será levado para a PF em Curitiba (PR), base da Operação Lava Jato.

O executivo-delator disse que "em pelo menos três oportunidades" Vaccari solicitou a ele que efetuasse tais contribuições ao PT mediante pagamentos à Editora Gráfica Atitude, cada uma delas nos anos de 2010, 2011 e 2013. Ele disse que os repasses somaram R$ 2,5 milhões por meio de suas empresas, SOG/Setal. Os pagamentos foram efetuados parceladamente, "mês a mês, neste período".

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Trecho da petição do MPF sobre pagamentos a gráfica Foto: Estadão

Para justificar tais pagamentos, disse o delator, assim como ocorreu em relação às empresas de fachada do doleiro Alberto Youssef - peça central da Operação Lava Jato - foram celebrados contratos de prestação de serviços entre suas empresas, como a Setec Tecnologia S/A e a SOG Óleo e Gás, com a editora Gráfica Atitude. Mendonça anotou que "não se recorda se de fato foram feitos alguns anúncios pela Editora Gráfica Atitude em favor da SOG/Setal, mas pode afirmar com certeza que, se de fato, foram feitos anúncios, eles custariam muito menos do que os mais de R$ 2 milhões que foram repassados por suas empresas à gráfica".

"Segundo essa nova revelação, os recursos criminosos teriam sido utilizados não só para a realização de doações registradas ao Partido dos Trabalhadores, mas também para a realização de pagamentos por serviços, total ou em parte, simulados pela referida Editora Gráfica Atitude, isso por indicação de João Vaccari Neto", escreveu o juiz Sérgio Moro ao decretar a prisão preventiva do tesooureiro do PT.

Segundo o juiz, "pelo relato de cinco criminosos colaboradores, João Vaccari Neto participou intensamente do esquema criminoso do pagamento de propina e de lavagem de dinheiro que contaminou as operações da Petrobrás e da SeteBrasil, cabendo a ele o recolhimento de valores em favor de agentes políticos do Partido dos Trabalhadores".

LEIA O TRECHO DO NOVO DEPOIMENTO DO DELATOR AUGUSTO MENDONÇA QUE REVELA A 'DOAÇÃO' DE R$ 2,5 MILHÕES PARA A GRÁFICA LIGADA AO PT

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"que conforme já mencionou no termo de colaboração 7, as propinas oferecidas no âmbito da Diretoria de Serviços da Petrobras, em decorrência de certames e contratos por ela conduzidos, eram pagas pela SOG/SETAL de três diferentes formas: (i) mediante pagamento direto a Pedro Barusco e Renato Duque de valores em espécie, utilizando-se para tanto de empresas para o fornecimento de notas; (ii) mediante remessas de valores a conta indicada por Pedro Barusco e Renato Duque no exterior; (iii) mediante doações oficiais ao Partido dos Trabalhadores, realizadas a pedido de Renato Duque e intermediadas por João Vaccari Neto; que especificamente sobre esta última forma de pagamento de vantagens ilícitas o colaborador acrescenta que, em algumas das vezes em que Renato Duque pediu ao colaborador que fosse conversar com João Vaccari para acertar a realização de doações oficiais cujos valores seriam baixados do montante prometido à Diretoria de Serviços em decorrência de contratos celebrados com a Petrobrás, João Vaccari pediu ao colaborador que, ao invés da realização de doações ao Partido dos Trabalhadores - PT, contribuísse com pagamentos a Editora Gráfica Atitude, sediada em São Paulo/SP; que indagado qual foi a exata forma e a causa pela qual João Vaccari pediu que tais pagamentos fossem feitos, o colaborador mencionou que João Vacarri pediu nestas oportunidades que o colaborador fizesse tais pagamentos para que fossem publicados propagandas em revista pertencentes à Editora Gráfica Atitude; que o colaborador nem sequer sabe dizer se tais anúncios/propagandas foram de fato publicados, visto que a SOG/SETAL não possuía qualquer interesse comercial em publicar anúncios na revista, tendo efetuado os pagamentos apenas ante ao pedido de João Vaccari e ao fato de que eles seriam baixados dos valores de vantagens indevidas prometidas a Diretoria de Serviços (...) que o colaborador menciona que em pelo menos três oportunidades João Vaccari solicitou ao declarante que efetuasse tais contribuições ao Partido dos Trabalhadores mediante pagamentos a Editora Gráfica Atitude, cada uma delas nos anos de 2010, 2011 e 2013; que em decorrência destes pedidos o colaborador acredita ter efetuado pagamentos a Editora Gráfica Atitude, por suas empresas SOG/SETAL, na ordem de R$ 2,5 milhões, sendo que os pagamentos foram efetuados de forma parcelada, mês a mês, neste período; (...) que para justificar tais pagametnos, assim como ocorreu em relação às empresas controladas por Alberto Youssef, MO, Rigidez, RCI, foram celebrados contratos de prestação de serviços entre suas empresas, provavelmente a SETEC Tecnologia S/A e a SOG Óleo e Gás, com a Editora Gráfica Atitude; (...) que não se recorda se de fato, foram feitos alguns anúncios pela Editora Gráfica Atitude em favor da SOG/SETAL, mas pode afirmar com certeza, que se de fato foram feitos anúncios eles custariam muito menos do que os mais de R$ 2 milhões de reais qeu foram repassados por suas empresas a Editora Gráfica Atitude; (...)" (evento 6, anexo9)"

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