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Por 'ouro do tempo do Império', 25 mil pessoas caíram em golpe, diz PF

Operação Ouro de Ofir, da Polícia Federal, deflagrada nesta terça-feira, 21, mira estelionato milionário que atingiu vítimas em todo o país; investigadores acreditam que número de prejudicados pode ser bem maior do que o já identificado

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Por Luiz Vassallo
Atualização:

Ouro. Foto: Pixabay/Grátis para uso comercial

A venda de centenas de toneladas de 'ouro do tempo do império' e a recuperação de letras antigas do Tesouro Nacional serviram de pretexto para um golpe milionário aplicado em pelo menos 25 mil pessoas de todos os estados Brasileiros, segundo concluiu a Polícia Federal, no âmbito da Operação Ouro de Ofir, deflagrada nesta terça-feira, 21, em Brasília (DF), Goiânia (GO), Campo Grande (MS) e Terenos (MS). As investigações contaram com o apoio da Receita Federal e o Ministério Público Federal.

Segundo o inquérito, diversas narrativas foram inventadas pela suposta organização criminosa para ludibriar as vítimas. No entanto, apenas os crimes cometidos por intermédio de duas histórias são alvo da ação deflagrada nesta terça, 21.

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Uma delas se refere a uma família de Campo Grande (MS) detentora dos lucros sobre a venda de centenas de toneladas de ouro do tempo do Brasil Imperial (1822-1889), mas, para repatriar os valores obtidos com os lucros, alega ter um acordo com uma 'Corte Internacional', que coloca uma condição: 40% do montante que receberiam os herdeiros no Brasil teriam de ser doados a terceiros.

De acordo com as investigações, os supostos integrantes montaram um esquema em que escalavam 'correntistas' em todo o país para espalhar a falsa história e cooptar pessoas que quisessem ser os destinatários dos 40%, mas com uma condição: pagar, pelo menos, R$ 1 mil para obter uma cota, com uma promessa de retorno de um milhão de reais.

"Houve caso em que a pessoa fazia o contrato de R$ 1 mil e, só porque foi considerada pela pessoa que vendeu como 'confiável', eles aumentavam o retorno para 5 milhões. Eles faziam isso porque não pagariam o dinheiro de qualquer forma", afirma o delegado Cleo Mazzoti.

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Os integrantes do grupo, encabeçado empresário Celso Eder Gonzaga de Araújo, preso temporariamente nesta terça-feira, 21, teriam se utilizado de contratos com termos difíceis e estrangeirismos reconhecidos em cartórios sul-mato-grossenses e também fraudados documentos de bancos para dar ares de verossimilhança às suas narrativas. O nome dado pelos próprios investigados ao esquema era 'Operação Au Metal'.

Segundo os investigadores, em outro golpe, as vítimas davam valores em troca de uma comissão sobre a 'recuperação de antigas letras do Tesouro Nacional'. O esquema era o mesmo: em troca de quantias de, no mínimo, R$ 1 mil, eram prometidos às vítimas grandes lucros.

"Os investigados se utilizavam do processo de neolinguística. Uma vez que a pessoa era cooptada para essa modalidade, ela entrava com grupos de Whatsapp em que recebia mensagens como: 'você merece o dinheiro', 'esse dinheiro na verdade é uma benção', 'você merece ficar milionário' e os 'valores estão saindo nos próximos dias ou na próxima semana'. Sempre, na próxima semana, o valor ia sair. Quando chegava um momento em que ia sair, o administrador dos grupos dizia: 'O Banco Central.. Aconteceu algum problema... Na semana que vem, sai'", afirma o delegado da PF.

Segundo a Receita Federal, que também participou das investigações, 'com o objetivo de dar credibilidade e aparência de licitude à sua atuação, a organização criminosa utilizava-se da falsificação de documentos públicos federais, como do Banco Central do Brasil, e de outras instituições financeiras públicas e privadas'.

"Foi constatada ainda evolução patrimonial, em tese, fictícia. O patrimônio de um dos investigados saltou de R$ 11 mil para R$ 4 bilhões em apenas um ano", diz a Receita.

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O nome da operação faz referência a uma passagem Bíblica, na qual o ouro da cidade de Ofir era finíssimo, puro e raro, sendo o mais precioso metal da época. Ofir nunca foi localizada e nem o metal precioso dela oriundo.

COM A PALAVRA, ÉDER 

A reportagem não localizou a defesa do empresário. O espaço está aberto para manifestação.

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