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Sérgio Cabral nega propina e diz que comprou luxo com sobra de campanha

Interrogado pelo juiz Sérgio Moro, ex-governador do Rio admitiu ter lançado mão de caixa 2 e refutou o envolvimento da mulher, a advogada Adriana Ancelmo, em esquema de corrupção

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Por Julia Affonso , Ricardo Brandt e enviado especial a Curitiba
Atualização:

Sérgio Cabral. Foto: Reprodução

Em audiência na Operação Lava Jato, o ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) negou nesta quinta-feira, 27, ter recebido propina de R$ 2,7 milhões da Andrade Gutierrez sobre contrato para a execução das obras no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). Ao tentar minimizar as acusações contra si, o peemedebista alegou ter usado recursos próprios, dinheiro de sobra de campanha eleitoral e de caixa 2 e refutou taxativamente, mais de uma vez, a participação da mulher, a advogada Adriana Ancelmo, no esquema de corrupção.

"Os recursos eram meus, a responsabilidade é minha. Minha mulher não conhece nenhum desses personagens que são citados, executivos, Petrobrás. São responsabilidades minhas, diretas", afirmou. "Eu não posso negar que houve uso de caixa 2 e houve uso de sobra de campanha de recurso em função de eu ter sido um político sempre com um desempenho eleitoral muito forte no Estado. Financiamento acontecia e esses fatos são reais. Isso não tem nada a ver com a questão do Comperj."

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No fim do depoimento, Sérgio Cabral repetiu mais uma vez. "A minha mulher não tem nenhuma responsabilidade sobre esses gastos. Minha mulher não tem nenhuma ligação com essas pessoas que estão aí. Eu me sinto muito indignado com o nome dela vinculado a esses fatos. Há uma ilação, um vínculo primeiro com a questão Comperj, com gasto, absolutamente absurda."

Moro quis detalhes da origem dos recursos. Sérgio Cabral se esquivou.

"Excelência, acho que não tem a ver com o tema aqui em questão. Poderia numa outra oportunidade até fazer esclarecimentos sobre isso, mas como não tem nada a ver com a Petrobrás, como não tem nada a ver com o Comperj, esse vínculo é um vínculo absurdo", afirmou.

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O peemedebista se disse surpreso por ter sido citado na delação de executivos da Andrade Gutierrez. "Me surpreenderam, me surpreenderam ao dar o depoimento à Vossa Excelência e no acordo de delação deles ter posto esse tema."

A denúncia do Ministério Público Federal afirma que entre 2008 e 2016, os R$ 2,7 milhões em propina foram pagos em espécie e submetidos a 'diversas técnicas' de lavagens de dinheiro como a compra de artigos de alto valor, roupas de grife, móveis de luxo, blindagem de automóveis, entre outros.

A defesa do peemedebista questionou Sérgio Cabral sobre quem faria essas compras.

"As compras eram feitas por mim com recursos meus e sob minha responsabilidade. Havia alguns produtos que ela poderia escolher, uma coisa para casa, um vestido que eu havia comprado para ela. Agora, são recursos meus. Recursos próprios meus. Eu vejo aqui, dr Moro, que o sr., Vossa Excelência tem ouvido aqui muitas observações sobre caixa 2, sobra de campanha. Isso é fato. Isso aí é um fato real na vida nacional. Eu reconheço esse erro, reconheço esses... São recursos advindos, recursos próprios e recursos de sobras de campanha, de caixa 2. São com esses recursos... tem nada a ver nem com a minha mulher, muito menos a ver com essa questão, dessa acusação de Comperj", afirmou Sérgio Cabral.

A força-tarefa da Operação Lava Jato afirma que os pagamentos dos itens de luxo foram fracionados e efetuados com depósitos em dinheiro abaixo de R$ 10 mil. Segundo o Ministério Público Federal, trata-se de uma técnica de lavagem de dinheiro.

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O advogado de Cabral o questionou sobre este tipo de pagamento.

"Há compras feitas abaixo e acima desse valor. Então, portanto, não, verifica-se aí na lista de compras que há valores superiores a este e inferiores a esse. Jamais dei este tipo de orientação a qualquer pessoa", declarou. "Tinha o hábito de pagar parceladamente."

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