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Presidente afastado da Andrade cita amigo de Dilma em delação

No depoimento homologado hoje, Otávio Azevedo contou sobre envolvimento de Valter Cardeal

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Por Ricardo Brandt , Andreza Matais , Anne Warth e Julia Affonso
Atualização:

Otávio Marques de Azevedo foi preso em 19 de junho de 2015. Foto: Reprodução

 

A delação premiada dos executivos da Andrade Gutierrez vai detalhar o papel de Valter Cardeal, um dos homens de confiança da presidente Dilma Rousseff, no esquema de corrupção envolvendo obras do setor de energia. Diretor afastado da Eletrobrás, junto com Adhemar Palocci em julho de 2015, ele é funcionário da companhia de energia do Rio Grande do Sul desde a década de 70 e foi levado para o governo federal pela presidente, quando ela era ministra de Minas e Energia no governo Lula. Sempre foi considerado uma "xerife" na estatal energética, mandando indiretamente em todas subsidiárias.

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O nome de Cardeal apareceu na Lava Jato pela primeira vez na delação do empreiteira Ricardo Pessoa, dono da UTC, sobre os R$ 30 milhões de propina pagos em Angra 3. Pessoa, na época, citou que o comentário era que ele era "pessoa da Dilma".

Esse teria sido um dos motivos que levaram o governo a trabalhar nos bastidores pela retirada do processo envolvendo as obras de Angra 3 das mãos do juiz federal Sérgio Moro, que conduz os processos da Lava Jato em primeiro grau.

Cardeal também é figura chave, segundo investigadores da Lava Jato, para descobrir a propina paga nas obras de hidrelétricas, como Belo Monte e Jirau. Há ainda um projeto binacional com a Argentina, que envolve a Odebrecht - hidrelétricas Garambi-Panambi, parceria Eletrobrás e estatal argentina - que podem ter sua participação. Após a homologação da colaboração premiada, os executivos da Andrade partirão para a fase de detalhar as informações que prestaram.

O ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio Azevedo é um dos executivos do grupo que entregou esquema de corrupção no setor elétrico envolvendo superfaturamento em contratos envolvendo a construção da usina de Belo Monte e obras na usina nuclear de Angra 3.

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Cardeal foi presidente interino da Eletrobrás de 2007 a 2008. O diretor esta licenciado da Eletrobrás desde julho do ano passado. Em ligação interceptada pela Lava Jato, Cardeal e o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, então presidente da Eletronuclear, conversaram sobre a delação feita por Pessoa e combinaram uma ação para rebater as acusações.

"Tu sabe o que aquele filha da puta daquele Ricardo fez?", disse Valter Cardeal ao almirante, que foi preso no dia 28 de julho na fase Radioatividade da Lava Jato. "Não sei não. Não...", respondeu Othon Luiz. "Ele (Ricardo Pessoa) disse que nós...que a Eletrobrás né..que fez uma negociação intensa pra baixar 10%. E baixando 10%, então ele..que ele só aceitou 6 né! E que a diferença né..eumandei dar pro..pro..que eu mandei dá pro Vaccari!", respondeu Cardeal. Vaccari foi tesoureiro do PT até ser preso pela Lava Jato acusado de ser o operador do PT no esquema de corrupção na Petrobrás.

Na época, ele negou em entrevista ao Estado que tivesse combinado versão com o almirante. "Sou um homem de bem , nunca fiz nada errado na minha vida. Fui 46 anos do setor elétrico, sou diretor de empresas há quase três décadas. Estou em licença até que as investigações sejam concluídas." Sobre a obra de Angra 3, afirmou: "Nós participamos, sim, dos trabalhos sobre a questão da contratação das empresas que iriam montar Angra 3. Minha obrigação como gestor público, é aprofundar o conhecimento dos custos, reduzir custos, única e exclusivamente. Nada consta a minha pessoa, a não ser a minha intensa luta para reduzir custos. De 20% que acabou em 6%. Ele (Pessoa) inventou uma história para se vingar, porque essa redução de 6%, deu praticamente R$ 200 milhões de redução de custo." O Estado não conseguiu localizar Cardeal até o momento.

 

 

 

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