A secretária Maria Celeste de Lourdes Campos Pedroso entregou seu computador pessoal à Operação Lava Jato, no Rio. Ela trabalhou para o presidente afastado do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Carlos Arthur Nuzman, preso na Operação Unfair Play, que investiga a compra de votos para a escolha do Rio como sede olímpica.
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'ENTREGA SEU COMPUTADOR PESSOAL'Segundo a força-tarefa da Lava Jato, o grupo do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) comprou o voto do ex-presidente da Federação Internacional de Atletismo Lamine Diack por US$ 2 milhões, por meio de seu filho Papa Diack. O pagamento teria sido feito por meio da empresa Matlock Capital Group, do empresário Arthur Soares, o 'Rei Arthur'.
A Polícia Federal enviou para perícia o equipamento usado Maria Celeste na época em que ela trabalhava no COB e no período da candidatura à Olimpíada. A secretária concedeu a senha do equipamento.
"Gostaria ainda de esclarecer que na época dos Jogos Olímpicos somente possuía acesso ao Hotel da Família Olímpica, ao Centro Principal de Imprensa e ao Sistema de Transporte Público, conforme demonstra seu crachá da época, e que nunca foi parte da cúpula dos jogos", informou Maria Celeste no segundo depoimento prestado à Lava Jato, em 9 de outubro.
A segunda fase da Unfair Play, que prendeu Nuzman, foi deflagrada em 5 de outubro. Naquele dia, a secretária falou à PF.
No primeiro depoimento, Maria Celeste disse que 'antes do resultado da escolha da cidade sede dos Jogos Olímpicos 2016, Papa Massata passou a dizer que Nuzman lhe devia algum pagamento, não especificando qual o montante ou a que se referia'. A secretária relatou que 'achava que esse valor devido era referente a alguma restauração de pista de atletismo na África que Nuzman tivesse combinado'.
"Em determinado momento passou a receber e-mails de Papa Massata pressionando-a para que levasse a conhecimento de Nuzman a pendência sobre o pagamento; que ao receber tais e-mails, dava ciência dos conteúdos a Carlos Arthur Nuzman, ocasionalmente imprimindo e levando ao mesmo; que Nuzman não lia nem pegava a cópia de sua mão, mas tomava ciência e dizia que não sabia do que se tratava e que não tinha nada a ver com isso", contou.
Maria Celeste relatou à PF que 'ficava irritada com essa situação'. Segundo ela, Papa Diack 'ligava insistentemente, inclusive em horários absurdos, devido à diferença de fuso horário'.
"Quando passou a receber e-mails questionando em qual de suas contas, se de Moscou ou de Dacar, o pagamento que devido por Carlos Arthur Nuzman teria sido feito, decidiu imprimir o e-mail e mostrar a Carlos Arthur Nuzman; que Nuzman repetiu que não tinha nada a ver com isso e que levasse a questão ao diretor financeiro, para verificar se havia alguma pendência; que Nuzman disse isso de uma forma bastante vaga", narrou.
À PF, a secretária disse que 'deu ciência' ao diretor financeiro do COB e o ouviu dizer que 'precisaria resolver isso'.
"Para a declarante a questão ainda era de caridade para a pista de atletismo; que contudo, achou estranha a menção que constava no e-mail de uma conta na Rússia, pois como ajudariam a África mandando dinheiro para a Rússia?; que não havia na época nenhuma notícia de compra de votos ou qualquer tipo de corrupção envolvendo o esporte", disse.
Na semana passada, o juiz federal Marcelo Bretas, da 7.ª Vara Federal, do Rio, acolheu pedido do Ministério Público Federal e mandou o COB e o Comitê Organizador Rio 2016 entregarem os emails da secretária. Os investigadores miram as mensagens trocadas por Maria Celeste com Papa Diack.