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Renan diz que tentou evitar recondução de Janot

Em conversa gravada, presidente do Congresso confidencia seus planos, mas alega que não teve êxito porque 'estava só' na tentativa de vetar segundo mandato do procurador-geral

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Por Redação
Atualização:

Renan Calheiros. Foto: Ed Ferreira/Estadão.

Além de chamar o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de "mau caráter" em diálogo gravado com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL), também admitiu em uma das conversas ter atuado contra a recondução do atual procurador-geral ao cargo, aprovada no ano passado pelo Senado.

"SÉRGIO MACHADO: Agora uma coisa eu tenho certeza: sobre você não tem nada ainda.

RENAN CALHEIROS: Nesse mistério todo, a gente nem sabe por que eles vivem nessa obsessão.

SÉRGIO MACHADO: Hoje, eu acho que vocês não poderiam ter reconduzido esse b***, não. Aquele cara ali...

RENAN CALHEIROS: Quem?

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SÉRGIO MACHADO: Ter reconduzido o Janot. Tinha que ter comprado uma briga ali.

RENAN CALHEIROS: Eu tentei... Mas eu estava só."

O cargo de procurador-geral da República tem mandato de dois anos e é de indicação do Presidente da República, mas deve ser aprovado pelo Senado em votação. Janot foi reconduzido ao cargo em 2015 por Dilma após a conseguir 59 votos a favor contra 12 e uma abstenção do plenário do Senado. Na ocasião, Renan disse que a recondução demonstrava a "isenção" da Casa.

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O trecho do diálogo de Renan com Machado foi revelado nesta sexta-feira, 26, pelo GloboNews. Renan Calheiros é alvo de ao menos 12 inquéritos no Supremo devido às investigações da Lava Jato e Machado também está na mira de investigações na Corte.

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Temendo que seu caso fosse enviado para a primeira instância e ficasse nas mãos do juiz federal Sérgio Moro, em Curitiba, o ex-presidente da Transpetro acabou aceitando fazer um acordo de delação premiada, entregar os áudios e contar o que sabe à Procuradoria-Geral da República.

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Uma de suas conversas gravadas com políticos já levou à queda de Romero Jucá (PMDB) do Ministério do Planejamento. No diálogo revelado na segunda-feira, 23, o senador aparece discutindo propostas para "estancar" a Lava Jato com a saída de Dilma e a chegada de Temer à Presidência. Machado também gravou conversas com o ex-presidente José Sarney (PMDB).

Machado foi filiado ao PSDB por dez anos, período em que chegou a se eleger senador e virar líder da sigla no Senado. Posteriormente se filiou ao PMDB e, há pelo menos 20 anos, mantém proximidade com a cúpula do partido que chegou à Presidência da República após o afastamento temporário de Dilma Rousseff com a abertura do processo de impeachment no Senado.

A delação do ex-presidente da Transpetro foi homologada pelo ministro relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki. A partir de agora Janot pode decidir quais serão os próximos passos das investigações e solicitar a abertura de novos inquéritos.

Não é a primeira vez que políticos investigados na operação criticam o procurador-geral. O ex-presidente e também senador Fernando Collor (PTB-AL) já lançou vários xingamentos a Janot, desde "fascista da pior extração" e até de "filho da puta", na tribuna do Senado. "Trata-se de um fascista da pior extração, e cuja linhagem pode ser perfeitamente traduzida nas palavras de Plutarco: 'Nada revela mais o caráter de um homem do que seu modo de se comportar do que quando detém um poder e uma autoridade sobre os outros. Essas duas prerrogativas despertam toda a paixão e revelam todo o vício'", afirmou o parlamentar no ano passado, dois dias antes de Janot ser sabatinado no Senado para ser reconduzido ao cargo.

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Collor foi denunciado pelo procurador ao Supremo, teve sua mansão revistada pela Polícia Federal e até seus veículos de luxo chegaram a ser apreendidos a pedido de Janot, que acusa o parlamentar de acumular o patrimônio com dinheiro de propina.

COM A PALAVRA, RENAN CALHEIROS: Veja a nota divulgada pelo presidente do Senado quando veio à tona o diálogo em que ele chama Janot de mau caráter

"O Senador Renan Calheiros reitera que não tomou nenhuma iniciativa ou fez gestões para dificultar ou obstruir as investigações da operação Lava Jato, até porque elas são intocáveis e, por essa razão, não adianta o desespero de nenhum delator", escreveu a assessoria do senador.

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