A mulher e sócia de João Santana, o marqueteiro do PT, Mônica Moura, - ambos presos na Operação Acarajé, 23.ª fase da Lava Jato - declarou à Polícia Federal que o repasse de US$4,5 milhões feitos pelo operador de propinas do estaleiro Keppel Fes, Zwi Skornicki, foi acertado no escritório do lobista, no Brasil, por conta de valores a receber que o casal tinha da campanha eleitoral de José Eduardo Santos, para a presidência de Angola.
"(Zwi) foi indicado por uma mulher responsável pela área financeira da campanha presidencial de Angola", afirmou Mônica Moura, ouvida na quarta-feira, 24, ao delegado Márcio Anselmo e ao procurador da República Digo Castor de Mattos.
João Santana, Mônica Moura e Zwi Skornicki estão presos em Curitiba, alvos da Lava Jato. O casal de marqueteiros que fez a campanha da presidente Dilma Rousseff (2010 e 2014) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2006), é suspeito pelo recebimento de US$ 7,5 milhões de forma irregular de dois alvos do cartel envolvido em corrupção na Petrobrás. Parte - de US$ 4,5 milhões - foi paga pelo lobista do estaleiro Keppel Fels e parte - US$ 3 milhões - pela Odebrecht, apontam os investigadores.
Segundo Monica, o valor recebido de Zwi tem relação com a campanha presidencial de José Eduardo Santos para a presidência, que teve custo total de US$ 50 milhões - mesmo valor citado por João Santana, ouvido na manhã desta quinta-feira, 25, pela força-tarefa da Lava Jato.
Ela disse que esse contrato englobava 'uma pré-campanha, a campanha e uma pós campanha que era uma consultoria para pronunciamentos'.
Contrato de gaveta. Do valor global do contrato de Angola, US$ 30 milhões foram captados por meio de contrato com a empresa dela e do marido, a Polis Brasil. Os outros US$ 20 milhões, confessou, "foram pagos por meio de um contrato de gaveta, não contabilizado".
Monica comprometeu-se a apresentar o contrato à PF.
Na ocasião, disse, procurou Zwi Skornicki em seu escritório no Brasil e acertaram um pagamento de US$ 4,5 milhões, depositados na conta da Shellbill Finance.
"Não sabe por qual motivo foi feito o pagamento, acreditando que tenha sido por interesse do empresário (Zwi Skornicki) em negócios naquele país (Angola)", relatou.
Monica Moura confirmou o envio de uma carta a Zwi Skornicki, na qual passa orientações para a elaboração do contrato. Ela disse que 'apagou os dados da Klienfeld para não expor tal empresa a Zwi Skornicki'. "Nunca se preocupou em saber qual a área de atuação de Zwi."
Campanhas no Brasil. A mulher do marqueteiro do PT negou que pagamentos por ele realizados tenham qualquer relação com campanhas eleitorais no Brasil.
Afirmou que ela e o marido "só atuam no marketing eleitoral e que os principais clientes, no Brasil, são o PT, o PDT e o PMDB".
Monica Moura disse, ainda, que 'deixou de declarar suas contas no exterior pois aguardava a promulgação de eventual lei de repatriação de valores, o que retiraria o caráter ilícito da manutenção da conta na Suíça em nome da Shellbil Finance.'
"Em todas as suas campanhas, não fosse por imposição dos contratantes. preferia que fosse tudo contabilizado."
COM A PALAVRA, A ODEBRECHT:
"A Construtora Norberto Odebrecht desconhece as tratativas mencionadas por Monica Moura em seu depoimento."