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Procuradoria da Suíça identifica duas contas controladas por Cerveró

Autoridade de Berna enviou dados de investigação sobre lavagem de dinheiro e corrupção aberta em fevereiro, que chegou à duas offshores controladas por ex-diretor de Internacional, por onde passaram recursos de lobista do PMDB Fernando Baiano

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Nestor Cerveró e Fernando Baiano. Foto: Estadão e AGB

Por Fausto Macedo, Julia Affonso e Ricardo Brandt

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A Procuradoria Pública Federal de Berna, na Suíça, comunicou a força-tarefa da Operação Lava Jato sobre a existência de duas contas no país que seriam controladas pelo ex-diretor de Internacional da Petrobrás Nestor Cerveró - que negou em juízo ter contas fora do Brasil. Em uma delas foi rastreado um depósito de US$ 78 mil, em setembro de 2008, originário de conta do operador de propina do PMDB Fernando Antonio Falcão Soares, o Fernando Baiano.

Os dois estão presos em Curitiba, acusados de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa no esquema que desvio pelo menos R$ 6,2 bilhões da estatal entre 2004 e 2014.

"Cerveró, aqui acusado, é beneficiário da empresa offshore panamenha Russel Advisors SA", informa o procurador Federal Stefan Lenz, de Berna. "Averiguou-se, que Cerveró manteve mais uma conta bancária no banco Banque Heritage, em nome da empresa offshore Forbal Investment Inc de Belize", completa o documento, datado de 26 de maio e enderaçados ao procuradores do Brasil.

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Registradas em nome de duas empresas offshores que não eram conhecidas da Lava Jato, com sedes em dois paraísos fiscais (Panamá e Belize), as contas teriam recebido recursos que podem ter relação com os desvios e a corrupção na Petrobrás. O esquema denunciado em março de 2014 no Brasil envolvia o pagamento de 1% a 3% de propina para políticos e agentes públicos indicados pelo PT, PMDB e PP, por parte das empresas organizadas em cartel.

Trecho de documento enviado pela Procuradoria da Suíça sobre conta de Cerveró que recebeu depósito de Fernando Baiano Foto: Estadão

O documento da Suíça, em que o procurador Stefan Lenz comunica a apuração local, foi encaminhado ao Ministério Público Federal do Brasil no início do mês, dentro de um acordo de cooperação internacional entre os dois países. Nele, os procuradores transmitem oficialmente os dados levantados na Suíça sobre as duas contas de Cerveró e solicitam que a força-tarefa assuma a responsabilidade de buscar na Justiça a condenação criminal do ex-diretor.

É a primeira prova da existência de contas de Cerveró no exterior com indícios de recebimentos de valores suspeitos. Em depoimento, Cerveró garantiu ao juiz federal Sérgio Moro não ter contas no exterior. "Conta no exterior o senhor não tem mesmo?", questionou Moro. "Não tenho."

Caminho do dinheiro. Cerveró e Fernando Baiano são réus em processo aberto em 14 de dezembro de 2014, a pedido da força-tarefa da da Lava Jato, envolvendo propina de US$ 30 milhões da coreana Samsung Heavey Industries para construção e operação de duas sondas de perfuração marítima para exploração de petróleo no Golfo do México e na África.

Representada no Brasil pelo lobista Julio Gerin Camargo, a Samsung teria pago propina para o operador do PMDB para obter o contrato na Diretoria de Internacional - contratos assinados em 2006 e 2007. O negócio envolveu o pagamento Piamonte Investment Corp., controlada por Camargo, em conta bancária em Uruguai, por meio de "contratos fictícios de assessoria".

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"Segundo o demonstrativo detalhado na sua inicial acusatória, posteriormente, estes valores foram repassados a sociedades offshore, nomeadamente mencionadas, em grande parte com contas bancárias na Suíça (respectivamente, pessoas com contas numerárias), entre eles, a Three Lions Energy Inc. com conta bancária no banco Credit Suisse", registra o procurador suíço Stefan Lenz.

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A Procuradoria de Berna informa ainda que a conta era controlada por Fernando Baiano, conforme já havia identificado o lobista Julio Camargo. "Baseado nos documentos bancários da Three Lions Energy Inc., levantados e analisados neste contexto junto ao banco Credit Suisse, conseguimos verificar que: Soares, incriminado substancialmente por Camargo, consta como beneficiário econômico da Three Lions Energy Inc. nos documentos bancários".

Foi através da analise de movimentação bancária da Three Lions que os investigadores chegaram a Russel Advisors. "Em 17 de setembro de 2008 ocorreu um pagamento por parte da Three Lions Energy Inc. para uma empresa offshore panamenha com nome de Russel Advisors SA, com conta bancária na UBP, no valor de US$ 75 mil", registra o documento.

"O posterior levantamento dos documentos bancários da Russel Advisors SA na UBP demonstrou, que Ceveró, aqui acusado, é beneficiário da empresa offshore panamenha Russel Advisors SA."

Cerveró já foi condenado a cinco anos de prisão no final de maio em processo em que foi acusado por lavagem de dinheiro na compra do apartamento em que morava, no Rio, avaliado em US$ 7,5 milhões, em nome de laranjas. O que a Lava Jato buscava eram mais elementos do recebimento de vantagens por Cerveró no esquema de corrupção da Petrobrás, que teriam permitido a compra de bens de maneira oculta, como o imóvel. Os documentos serão usados na ação penal em que ele responde ao lado de Fernando Baiano, sobre os negócios das sondas - em fase final.

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Trecho de documento da Procuradoria da Suíça sobre contra da offshore Forbal, que seria de Cerveró Foto: Estadão

Segundo operador. A outra conta mantida no Banque Heritage por Cerveró, segundo a procuradoria Suíça, registra indício de recebimento de propina por parte de outro operador do esquema alvo da Lava Jato.

A conta em nome da offshores Forbal Investment - com sede em Belize - recebeu em 31 de outubro de 2012 depósito de US$ 194 mil oriundos da empresa Klienfeld Services Ltd., com conta bancária no banco Meinl Bank (Antígua) Ltd.

"O beneficiário econômico da Klienfeld Services Ltd. seria Augusto Amorim Costa, acusado no Brasil por ter transferido valores de suborno a funcionários da Petrobrás, por parte da empresa Queiroz Galvão", informa a Procuradoria de Berna. Costa não foi localizado.

As investigações da Suíça começaram em 2 de fevereiro, baseada "em duas notícias de suspeita de uma instituição de cartão de crédito e do banco Banque Heritage, datadas do final de janeiro de 2015" que resultou na abertura de apuração penal "contra o acusado com a suspeita de lavagem de dinheiro e atos de corrupção".

No caso da conta Forbal, a Procuradoria de Berna destacou como entradas em favor de Cerveró consideradas suspeitas ainda: US$ 300 mil, em 13 de maio de 2009, oriundos de Alexandre Amaral de Moura, dono da Comtex Industria & Comércio, com conta no banco Bank Juluis Bär; US$ 114 mil, em 31 de maio de 2013, originários da offshore Atlas Assets SA, com conta bancária no banco Julius Bär, de Mônaco; e US$ 62 mil, em 2 de agosto de 2012, e US$ 5 mil, em 19 de março de 2014, oriundos de Interbaltic Sociedad de Bolsa de Uruguai, com conta bancária no banco Banque Heritage.

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"O fundo econômico destes pagamentos não está claro e não parece compatível com a atividade de Cerveró como diretor da Petrobrás", afirma o procurador suíço.

Para a autoridade de Berna, a transferência de de Moura, no valor de "US$ 300 mil deve ser qualificada como possível pagamento de suborno". Não só por sua empresa, Comtex Industria & Comercio ser fabricante de sistemas de vigilância e "potencial fornecedora da Petrobrás", mas porque nos documentos bancários do empresário foi identificado o pagamento de outros US$ 340 mil, um mês depois (15 de abril de 2009), para a empresa Quinus Services SA. "Para qual Paulo Roberto Costa - outro acusado principal no escândalo Petrobrás - assinava como beneficiário econômico."

"Portanto, em relação aos pagamentos supramencionados, efetuados para Cerveró, respectivamente, para a Forbal Investment Inc. da propriedade dele, também há a suspeita, que se tratava de pagamentos de suborno no sentido." Doleiros. Outra suspeita levantada pela Procuradoria da Suíça em relação aos recebimentos das contas de Cerveró foram em relação a valores que entraram "de pagamentos por parte da Interbaltic Sociedad de Bolsa".

"Esta sociedade se destacou com transações suspeitas, em outras investigações penais, realizadas pela Procuradoria Pública da Suíça em relação à Petrobrás (no sentido de pagamentos de compensação), entre outros, também à Sygnus Assets SA, controlada por Paulo Roberto Costa."

O procurador diz que "os representantes desta empresa, Raul Fernando Davies Cellini, Jorge Davies Cellini e Brande Wincour Eduardo, são conhecidos da Procuradoria Pública de outros processos, como chamados doleiros".

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Bloqueio. Em fevereiro, a Justiça Federal decretou o bloqueio de R$ 106 milhões do ex-diretor, acusado de receber propinas na contratação de navios sondas pra uso no Golfo do México e na África. No documento da Suíça, o procurador comunica os motivos que impediram o confisco dos valores que transitaram por essas contas.

"Ou Cerveró gastou os pagamentos de provável suborno que entraram na sua empresa Forbal Investment Inc. entre o dia 13 de maio de 2009 e o dia 19 de março de 2014 (débito por vencimentos de cartão de crédito, custos administrativos), ou então, ele os transferiu ao exterior, um pouco antes ou até depois da sua acusação."

São duas transferências, de US$ 50,1 mil, em 3 de dezembro de 2014 e US$ 200 mil em 8 de janeirpo de 2015 "para Martin Green, com conta bancária no banco Co-Operative Bank Plc. em Londres".

"Portanto, há a suspeita que, desta maneira, os direitos de confisco do Estado foram frustrados e, Cerveró seria culpado da lavagem de dinheiro", informa o procurador de Berna.

Defesa. O advogado Edson Ribeiro, que defende o ex-diretor de Internacional da Petrobrás, não foi encontrado para comentar o documento. Ele tem sustentando que seu cliente não recebeu propinas e nem lavou dinheiro ilícito. Fernando Baiano também nega ser operador de propina e envolvimento em esquema de corrupção na Petrobrás.

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