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Propina de Duque acabou em tiroteio no centro do Rio

Após roubar mala com R$ 100 mil em dinheiro vivo, ladrão ofereceu propina a policiais militares para não ser preso; cópia dos autos foi requerida pela Justiça Federal do Paraná, onde correm os processos da Lava Jato

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Por Redação
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A distância entre o banco e a Petrobrás foi mapeada pela Procuradoria. Foto: Reprodução MPF

Por Julia Affonso, Ricardo Brandt e Fausto Macedo

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O que era para ser uma corriqueira entrega de propina, no fim daquela manhã de 5 de outubro de 2011, transformou-se em tiroteio no centro do Rio. O executivo João Bernardi, então funcionário da empresa italiana Saipem, havia saído de uma agência do Citibank com R$ 100 mil em espécie, dentro de uma pasta. Bernardi precisaria andar cerca de 400 metros até chegar à Petrobrás e entregar o valor ao então diretor de Serviços da estatal Renato Duque, segundo relata denúncia do Ministério Público Federal. Mas, no caminho, a 270 metros do prédio-sede da Petrobrás, foi assaltado.

"O denunciado João Bernardi afirmou à Polícia do Rio da Janeiro que tinha acabado de sacar tal quantia do Banco Citibank, que se situava nas proximidades, como indicado em denúncia oferecida pelo Ministério Público do Rio de Janeiro. O trajeto percorrido por João Bernardi deixa claro que ele se dirigia à sede da Petrobrás para entregar a vantagem indevida prometida a Renato de Souza Duque", afirma a força-tarefa da Lava Jato.

Trecho de denúncia da Promotoria do Rio. Foto: Reprodução

Renato Duque e João Bernardi são réus em ação penal na Justiça Federal do Paraná. Eles são acusados de favorecer a Saipem, de serviços de petróleo, na contratação da obra de instalação do Gasoduto Submarino de Interligação dos Campos de Lula e Cernambi. Os executivos negam qualquer envolvimento com o esquema de corrupção instalado na Petrobrás entre 2004 e 2014 e desbaratado pela força-tarefa da Lava Jato.

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O roubo narrado na acusação da Procuradoria da República contra Renato Duque e Bernardi, em mais uma entre tantas acusações no âmbito da Lava Jato, foi objeto de denúncia formal do Ministério Público do Estado do Rio contra o ladrão. Segundo a acusação, para roubar o dinheiro, o assaltante teve ajuda de uma terceira pessoa que o avisou que João Bernardi havia acabado de sair da agência.

"Ao adentrar na galeria que dá acesso ao prédio do BNDES foi abordado pelo denunciado que, portando duas armas de fogo, exigiu que o ofendido (João Bernardi) lhe entregasse todo o dinheiro que trazia em uma pasta. O denunciado ainda rendeu também um vigilante que se achava nas proximidades e logo depois saiu em fuga do local na posse do dinheiro", destacou a denúncia da Promotoria do Rio.

Lobista delata 'saldo' de propina de R$ 1,2 mi a Renato Duque

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Um policial militar que estava próximo afirmou, no processo, que ouviu o barulho de um disparo e viu o ladrão correndo. O PM contou que o assaltante tentou atingi-lo com um tiro, mas a arma falhou.

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"Ainda caído o denunciado tentou se apossar novamente da arma de fogo que portava, de calibre 9 milímetros, mas os policiais conseguiram detê-lo, assim como recuperaram parte da quantia subtraída (cerca de R$ 47 mil) que havia caído no chão com a queda do denunciado", narra o promotor Celso de Andrade Loureiro, que subscreveu a denúncia.

O homem foi detido por policiais militares no Largo da Carioca, a poucos metros do local onde havia roubado a suposta propina que seria entregue por João Bernardi a Renato Duque. Na cabine policial, ele ofereceu propina de R$ 50 mil aos agentes para que não fosse levado para delegacia.

"O denunciado voltou a ofertar dinheiro aos policiais nas dependências do hospital para onde fora conduzido em razão do ferimento sofrido, oportunidade em que prometeu entregar aos policiais a quantia de R$ 200 mil", relatou a Promotoria.

Processo. O assaltante tinha três passagens pela polícia. A primeira, em 7 de novembro 2002, por homicídio, a segunda, em 30 de maio de 2005, por roubo, e a terceira por porte e comercialização de arma em 2011.

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Semanas depois do roubo no centro do Rio, o caso se transformou em ação na Justiça fluminense. Em 26 de janeiro de 2012, o homem que roubou a propina supostamente destinada a Renato Duque foi condenado a 6 anos de prisão em regime fechado - Duque, por enquanto, é réu da Lava Jato, mas ainda não tem condenação. A 11ª Vara Criminal do Rio determinou ainda que o ladrão da propina indenizasse 'a vítima no valor de R$ 53 mil'. Em decisão no Tribunal de Justiça do Rio, o desembargador Paulo Rangel reduziu a sanção a 3 anos de reclusão, em regime fechado.

Em 1.ª instância, o caso foi arquivado em 12 de junho de 2015 e desarquivado dois meses depois. No último dia 24 de agosto, a Justiça autorizou a remessa de cópia integral dos autos à Justiça Federal do Paraná, base das ações da Lava Jato.

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