PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Notícias e artigos do mundo do Direito: a rotina da Polícia, Ministério Público e Tribunais

'Práticas emergenciais em que se usa o limite do limite da lei', diz Palocci sobre apoio a empresas

No interrogatório a que foi submetido pelo juiz federal Sérgio Moro nesta quinta-feira, 20, ex-ministro dos Governos Lula e Dilma disse que 'o governo, muitas vezes, salva empresas', mas em troca dizia 'olha, atenda o tesoureiro da campanha, atenda… veja se você pode ajudá-lo'

Foto do author Luiz Vassallo
Foto do author Julia Affonso
Por Luiz Vassallo , Ricardo Brandt e Julia Affonso
Atualização:

Antonio Palocci. Foto: Reprodução

Na audiência desta quinta-feira, 20, em que foi interrogado pelo juiz federal Sérgio Moro como réu em ação penal da Lava Jato, o ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda/Casa Civil) dedicou alguns minutos - até ser interrompido pelo magistrado - ao 'socorro' que o governo do ex-presidente Lula prestava a empresas.

PUBLICIDADE

"Foi assim, por exemplo, na crise de 2008 (segundo mandato do petista). O governo salvou empresas. O sr. vai falar 'isso é uma prática normal do governo?'. Eu digo não. São práticas emergenciais em que se usa o limite do limite da lei para salvar empresas e ativos do País. Então, nós fizemos, na construção civil, com redução de impostos e grandes ganhos para o País."

Nesta ação, Palocci tem a companhia, no banco dos réus, do empreiteiro Marcelo Odebrecht e do casal João Santana e Mônica Moura, estes marqueteiros das campanhas presidenciais de Lula (2006) e Dilma (2010/2014) - aquele, condenado a 19 anos e quatro meses de prisão, o casal a oito anos e quatro meses.

No interrogatório, Palocci respondia às indagações sobre seu suposto papel de captador de propinas milionárias da Odebrecht para abastecer o caixa do PT - uma planilha apreendida na empreiteira indica o repasse de pelo menos R$ 128 milhões para o codinome 'Italiano', que a força-tarefa da Lava Jato sustenta ser Palocci, o que ele nega taxativamente.

'Jamais faria isso, eu fui ministro da Fazenda', afirmou Palocci ao ser indagado sobre pagamentos na campanha presidencial de 2010.

Publicidade

Ele negou 'peremptoriamente' a Moro que tenha operado recursos de campanha no exterior.

Na audiência, seu advogado, o veterano criminalista José Roberto Batochio, fez a pergunta. "O sr. interferiu, gerenciou, administrou, autorizou qualquer pagamento na campanha de 2010 no exterior?" "Absolutamente não, digo de forma peremptória", respondeu Palocci.

Batochio insistiu. "Isso se aplica a João Santana, Mônica Moura ou qualquer fornecedor de qualquer campanha? Palocci foi incisivo. "Isso se aplica a João Santana, Mônica Moura. Eu nunca tratei onde seria pago , com ninguém, ninguém."

Os marqueteiros acabam de fechar acordo de delação premiada. Na segunda-feira, 16, Santana declarou ao juiz da Lava Jato que encontrou-se com Palocci no Palácio do Planalto, Lula presidente, e que o então ministro o apresentou à Odebrecht. Segundo ele, Palocci o informou que a empreiteira pagaria sua agência de publicidade no exterior.

"Eu não operava recursos de campanha", negou Palocci nesta quinta, 20. "De qualquer fornecedor, de qualquer campanha. Primeiro que eu nunca tratei onde seria pago. Então, esse assunto nunca apareceu para mim onde pagar." Então, aproveitou para falar sobre as relações do governo do PT com as empresas. "O governo, muitas vezes, salva empresas."

Publicidade

"Mas, sr. Palocci, isso não é objeto da acusação", interrompeu o juiz.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

O ex-ministro insistiu e aí revelou sua estratégia de defesa para justificar a proximidade com a empreiteira que escalou 77 executivos para delatar propinas pelo País afora. "É que nesse mesmo período, quero comparar porque nesse mesmo período a Braskem (braço petroquímico da Odebrecht) nos procurou para pedir apoio técnico. Se uma empresa pudesse pedir uma coisa nessa época era a Odebrecht. Ela tinha um relacionamento muito grande com o governo. Era uma época de crise. a Braskem estava quase quebrada."

Em outro trecho de seu relato, Palocci admitiu como fazia a abordagem. "Sempre dizia para o empresário: 'olha atenda o tesoureiro da campanha, atenda... veja se você pode ajudá-lo'", confessou o ex-ministro. "Evidentemente, eu pedia recursos para as empresas acreditando que ela iria tratar da melhor maneiro possível. Eu falava inclusive, 'olha, vou falar para o tesoureiro levar os recibos, os bônus para você contribuir', sempre falei nesses termos."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.