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Vaccari e Duque tinham o desejo de aumentar ainda mais as comissões, diz delator a Moro

João Ferraz, ex-presidente da Sete Brasil, revelou em audiência na Justiça Federal 'apetite' do ex-tesoureiro do PT João Vaccari e do ex-diretor da Petrobrás Renato Duque, supostamente destinatários de parte de uma propina de R$ 185 milhões

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Por Mateus Coutinho e Julia Affonso
Atualização:

Renato Duque (à esquerda) e João Vaccari. Foto: Estadão

O ex-presidente da Sete Brasil e também delator na Lava Jato João Medeiros Ferraz afirmou em seu primeiro depoimento ao juiz federal Sérgio Moro nesta terça-feira, 19, que o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e o ex-diretor da Petrobrás Renato Duque, ambos presos e condenados pela Lava Jato, pediram em um jantar em São Paulo para ele aumentar a percentagem de propina nos contratos da empresa - incluindo também os sócios da Sete Brasil responsáveis por operar as sondas do pré-sal.

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A Lava Jato aponta que o esquema de corrupção na Petrobrás teria se reproduzido na Sete, empresa de capital misto criada em 2010 para a instalação de sondas de exploração do pré-sal, com os estaleiros contratados por ela para construir as sondas.

Ao juiz Sérgio Moro, Ferraz não apenas confirmou o esquema, que rendia propinas de 0,9% nos contratos para a produção das estruturas de exploração, como também revelou que o "apetite" de Vaccari e Duque pela propina era ainda maior.

"Bem depois que cheguei na Sete, em um dado momento o Pedro Barusco (que também era diretor da Sete Brasil) falou que o João Vaccari queria me conhecer. Ai ele organizou um jantar em São Paulo", conta o ex-executivo. No encontro estavam presentes ele, Barusco, Duque e Vaccari e, segundo relatou, em determinado momento houve a cobrança 'extra'.

O DEPOIMENTO DE JOÃO FERRAZ AO JUIZ DA LAVA JATO:

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"Em um dado momento eles falaram sobre a comissão dos estaleiros e que tinham desejo de aumentar ainda mais essas comissões, de que não só que os estaleiros contratados pagassem, mas também os operadores de sonda", relatou.

"Ai eu falei, 'de jeito nenhum', isso não vai acontecer, não aceito esse tipo de situação. Já foi muito difícil celebrar esses acordos com esse tipo de empresa (os operadores de sondas sócios da Sete). Então foi ali (no jantar) que conheci o João Vaccari", seguiu Ferraz em seu depoimento.

Apesar de sua rejeição à proposta, Ferraz admitiu ao juiz Sérgio Moro que não sabe dizer se esta estrutura de cobrança de propinas foi implementada ou não. "Pode ter sido (implementada) sem o meu conhecimento".

Com uma trajetória técnica na Petrobrás, Ferraz assumiu a presidência da Sete - que foi idealizada por ele e Barusco - em maio de 2011 a convite do diretor de Finanças da Petrobrás Almir Barbassa e do gerente-executivo da área Pedro Bonésio. Ele conta que só tomou conhecimento do esquema de corrupção na empresa ao entrar em contato com Barusco na Sete, segundo ele o responsável por "espelhar" na Sete Brasil o esquema de corrupção que ocorria na Petrobrás.

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Ferraz confirmou que os estaleiros responsáveis por produzir as sondas pagaram propinas para ele, Renato Duque, Pedro Barusco e João Vaccari na proporção apontada na denúncia do Ministério Público Federal. Segundo a Lava Jato, teria havido o pagamento de propinas de 0,9% nos valores dos contratos da Sete com a Keppel Fels (responsável pelo estaleiro BrasFels) para a produção de quatro sondas de exploração de pré-sal.

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O valor destas propinas seria de R$ 185 milhões, dividida um terço para os funcionários da Petrobrás (Duque) e da Sete (o então presidente João Ferraz, Pedro Barusco que também era diretor de operações da empresa e Eduardo Musa que além de gerente na Petrobrás era diretor de participações da Sete) e dois terços para o PT (via João Vaccari). Além disso, aponta o MPF, uma parcela dos pagamentos ao partido teria sido destinada ao casal de marqueteiros João Santana e Mônica Moura no exterior por meio do operador Zwi Skornicki.

Foi nesta ação penal da Lava Jato que João Ferraz depôs nesta terça. Ao todo, a Sete Brasil chegou a firmar contratos com cinco estaleiros para a produção de 29 sondas. Além disso, a empresa fez sociedade com seis grandes companhias que iriam atuar como operadoras das sondas.

COM A PALAVRA, A DEFESA DE JOÃO VACCARI NETO:

O criminalista Luiz Flávio Borges D'Urso, que defende Vaccari, afirmou que as acusações feitas contra seu cliente não procedem. "O que tem acontecido ao longo da operação é que existem algumas palavras de delatores, mas essas não têm se confirmado. Não tem prova nenhuma disso", afirma.

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