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Preso, amigo chama Lula para depor como sua testemunha

Defesa do pecuarista José Carlos Bumlai, acusado de gestão fraudulenta por empréstimo de R$ 12 milhões destinado ao PT, diz ao juiz Sérgio Moro que 'o crime é ser amigo' do ex-presidente

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Foto do author Fausto Macedo
Por Ricardo Brandt , Julia Affonso e Fausto Macedo
Atualização:

 Foto: Estadão

Os advogados do pecuarista José Carlos Bumlai arrolaram o ex-presidente Lula para depor como sua testemunha de defesa. Bumlai e Lula são amigos desde 2002. Os advogados pedem os depoimentos, ainda, de outras seis testemunhas, entre elas o ex-presidente da Petrobrás José Sérgio Gabrielli. A defesa afirma que 'resta evidente a ilegalidade' do inquérito da Polícia Federal que imputa ao pecuarista uma série de atos ilícitos.

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Bumlai foi preso na Operação Passe Livre, desdobramento da Lava Jato, no dia 24 de novembro de 2015, por envolvimento no empréstimo supostamente fradulento que fez de R$ 12 milhões, em outubro de 2004, junto ao Banco Schahin. O destinatário final do montante foi o PT, segundo o próprio Bumlai. A defesa de Bumlai pede sua absolvição sumária e diz que há 'clara usurpação da competência do Supremo Tribunal Federal'.

Em resposta à acusação da Procuradoria da República, a defesa afirma ao juiz federal Sérgio Moro, magistrado da Lava Jato. "A proximidade entre Bumlai e Lula sempre foi muito explorada pelos que, maliciosamente, viam nela a oportunidade de encontrar malfeitos que pudessem ser atribuídos ao segundo, seja durante, seja depois de seus dois mandatos. Nesse período, não foram poucas as insinuações e por vezes até imputações de que o defendente seria um intermediário de negócios escusos de interesse do ex-Chefe do Executivo."

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"Na verdade - prossegue a defesa -, o crime é ser amigo de Lula e, pasme, Juiz, existe até fotografia de ambos numa festa junina, tornando irretorquível a consumação do delito do artigo 362 do Código Penal. Sua ameaça à ordem pública consiste em seu potencial de, no crescendo da indignação, delatar o ex-Presidente de alguma forma. Esta é a essência deste processo."

"A partir de provas de irregularidades na Petrobrás, o nome do peticionário (Bumlai) voltou a aparecer nas manchetes, como se fosse ele a isca perfeita para se conseguir fisgar o peixe (ou melhor, o molusco cefalópode) que muitos queriam - e ainda querem - na frigideira. Acontece que estão usando a isca errada e a denúncia, com suas inúmeras inconsistências e divagações, é a maior prova disso!"

A resposta à acusação foi entregue a Moro nesta quinta-feira, 21. Os defensores de Bumlai são taxativos. "Não bastasse isso, também se verifica a interferência desse Juízo na competência da Suprema Corte em razão dos fatos investigados serem conexos àqueles relativos aos então apurados na ação penal n° 470/MG."

A peça de 77 páginas é subscrita por seis criminalistas prestigiados: Arnaldo Malheiros Filho, Daniella Meggiolaro, Conrado Almeida Prado, Natália Di Maio, Lyzie de Souza Andrade Perfi e Edward Rocha de Carvalho.

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"A corrupção é uma chaga que consome o Brasil desde sempre", assinalam os defensores. "O fato de agentes e órgãos públicos que têm a função de investigar delitos e promover a persecução penal constituírem 'força-tarefa' é extremamente positivo.

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É preciso, contudo, humildade para reconhecer a possibilidade de que, na tarrafa, venham inocentes ou, quando menos, pessoas contra as quais não se consegue formar um quadro indiciário consistente que as leve à sujeição passiva numa ação penal."

Os advogados dizem. "É preciso, mais ainda, humildade também para reconhecer que 'o caminho' nem sempre é o caminho que se imaginara mas, ainda que o fosse, ser 'o caminho' não é suficiente para transformar alguém em réu. A insistir nisso, passam a sobejar as contradições e incoerências. Elas não decorreram, por certo, de deficiências dos competentes acusadores, mas da impossibilidade de 'fechar' uma narrativa consequente. Some-se a isso o afogadilho imposto pela necessidade de tapar os ouvidos para o que o investigado teria a dizer e aí temos o resultado, que a prudência aconselha a cortar cerce: A mesma pessoa nas pontas ativa e passiva de uma mesma corrupção, gestão delituosa de quem nunca foi gestor, lavagem sem crime antecedente ou anterior a ele; pior: confunde-se - e esta é de cabo de esquadra! - securitizadora com empresa de seguros!"

Os defensores de Bumlai observam que 'ao ser humano, ao indivíduo, à pessoa, resta, como único conforto, a sabedoria e o senso de Justiça do Poder Judiciário'. "A História nos conta de juízes que foram à sacada, ouviram a turba e lavaram as mãos, mas não é nada generosa com eles. Se é legítima a pressão popular pela responsabilização de saqueadores da República, jamais o será para reduzir o Juiz a instalar um novo Nuremberg. Se não bastasse a inépcia da exordial e a carência de justa causa para a ação penal, aqui tão longamente versadas, pelo que se pede escusas, o fato é que a denúncia sequer descreve ou apresenta indícios sobre as elementares dos crimes atribuídos ao defendente.'

A PF e a Procuradoria da República sustentam que o Banco Schahin recebeu como 'recompensa' pelo empréstimo ao PT um contrato de US$ 1,3 bilhão com a Petrobrás, em 2009. Os advogados de Bumlai escreveram. "No caso dos autos, a situação é simples: Bumlai tomou um empréstimo de 12 milhões de reais do Banco Schahin, com o objetivo de remeter os recursos ao PT. Obviamente, era necessário esconder que o PT era o real beneficiário pois, do contrário, o próprio Partido teria tomado o empréstimo. Posteriormente, o empréstimo foi perdoado por uma não-financeira cessionária do crédito, supostamente - e sem que disso o requerente (Bumlai) tenha participado ou tido qualquer ingerência - em contrapartida ao contrato do Grupo Schahin com a Petrobrás."

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"Logo, toda a operação articulada visava tão somente a camuflar a destinação dos recursos, sem que tenha havido qualquer ação voltada a reinseri-los na economia formal com aparência de licitude", finalizam os advogados, que pedem a Moro uma série de diligências. Em outra petição, também protocolada na Justiça Federal no Paraná, base da missão Lava Jato, os defensores de Bumlai pedem a Moro 'o acolhimento da presente exceção de incompetência com a declaração de nulidade da investigação levada a efeito pelo Ministério Público, assim como da inicial acusatória por ele oferecida, por carecer de atribuição para tanto'.

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