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Temer nomeia alvos da Lava Jato para cargos do 1º escalão

Romero Jucá, Geddel Vieira Lima e Henrique Eduardo Alves assumem ministérios; com nomeações, os dois últimos passam a ter foro no Supremo Tribunal Federal

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Por Fabio Fabrini e de Brasília
Atualização:

Posse dos novos ministros do governo Temer. Foto: Dida Sampaio/Estadão

O presidente da República em exercício, Michel Temer, anunciou para sua equipe de ministros três peemedebistas alvos da Operação Lava Jato. Passam a integrar o primeiro escalão do novo governo o senador Romero Jucá (RR), que assume o Planejamento; o ex-deputado Henrique Eduardo Alves (RN),que volta ao comando do Turismo; e o ex-ministro da Integração Nacional Geddel Vieira Lima (BA), que assumirá a Secretaria de Governo. Os dois últimos passam a ter o chamado "foro privilegiado" e, agora, só podem ser investigados perante Supremo Tribunal Federal (STF).

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Antes da decisão sobre o afastamento de Dilma Rousseff, Temer havia anunciado a montagem de um ministério de "notáveis". Ele disse publicamente que o fato de ser investigado não seria impeditivo para a nomeação de seus auxiliares.

Um dos principais aliados de Temer, com atuação importante na negociação dos votos do impeachment, Jucá é investigado no Supremo por suposto recebimento de dinheiro desviado da Petrobrás e do setor elétrico. Um inquérito apura se ele cometeu crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

A apuração começou a partir dos depoimentos de delatores dos esquemas, entre eles o ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa. Em depoimento, Costa afirmou que negociou com Jucá e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), apoio à sua permanência no cargo em troca de propinas ao partido.

Recentemente, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu a abertura de novas linhas de investigação contra Jucá e outros integrantes da cúpula do PMDB por possível envolvimento em desvio de recursos das obras da Hidrelétrica de Belo Monte e outros projetos do Ministério de Minas e Energia. A suposta participação do agora ministro foi citada na colaboração do ex-senador Delcídio Amaral (sem partido, ex-PT-MS).

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O STF também autorizou inquérito para avaliar indícios de que um grupo de lobistas pagou R$ 15 milhões em propina ao senador, em troca de favorecimento na tramitação de medidas provisórias de interesse do setor automotivo. As informações foram anotadas no diário de um dos investigados na Operação Zelotes e confirmadas por ele em depoimento.

Jucá nega, em todos os casos, envolvimento em crimes.

O ex-deputado Henrique Eduardo Alves voltará ao Turismo menos de dois meses depois de deixar o cargo. Ele foi o primeiro peemedebista a abandonar a equipe de Dilma Rousseff quando o partido decidiu desembarcar do governo na reta final da discussão do impeachment. A casa dele foi alvo de busca e apreensão da Polícia Federal em dezembro do ano passado em uma das fases da Lava Jato, batizada de Catilinárias.

Alves, o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e outros de seus aliados são suspeitos de receber dinheiro do dono da OAS, Léo Pinheiro, em troca de prestar favores ao empreiteiro no Legislativo e em tribunais. As negociações constam de mensagens trocadas entre o ex-deputado e o empresário. Em algumas, o novo ministro cobra recursos para sua campanha ao Governo do Rio Grande do Norte, em 2014, quando acabou derrotado.

Geddel Vieira Lima, que agora cuidará do relacionamento do governo com o Congresso, é citado nas investigações da Lava Jato. Ele aparece nas mensagens com Léo Pinheiro tratando do atendimento de interesses da OAS em órgãos do governo, entre eles a Caixa. Além de ex-ministro da Integração no governo Lula, ele foi vice-presidente do banco estatal no primeiro mandato de Dilma, mas depois migrou para a oposição.

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Nas mensagens com Pinheiro, Eduardo Cunha menciona o pagamento de R$ 5 milhões a Temer e reclama de compromissos adiados com a "turma", que incluiria Geddel e Alves. O peemedebista, no entanto, tem alegado que o valor se refere a uma doação oficial, devidamente registrada, feita pela empreiteira ao partido.

Tanto Alves quando Geddel admitem ter tratado com Pinheiro de questões de interesse dele, mas negam quaisquer irregularidades no relacionamento com o empreiteiro.

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