A contratação da sobrinha do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Raimundo Carreiro pela Odebrecht fez parte de um acordo para influenciar a decisão da Corte que destravaria um processo contra o edital de construção de Angra III, no Rio, segundo o executivo da construtora, Henrique Pessoa Neto. As solicitações, de acordo com o empresário, partiram da UTC Engenharia, que liderava o consórcio e acompanhava os processos no TCU.
Fernanda Carreiro, sobrinha do ministro do TCU, trabalhou para a Odebrecht como auxiliar administrativa entre 2013 e 2015. Além dela, o delator alega ter sido necessária a contratação, pelo consórcio, do advogado Tiago Cedraz, filho do ex-ministro do TCU Aroldo Cedraz, por R$ 1 milhão. De acordo com o depoimento, nenhum serviço foi prestado pelo parente do ex-integrante da corte.
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O ACÓRDÃOQuando se pré-qualificou à construção de Angra III, o consórcio liderado pela UTC Engenharia foi alvo de uma representação no TCU de um concorrente do edital. O relator era o ministro Raimundo Carreiro. "O consórcio tinha contratado um advogado específico. Mas ele fazia um acompanhamento natural e a coisa não andava. Em uma das reuniões, o Miranda [Antonio Carlos Miranda, da UTC Engenharia] trouxe a informação de que tinha um caminho para resolver o problema. Seria através da contratação de um advogado".
Após a contratação de Tiago Cedraz, advogado e filho do ex-ministro do TCU Aroldo Cedraz, por R$ 1 milhão, o processo foi encerrado e a concorrência pôde ter continuidade. "Ele não produziu nada que nós tivéssemos tido acesso. Simplesmente, tivemos a grata satisfação de ver o problema resolvido".
Em seguida, integrantes da UTC Engenharia ainda levantaram a necessidade de contratar a sobrinha do ministro relator do caso, Fernanda Carrero Roxo, segundo delatores. A Odebrecht contratou a auxiliar administrativa.
"Era uma pessoa complicada. No final, os chefes dela disseram: 'olha, se é para atender um pedido seu, então toma de volta'. Terminei deixando trabalhar uns dois meses próxima da minha sala. Uma vez, falou que era sobrinha dele. Ela sabia e dizia isso. Ela comentava e sabia porque estava lá.", afirmou o executivo Henrique Pessoa Neto.
Outro delator, Fábio Gandolfo, disse que 'tomou conhecimento das tratativas entre as empresas participantes dos dois consórcios concorrentes em prejuízo ao caráter competitivo da licitação'.
A reportagem não localizou nesta sexta-feira, 21, a sobrinha de Raimundo Carreiro. O espaço está aberto para sua manifestação.
Na última terça-feira, 18, Carreiro informou, por meio de sua assessoria, que 'nunca manteve contato com qualquer pessoa da citada empresa (Odebrecht)'.
O advogado Tiago Cedraz informou que 'desconhece e jamais esteve na presença dos senhores Henrique Pessoa e Fabio Gandolfo'.
De acordo com Tiago, "Gandolfo, inclusive, já foi ouvido no inquérito e disse desconhecer qualquer ilícito envolvendo TCU, invalidando a versão de Ricardo Pessoa".