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Receptor de empréstimo de Bumlai pagou R$ 800 mil, revela Mônica

Em delação premiada, empresária disse ter sido paga pelo marqueteiro Geovane Favieri, em 2004, por serviços prestados para a campanha de Dr. Hélio (PDT) à prefeitura de Campinas (SP)

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Foto do author Beatriz Bulla
Por Luiz Vassallo , Breno Pires , Rafael Moraes Moura e Beatriz Bulla
Atualização:

Mônica Moura. Foto: Reprodução

A empresária Mônica Moura revelou, em delação premiada, ter recebido pelo menos R$ 200 mil 'por fora' do produtor de vídeos Giovane Favieri, responsável pela campanha do ex-prefeito cassado de Campinas, Dr. Hélio (PDT), em 2004. Ele é réu em ação penal no âmbito da Operação Lava Jato, acusado de ser receptor de empréstimo fraudulento contraído pelo pecuarista José Carlos Bumlai, junto ao Banco Schahin, naquele ano. Apesar de ser alvo de investigações, já acumula mais de R$ 23 milhões em contratos com a Assembleia Legislativa de São Paulo, desde 2009, e é dono da empresa que recebeu a maior quantia das despesas da campanha do petista Fernando Haddad em 2016.

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Segundo a marqueteira, seu marido João Santana foi convidado a ajudar na campanha de Dr. Helio, em 2004, à prefeitura de Campinas pela mulher do candidato, quando a disputa eleitoral já estava aberta e o então representante do PDT enfrentava dificuldades.

"Passou um tempo e a campanha começou a despencar. E ela [Rosely, esposa do candidato] continuava ligando pedindo ajuda. No meio disso, esses marqueteiros [Giovane Favieri e Armando Peralta] chamaram João para ajudar. Eles disseram: 'Você não assume, porque sei que não tem tempo, mas faz algumas coisas, alguns vídeos'. Acertamos com esse pessoal" relatou.

De acordo com a delatora, inicialmente, todos os valores seriam pagos por meio de contrato com os publicitários. No entanto, aproximadamente R$ 200 mil acabaram sendo viabilizados em dinheiro em espécie. "A campanha cresceu. Na época, recebemos dos próprios marqueteiros. Teve uma parte por fora. Eu não lembro valores, mas cobramos 800 mil reais".

Dr. Helio foi eleito em Campinas. Em outro mandato, em 2011, acabou sendo cassado pela Câmara Municipal, em razão escândalo de corrupção envolvendo fraudes em licitações na Sanasa, empresa de esgoto municipal. No ano passado, segundo parecer do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, os vereadores mantiveram a cassação dos direitos políticos de Dr. Helio até 2024.

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Já Favieri, marqueteiro de campanha de Dr. Helio em 2004, continuou responsável por corridas eleitorais e contratos milionários com o Legislativo Paulista, mesmo após denunciado pela Operação Lava Jato. Em 2016, ele foi o maior receptor das despesas eleitorais - cadastradas no TSE - da candidatura de Fernando Haddad, por meio da empresa F5BI, que recebeu R$ 3,5 milhões - equivalente a 22% dos gastos do petista.

No mesmo ano, por meio de outra empresa, a Rentalcine, Favieri obteve mais um aditamento com a Assembleia Legislativa - onde tem contratos desde 2009 - por R$ 4,2 milhões para serviços prestados à TV Alesp. Uma das licitações das quais a Rentalcine participou na Casa chegou a ser alvo de inquérito no Ministério Público Estadual de São Paulo. Até hoje, segundo dados da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo, a Rentalcine recebeu, somente entre 2011 e 2017, R$ 23 milhões da Assembleia Legislativa.

O produtor é réu na Lava Jato no caso que envolve os empréstimos do Banco Schahin ao pecuarista José Carlos Bumlai, de R$ 12 milhões, quitados de forma fraudulenta. De acordo com a denúncia, o amigo de Lula contraiu os valores da instituição financeira e os repassou para empresas NDEC e OMNY PAR, de Favieri e Armando Peralta.

"A operação tinha por objetivo ocultar e dissimular o pagamento de serviços prestados em campanha eleitoral, ao menos em parte não declarados, em benefício de Giovane Favieri e Armando Peralta, prestadores de serviços de publicidade da campanha eleitoral para a Prefeitura de Campinas do Partido Democrático Trabalhista, no interesse do Partido dos Trabalhadores", afirma o Ministério Público Federal, que sustenta ainda que o pagamento foi ordenado por Delúbio Soares, então tesoureiro do PT. O empréstimo foi concedido pelo Schahin pouco tempo depois de o grupo dono da instituição financeira assinar contrato de R$ 1,6 milhão com a Petrobrás. Em outra ação, devido ao mesmo empréstimo, no âmbito da Lava Jato, Bumlai foi condenado a 9 anos de prisão.

COM A PALAVRA, GIOVANE FAVIERI

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A reportagem entrou em contato com as empresas NDEC, F5BI, e Rentalcine, mas não obteve resposta. Ao Estado, Giovane Favieri já declarou que 'a empresa NDEC, não a Rentalcine, fez a produção de vídeos da campanha do Dr. Hélio em Campinas em 2004, à época candidato da Coligação PDT-PFL-PMDB, contra uma candidatura do PT e outra do PSDB, em cujo certame o Dr. Hélio saiu vitorioso'.

"As denúncias de envolvimentos de corrupção que levaram a cassação do Dr. Hélio, aconteceram em 2011, 7 (sete) anos depois que a NDEC fez a campanha dele, lembrando que o Dr. Hélio foi reeleito em 2008 e não foi a NDEC e nenhuma de nossas empresas que fez a campanha dele em 2008", afirmou

"As empresas que faço parte trabalham exclusivamente prestando serviços da forma mais correta possível, como por exemplo já a 5 (cinco) anos nesta casa, através de licitações árduas e concorridas, sempre ofertando o melhor preço".

COM A PALAVRA, A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO

A assessoria da Presidência da Assembleia Legislativa de São Paulo afirmou que o último aditamento com a empresa de Giovane Favieri ocorreu na gestão anterior da Casa. O contrato tem vigência até o fim de 2017.

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