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Preso na Carne Fraca diz que peemedebista recebeu 'muito dinheiro' de fiscal corrupto

Grampo da Operação flagrou ex-superintendente regional do Paraná Gil Bueno de Magalhães relatando que atual presidente da Comissão de Agricultura na Câmara Sérgio Souza (PMDB-PR) teria recebido recursos de Daniel Gonçalves Filho, apontado como líder do esquema de corrupção no Ministério da Agricultura

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Por Mateus Coutinho , Fabio Serapião e Julia Affonso
Atualização:

O deputado federal Sérgio Souza (PMDB-PR). Foto: Lucio Bernardo Junior/Agência Câmara

Eleito por unanimidade nesta quinta-feira, 23, presidente da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara, o deputado federal Sérgio Souza (PMDB-PR) tem seu nome citado em grampos da Operação Carne Fraca como tendo recebido "muito dinheiro" do fiscal apontado como líder do esquema criminoso no Ministério da Agricultura e preso pela PF, Daniel Gonçalves Filho. Na conversa, o representante de uma cooperativa agrícola chega a afirmar ainda que o parlamentar teria "rabo preso".

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O próprio deputado aparece, segundo relatório da PF, em uma conversa com um advogado sobre as possibilidades jurídicas para reverter uma suspensão de 90 dias a que Gonçalves Filho teria sido condenado por conta de irregularidades no MAPA. O ex-assessor do deputado, Ronaldo Troncha, também aparece em conversas da interceptadas pela Carne Fraca e foi alvo de condução coercitiva expedida pela Justiça Federal do Paraná. Ele se apresentou nesta quinta-feira, 23, à PF para depor.

O nome de Souza surgiu em um diálogo de 11 de abril de 2016 entre o ex-superintendente regional do Paraná e que estava lotado no Serviço de Vigilância Agropecuária no Porto de Paranaguá (PR) até a deflagração da operação, Gil Bueno de Magalhães, e um interlocutor identificado como Francisco e que representa a Cooperativa Agroindustrial Castrolanda, em Castro (PR).

Em um determinado momento da conversa, Francisco pergunta a Gil sobre o deputado:

"Francisco: Gil, aquele, aquele Sérgio Souza, pelo que me falaram, ele tá, ele tá a favor do PT nessa história do impeachment, impeachment?

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Gil: Hã han. Tá ele recebe, ele recebeu muito dinheiro do suspenso aí (em referência ao fiscal Daniel Filho, que na época havia sido suspenso devido a um processo administrativo no Ministério da Agricultura)

Francisco: Ah...ah, ele tá com o rabo preso

Gil: É (ininteligível) com ele é, entende?

Francisco: Humm

Gil: Então eu não sei o que ele vai

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Francisco: Tá louco, quem escapa hoje em dia não?

Gil: É, é complicado, tá?

Francisco: É"

 

 Foto: Estadão

O diálogo ocorreu na véspera da votação na Câmara sobre a continuidade do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). Na ocasião, o governo tentava conseguir os votos do PMDB, que foi eleito na chapa de Dilma e seu vice Michel Temer (PMDB) em 2014, mas acabou abandonando o governo na reta final do processo de afastamento da petista. No dia 17 de abril daquele ano, a Câmara aprovou, por unanimidade, a continuidade do processo de impeachment, que seguiu para o Senado.

Apesar das menções aos parlamentares, a PF não identificou suspeitas de crimes envolvendo os políticos com foro privilegiado. Desde novembro, a Procuradoria da República no Paraná compartilhou com o procurador-geral da República Rodrigo Janot os resultados dos grampos.

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Briga. Não é a primeira vez que o nome do deputado, que agora vai presidir a comissão responsável por discutir a política agrícola do País, é citado como relacionado ao fiscal preso na Operação Carne Fraca. Na terça-feira, 21, a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) afirmou da tribuna do Senado que foi pressionada no ano passado por Sérgio Souza e Serraglio para manter Daniel Gonçalves no cargo. Até o impeachment, a senadora era ministra da Agricultura no governo Dilma.

A versão vai de encontro aos diálogos interceptados pela PF na Carne Fraga. Em um deles, por exemplo, a chefe do Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal, Maria do Rocio afirma ao funcionário da Seara Flávio Cassou que Souza havia prometido "segurar, segurar, segurar", Daniel no cargo.

O diálogo ocorreu em 12 de abril de 2016, quando Flávio informou Maria sobre o afastamento de Daniel na época devido a um processo administrativo no Ministério.

"Flavio: Isso, é que agora ontem suspenderam e hoje exoneraram

Maria: Tá brincando

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Flávio: Foi ele, foi Tocantins, foi São Paulo. PMDB FOI TUDO. Dai eu queria saber com o deputado pra ver se precisa dar um toque, dar uma mexida, mexer na empresa, mas ele não me atende o desgraçado

Maria: Tá brincando".

Deflagrada na sexta-feira, 17, a Carne Fraca levou ao afastamento de 33 servidores da Agricultura após identificar que haveria um esquema de corrupção nas regionais do Ministério da Agricultura nos Estados do Paraná, Minas Gerais e Goiás.

Na lista de irregularidades identificadas pela PF estão o pagamento de propinas a fiscais federais agropecuários e agentes de inspeção para comercialização de certificados sanitários e aproveitamento de carne estragada para produção de gêneros alimentícios. Os pagamentos indevidos teriam o objetivo de atender aos interesses de empresas fiscalizadas para evitar a efetiva e adequada fiscalização das atividades, segundo a investigação.

Ronaldo Troncha, que trabalhou com o peemedebista entre abril de 2015 e outubro de 2016, também aparece na investigação da Carne Fraca e teria proximidade com Daniel Gonçalves Filho. Ronaldo teria recebido duas transferências de R$ 10 mil entre 2009 e 2011. O fiscal agropecuário nega que tenha cometido qualquer irregularidade.

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Atualmente, Daniel Filho, Maria do Rócio e Gil, que aparecem nos grampos, estão presos.

COM A PALAVRA, A ASSESSORIA DO PMDB: O PMDB não autoriza ninguém a falar em nome do partido e está à disposição da justiça para qualquer esclarecimento.

COM A PALAVRA, A JBS: "A JBS não compactua com qualquer desvio de conduta de seus funcionários e tomará todas as medidas cabíveis."

COM A PALAVRA, A CASTROLANDA:

"A Castrolanda tem entre seus principais valores a transparência e o diálogo divulgado entre o investigado e o representante da cooperativa é de caráter informativo da mudança na superintendência do MAPA. "

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COM A PALAVRA, O DEPUTADO SÉRGIO SOUZA:

Segundo o deputado, ele não sabia do processo administrativo de Gonçalves Filho e não recebia informação. "Não lembro se falei com o advogado do processo. Se foi, foi para tratar do processo administrativo dele". De acordo com o deputado, quando o fiscal recebeu a punição de 90 dias, ele teria ligado para dizer que a suspensão era uma perseguição política da ministra Kátia Abreu por conta da posição favorável de Sérgio Souza ao impeachment da presidente Dilma Rousseff(PT).

O peemedebista explica que á época do impeachment, o atual ministro da Justiça, Osmar Serraglio, e ele eram de um grupo antagonista ao formado pelos correligionários Kátia Abreu e Roberto Requião. Essa disputa política, pelo fato do apoio à cassação de Dilma, diz o deputado, teria resultado até no congelamento de suas emendas parlamentares empenhadas.

Embora confirme a "perseguição política" argumentada por Gonçalves Filho, o deputado afirma o aconselhou a procurar um advogado para resolver o problema da punição.

 
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