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Responsáveis por fiscalizar contratos eram inexperientes, diz diretor da Petrobrás

Áudio de reunião do Conselho de Administração mostra questionamentos sobre 'fragilidade' das fiscalizações

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Por Redação
Atualização:

Por Andreza Matais, Daniel Carvalho e Fábio Fabrini, de Brasília

Terminal da Transpetro. Foto: Fábio Motta/AE

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O diretor de Engenharia da Petrobrás, José Antonio Figueiredo, disse em reunião do Conselho de Administração da companhia, em setembro de 2014, que funcionários da empresa responsáveis por fiscalizar a execução de contratos na sua área não tinham "experiência ou treinamento" para esse tipo de serviço.

Questionado por um conselheiro sobre a razão de tantos relatórios de auditoria apontarem "fragilidade na fiscalização dos contratos", o diretor respondeu: "A gente identificou que em alguns contratos o profissional não tinha a devida experiência ou treinamento. Fizemos retreinamento. Misturamos as equipes, priorizando contratos mais complexos para as pessoas mais experientes Acredito que essas não conformidades [nos contratos] irão reduzir ou ser eliminados."

OUÇA TRECHO DA REUNIÃO:

O conselheiro José Monforte se mostrou perplexo com a informação do diretor. "A Petrobrás contrata há 200 anos então por qual razão agora eu vou treinar as pessoas para gerenciar [os contratos]?", questionou. O áudio da reunião do conselho foi solicitado pela CPI da Petrobrás na Câmara. O Estado teve acesso à íntegra da gravação.

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A então presidente da Petrobrás Graça Foster justificou que o treinamento se deve ao aumento do volume de investimentos da estatal. "Treinamento sempre teve, mas nunca tivemos investimentos tão grandes, então estamos fazendo mais intensamente."

Auditoria interna da Petrobrás também apontou "inexperiência" nas comissões de licitações. Ao apresentar irregularidades nos contratos que fizeram o custo da Refinaria Abreu e Lima (PE) saltar de US$ 2,5 bilhões para US$ 18 bilhões, o gerente-executivo de auditoria interna da Petrobrás, Gerson Luiz Gonçalves, disse aos conselheiros que a comissão de licitação da estatal era "inexperiente". "As comissões de licitação normalmente eram formadas por pessoas não muito experientes. Por outro lado, eu tinha as empreiteiras com pessoas extremamente experientes", afirmou em reunião em 14 de novembro de 2014.

OUÇA OUTRO TRECHO DA REUNIÃO:

Na lista de "não conformidades" citadas por Gonçalves estão manobras que beneficiaram empreiteiras do cartel formado para executar obras da Petrobrás.

Contratos da Petrobrás estão sob investigação da Operação Lava Jato, da Polícia Federal e do Ministério Público Federal. O ex-diretor da empresa Paulo Roberto Costa é um dos delatores do esquema de corrupção. Conselheiros cobraram da diretoria da Petrobrás, na mesma reunião, atenção especial para as empreiteiras envolvidas, o que causou nova polêmica. "Estou vendo a auditoria e tem uma repetição de nome de empresas que apareceram na tal da delação. A UTC, a Galvão, com problemas de tamanhos razoáveis", afirmou Monforte.

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O então presidente do conselho na época, o ministro da Fazenda Guido Mantega, minimizou o noticiário informando sobre as delações do esquema de corrupção na Petrobrás. "O que aconteceu foi um vazamento e praticamente todas as grandes empresas estão lá. Não sei se faltou alguma. Pode ser que aquilo tenha fundamento ou não. Tem que ser investigado pela Justiça." Um conselheiro respondeu: "Eu não sei se o senhor percebeu, mas eu me restringi àquelas que estão lá [na Lava Jato] e que aparecem aqui [em relatório de auditoria]." Mantega insistiu: "Só estou dizendo que aquilo que veio a público agora são suposições, inclusive vazamento que violou a lei. Foi estabelecido inquérito para saber como veio a público. Aquilo é só um vazamento." O conselheiro rebateu: "Com todo o respeito, a sua preocupação não é a minha. A minha é no sentido que a diretoria tenha processos adicionais para ela ir controlando a situação e ver o que fazer." Mantega disse, então, que a diretoria da empresa já havia tomado providências. "Eu gostaria de ouvir a diretoria", respondeu o conselheiro, que tem ascendência sobre a diretoria.

Graça Foster informou ao Conselho que, àquela altura, havia enviado pedido de informação a todas as empreiteiras citadas na Operação Lava Jato que tinham contratos com a Petrobrás. Graça informou que as empreiteiras que confirmassem qualquer relação com consultoria do doleiro Alberto Youssef, outro delator do esquema, estariam impedidas de participar de licitação. Mantega ponderou que essa medida poderia prejudicar as licitações da petroleira.

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