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Schahin diz que empréstimo de R$ 12 mi para amigo de Lula foi 'perdoado'

Empresário que fechou delação premiada com força-tarefa da Lava Jato declarou que dentro do grupo 'havia percepção de apoio' do ex-presidente na contratação de navio sonda da Petrobrás

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Por Ricardo Brandt , Fausto Macedo , Julia Affonso e Mateus Coutinho
Atualização:

Salim Schahin. Foto: Dida Sampaio/Estadão

O empresário Salim Schahin, um dos acionistas do Grupo Schahin, declarou à força-tarefa do Ministério Público Federal que o Banco Schahin realizou empréstimo de R$ 12 milhões, em fins de 2004, para o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003/2010). O empréstimo nunca foi quitado. Segundo Salim, a dívida foi perdoada em 2009.

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Na ocasião do empréstimo, Bumlai teria dito a ele que o dinheiro seria destinado a cobrir 'dívidas do PT'. Questionado pelos investigadores se, em contrapartida, a empreiteira recebeu apoio de Lula para obter contrato sem licitação, em 2007, para operar o navio sonda Vitória 10000 da Petrobrás, ao preço de R$ 1,6 bilhão, Salim disse que dentro do grupo havia 'uma percepção' de que a partir do apoio de Bumlai haveria indiretamente apoio do então presidente da República. Salim disse, no entanto, que nunca conversou com Lula sobre o negócio.

José Carlos Bumlai. Foto: Gabriela Bilo/Estadão

Salim reiterou que na empresa 'de maneira indireta' alguém ouviu que Bumlai teria garantido apoio de Lula na negociação do Vitória 10000 . Ele afirmou que nem do próprio Bumlai ouviu algo sobre o suposto incentivo do petista. Ele explicou que o negócio do Vitória 10000 'implicou em muita negociação difícil, muito trabalho, extensa, que se prolongou por anos'.

O acordo de delação do empresário, fechado com o Ministério Público Federal, foi homologado nesta terça-feira, 17, pelo juiz federal Sérgio Moro, que conduz a Operação Lava Jato. Salim deverá pagar R$ 1,5 milhão a título de indenização, valor que será repassado à Petrobrás.

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Salim Schahin cuidava, na época, da parte financeira do grupo, como responsável pelo Banco Schahin. Seu irmão, Milton Schahin, o outro acionista, cuidava da engenharia e era responsável pela construtora.

Os investigadores insistiram sobre a real finalidade do empréstimo para o partido. Segundo Salim, o amigo de Lula lhe disse que era 'de interesse do PT', mas não soube esclarecer mais detalhes. O empresário disse que ninguém nunca falou a ele diretamente sobre o assunto. Ele afirmou que o empréstimo não teve relação com dívidas da campanha de reeleição de Lula, em 2006, porque foi realizado dois anos antes.

A dívida foi rolada até que 'houve um entendimento, um arranjo (com Bumlai), já em 2009, uma espécie de perdão'. Em 2011 o Banco Schahin foi vendido para o BMG - o grupo Schahin assumiu a dívida.

COM A PALAVRA, O CRIMINALISTA ARNALDO MALHEIROS FILHO, ADVOGADO DE JOSÉ CARLOS BUMLAI

"Acho um absurdo que se aceite uma delação de quem diz que 'alguém ouviu' alguma coisa. Ora, o chamado depoimento de ouvir dizer já não tem valor, imagine o de que uma pessoa não identificada ouviu. Os R$ 60 milhões para a campanha petista viraram R$ 12 milhões, 'no interesse' do Partido... Outro absurdo é 'uma espécie de perdão'. Perdão ou há ou não há, não tem espécies. A dação em pagamento feita à Securitizadora Schain, cessionária do crédito do Banco, está registrada documentalmente.

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Bumlai tomou um empréstimo para seus negócios, onde aplicou seu valor e, sem liquidez suficiente para saldá-lo, fez uma dação em pagamento que, como sempre, foi proveitosa para o credor."

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