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'Temer nunca mencionou os R$ 10 milhões, mas obviamente sabia', afirma empreiteiro

Marcelo Odebrecht disse, em delação premiada, que jantar no Palácio do Jaburu teria sido apenas um 'shake hands' e que os valores já haviam sido acertados entre o executivo da construtora Cláudio Melo Filho e o ministro Eliseu Padilha

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Por Luiz Vassallo , Julia Affonso , Fabio Serapião e Ricado Brandt
Atualização:

Michel Temer. Foto: Dida Sampaio/Estadão

O executivo Marcelo Odebrecht confessou, em sua delação premiada à Lava Jato, que acertou com o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, um repasse de R$ 10 milhões para candidatos do grupo de apoio ao então candidato a vice-presidente Michel Temer, em 2014. O ex-presidente da maior empreiteira do país ainda revelou ter feito 'um acordo' com Padilha para que R$ 6 milhões do total doado fossem repassados à campanha de Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), ao governo do Estado.

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Inicialmente, antes da campanha eleitoral, Odebrecht disse ter sido procurado pelo executivo da empreiteira Cláudio Melo Filho, que contou que Padilha o procurou. "O Eliseu estava pedindo a ele, pelo grupo do Temer, R$ 10 milhões, dentro daquela lógica de que, apesar de não serem candidatos, os caciques dos partidos pediam pelos seus grupos de apoio", relatou.

Odebrecht disse ter recebido uma solicitação de R$ 6 milhões de Skaf. O empresário, no entanto, disse que não conseguiria 'internamente transitar' a verba. "Porque se eu for avisar para um diretor que vou dar R$ 6 milhões para você, ele vai criar uma referência e imagine: o cara vai ficar com essa referência para outros candidatos. Eu não consigo."

O delator, então, propôs ao presidente da Fiesp uma 'solução'. "O Temer está pedindo 10 milhões para o grupo dele e uma das candidaturas que ele está apoiando é a sua. Então, se esse dinheiro for para o Temer e ele concordar para repassar parte para você, não tem problema."

Em um encontro com Temer, Skaf teria ligado para Marcelo Odebrecht e colocado o peemedebista na linha para dar a entender que estaria autorizada a divisão dos valores. Segundo Odebrecht, entretanto, o peemedebista não teria sido claro na ligação e apenas pediu 'apoio' a Skaf.

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"Aí eu disse: 'Paulo, não é isso, eu preciso que ele diga que aceita que dos dez que vão para ele, seis vão para vocês'.", relatou o delator, sobre conversa conversa com o presidente da Fiesp.

Ainda durante a campanha, em um jantar marcado entre o executivo da Odebrecht Cláudio Mello Filho, Marcelo, Eliseu Padilha e Michel Temer no Palácio do Jaburu, o acordo teria sido confirmado. A construtora doaria R$ 10 milhões a Michel Temer, dos quais R$ 6 milhões seriam destinados pelo peemedebista à campanha de Paulo Skaf.

"Temer nunca mencionou para mim os 10 milhões, mas obviamente que no jantar ele sabia. Acertei com isso e acertei com o Padilha que dos 10, 6 iriam para o Paulo", afirmou Marcelo Odebrecht, que ainda avaliou que 'Temer não falaria de dinheiro', nem com ele, 'nem com a esposa, nem com ninguém'.

Em determinado momento do jantar, o vice-presidente se retirou, segundo Marcelo Odebrecht, e ficaram à mesa somente o delator, Cláudio Mello Filho e Eliseu Padilha, quando foi acertado o repasse de R$ 10 milhões para o grupo de apoio de Temer, desde que R$ 6 milhões fossem repassados posteriormente a Skaf.

Marcelo Odebrecht relatou que, antes do jantar, os repasses já haviam sido combinados entre Eliseu Padilha, e o executivo Cláudio Mello Filho, e que o evento "foi apenas um 'shake hands', uma formalização, um agradecimento". "No final, quis apenas escutar do Eliseu que seis milhões eu iria levar para o Paulo".

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